Os efeitos da enchente de maio, que já haviam colocado Porto Alegre no topo das maiores variações inflacionárias do país, com 0,87%, agora também se refletem nos dados acumulados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E), que mede o comportamento dos preços no segundo trimestre de 2024.
Com base no IPCA-15 – considerado a prévia da inflação no Brasil – a Capital passou da segunda menor oscilação nos três meses iniciais do ano para a terceira maior elevação do Brasil, com 1,26% no acumulado do período encerrado em junho, acima dos 0,97% apurados no ano passado. Nos últimos 12 meses, esse índice acumula 3,89%, também superior aos dos 3,44% observados nos 12 meses imediatamente anteriores, mas abaixo da média nacional que foi de 4,06.
Na comparação, entre as 11 regiões avaliadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no primeiro trimestre, Porto Alegre detinha a segunda menor oscilação, com 0,85% até maio. Para se ter uma ideia, a diferença entre a capital gaúcha era de 1,48 pontos percentuais na relação com alta apurada em Belo Horizonte, que estava na primeira posição do ranking com 2,34%. Agora, Porto Alegre está somente 0,17 pontos percentuais atrás da capital mineira.
O economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS, Ely José de Mattos, explica que na passagem de maio para junho já é possível notar uma desaceleração no índice de Porto Alegre. O avanço de 0,41% no mês atual é inferior à metade dos 0,86% de maio, mas ainda acima da média nacional que ficou em 0,39%.
Segundo ele, se poderia esperar um efeito maior, uma vez que o indicador capta algo que já aconteceu, mas que que a maior proporção das dificuldades permanece em curso. Isso acontece, avalia Mattos, porque o Rio Grande do Sul, vivencia, atualmente, uma desorganização produtiva de proporção ampliada, que afeta a oferta de alguns produtos.
– Então, há muita coisa que serve como grande choque inflacionário esperado para esse momento e isso deverá ocasionar alguns repiques de pressão em itens pontuais – resume ao lembrar que o mesmo pode ocorre pontualmente em razão de alguns produtos como material de construção daqui para frente, mesmo que de maneira menos abrangente para a inflação.
Causa e efeito
Em razão da enchente, por um lado, Porto Alegre sente os efeitos acumulada no IPCA-E, que mede o desempenho do trimestre, de outro, o Rio Grande do Sul é apontado por analistas como uma das causas de pressão, sobretudo, no que se refere aos itens de alimentação.
Já era o que apontava, em maio, o economista-chefe da Suno, Gustavo Sung, ao elencar, a possibilidade do IPCA-15 nacional sofrer incremento de até 0,2 pontos percentuais em razão do evento climático no Estado. Com o dado consolidado, o economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), alerta que a pressão deve continuar por mais alguns meses com desdobramentos locais e nacionais.
– A tragédia afetou muitas culturas no Sul. Não bastasse isso, estamos passando por uma forte estiagem no Centro-Oeste e por aumentos sazonais nos preços de alguns alimentos como leite e café. Além do problema no RS, há outros efeitos que impedirão que os preços dos alimentos recuem a exemplo do que ocorreu em 2023 – explica.
Braz lembra que no ano passado os preços dos alimentos apresentaram queda por quatro meses consecutivos. Agora, comenta, a expectativa para a inflação dos alimentos no domicílio está em 6% para 2024.
Pressão duradoura
Entre as grandes variações verificadas na prévia da inflação na passagem de maio para junho no país estão o grupo dos alimentos com 0,98% e a habitação com 0,67%. Nos itens mais comuns da mesa dos brasileiros, e com impacto também na cesta básica está o arroz, com alta de 420% no país e 4,69% em Porto Alegre.
O cereal está no alvo da polêmica tentativa do governo feral em regular os preços no por meio de leilões para importação e tem um dos maiores impactos nos alimentos na capital gaúcha. Além disso, em Porto Alegre, no grupo Alimentação e bebidas (1,57%), a alimentação no domicílio acelerou de 1,48% em maio para 1,97% em junho. O leite longa vida, com aumento de 13,94%, teve o maior impacto individual sobre o índice do mês, com 0,13 p.p. do total de 0,41%.
Também contribuíram para o resultado as altas da alface (21,42%), da batata-inglesa (10,18%), do tomate (6,96%) e do frango em pedaços (2,87%). Por outro lado, há itens que contrapõem a evolução do item, caso dos Transportes (-0,14%), uma vez que sequer há disponibilidade integral para voos no Aeroporto Salgado Filho e os deslocamentos por ônibus ficaram prejudicados, seja em razão de problemas na rodoviária de Porto Alegre ou por avarias e bloqueios em estradas.
Nesse grupo, por exemplo, houve queda na passagem aérea (-9,62%) e no pedágio (-63,61%). Conforme lembra o economista Ely José de Mattos, houve questões pontuais de aumento da demanda nos combustíveis que levaram a um leve aumento de preços na gasolina (0,57%) e no transporte por aplicativo (11,44%).
As variações do IPCA-E em Porto Alegre por grupos
- Alimento e bebidas 3,36%
- Habitação 0,97%
- Artigos de residência -1,85%
- Vestuário 1,13%
- Transportes 0,22%
- Saúde e cuidados pessoais 1,80%
- Despesas pessoais 0,89%
- Educação 0,2%
- Comunicação 0,34%