O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá dedicar o fim de semana e a segunda-feira (8) para tratar da disputa de poder na Petrobras. Ministros foram alertados para ficar de sobreaviso para reuniões no sábado e no domingo, segundo o jornal Folha de S. Paulo.
Outro assunto a ser abordado seria a organização da equipe. Já outro encontro de Lula, na segunda, seria com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que está sob risco de ser substituído no cargo pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante.
Lula chegou a Brasília perto do fim da tarde de sexta-feira (5) depois de uma série de compromissos em Pernambuco e no Ceará. Ele estava fora da capital federal desde a manhã de quinta-feira. Esse retorno a Brasília gera expectativas de que haja definições sobre a Petrobras.
Prates tem sofrido ataques por parte de alguns integrantes do governo federal – entre eles, estariam os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa. Silveira e Prates estão em desentendimento desde o início da gestão atual.
Na quarta-feira, Silveira, Costa e o titular da Fazenda, Fernando Haddad, teriam definido o repasse de 100% dos dividendos extraordinários a acionistas estimados em R$ 43,9 bilhões. Esses dividendos ficaram retidos em decisão do conselho de administração da Petrobras em março, sob influência de conselheiros indicados por Silveira e Costa e sob argumentação de segurar os recursos diante do volume de investimentos necessários nos próximos anos. Prates defendia o repasse de 50% dos dividendos.
Uma reunião extraordinária do conselho de administração da Petrobras foi convocada na sexta-feira após Lula ter pedido o quanto é possível pagar aos acionistas – entre eles, o governo federal, que tem interesse nos recursos para ajudar a reduzir o déficit público. Prates teria faltado a esse encontro.
Reclamações
A queda de braço em torno da Petrobras se tornou pública, o que tem causado reclamações de Lula, pois a disputa desgasta a imagem do governo. Isso ocorre no momento em que o presidente busca pautas positivas e tenta recuperar a popularidade.
Em 11 de março, Lula recebeu Prates e o restante da direção da Petrobras para discutir os rumos da companhia. Costa e Haddad estiveram presentes. Na época, o presidente enfatizou que a empresa deveria considerar não apenas os interesses dos acionistas, mas principalmente os do povo brasileiro.
Com a possibilidade de Mercadante ocupar a presidência da Petrobras, a vaga no BNDES ficaria com o atual diretor de Planejamento do banco de fomento, Nelson Barbosa.
Mercadante se aproximou de Haddad e apoiou a manutenção da meta de déficit fiscal zero. Mas há outros nomes também cogitados para o comando da Petrobras, como técnicos do setor de óleo e gás e executivos, a exemplo de Magda Chambriard e Ricardo Savini, da 3R.
Também são citados auxiliares da Casa Civil, como Miriam Belchior e Bruno Moretti, além do ministro Rui Costa, e do secretário do Ministério da Fazenda Rafael Dubeux, indicado ao conselho de administração da companhia.
Preocupação com variação do preço das ações
O advogado Francisco Petros, integrante do Conselho de Administração da Petrobras e representante dos acionistas minoritários, mostrou preocupação em relação à variação do preço das ações que a empresa vem tendo por conta da disputa de poder envolvendo a estatal.
— A volatilidade de ações tem preocupado muito. O nível de risco da companhia instantaneamente muda — afirmou o conselheiro.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu procedimento para apurar essa oscilação de preço e a circulação de notícias envolvendo possível saída do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. No procedimento, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, serão avaliadas notícias, fatos relevantes e comunicados relacionados ao assunto.
A CVM confirmou a abertura do procedimento, mas não forneceu mais informações. Na avaliação do ex-presidente da Petrobras Roberto Castello Branco, os ruídos e as tentativas de intervenção na estatal são negativos e esse cenário só será eliminado com a privatização da companhia.
— Seja o governo A, B ou C, existe uma tentação enorme em se intervir na Petrobras — disse o executivo, que foi presidente na gestão de Jair Bolsonaro, em entrevista à GloboNews.
Castello Branco também afirmou que a atual política de preços já se mostrou prejudicial:
— Ela não é boa para a sociedade brasileira, porque a empresa perde sua capacidade de investimento, perde sua capacidade de distribuir dividendos, e não vamos esquecer que 37% destes dividendos vão para o Tesouro Nacional.