Diante de menores pressões na economia, a abertura de empresas avançou na arrancada do ano no Rio Grande do Sul. O total de novos negócios constituídos cresceu 12,2% no Estado no primeiro bimestre de 2024 ante igual período de 2023. Os dados fazem parte de levantamento da Junta Comercial, Industrial e Serviços do Rio Grande do Sul (JucisRS).
A melhora em indicadores como inflação e juro e um ambiente com maior atratividade para investimentos ajudam a explicar esse movimento, segundo especialistas.
No acumulado de janeiro e fevereiro deste ano, o Estado registrou a abertura de 44.240 empresas. São 4.809 negócios a mais do que o observado no mesmo período de 2023. Dentro do total de 2024, os ramos de microempreendedor individual (MEI) e de sociedade limitada, conhecido como Ltda, têm destaque.
A presidente da JucisRS, Lauren Momback, afirma que o aumento na constituição de empresas no RS é uma resposta a uma série de estímulos. Entram nesse ambiente economia estável e com menos incertezas e atração de novos negócios no Estado nos últimos anos, segundo a dirigente:
— O trabalho das secretarias vem trazendo grandes empresas para investirem aqui no Rio Grande do Sul. Isso acaba também fazendo todo um movimento de abertura de novos negócios, que buscam vender para essas companhias que escolhem se instalar aqui no Estado.
Além desse fator, segue em ação um movimento de desburocratização e digitalização na abertura de empresas no Estado, conforme Lauren. Nesse sentido, ela destaca ferramentas como o Tudo Fácil Empresas, programa que acelera as etapas, simplificando o processo para quem quer empreender.
Mudança
O professor Marcos Lélis, da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos, afirma que o ambiente econômico do país é diferente do cenário observado no início do ano passado. Nos primeiros meses de 2023, a economia seguia travada por juro no pico da alta e inflação ainda no início de queda. Desde a segunda metade de 2023, os preços, principalmente dos alimentos, apresentaram desinflação e o juro segue em trajetória de corte. Diante disso, a renda média da população teve espaço para melhorar, o que afeta o ambiente de negócios, segundo Lélis:
— Isso acaba tendo um reflexo na geração de empresas, porque você tem consumo aumentando, com a renda das pessoas maior. Isso melhora o ambiente de negócios e a constituição de novas empresas.
Lélis diz que, com base no consumo das famílias, o cenário no momento é melhor para empreendimentos em setores como serviços e comércio. Análise da JucisRS corrobora a avaliação do professor. Separando os dados apenas pelos ramos centralizados no âmbito estadual, sem levar em conta MEIs, os setores de serviços e comércio lideram a criação de empresas.
Olhando a outra ponta, a extinção de CNPJs também apresentou alta, mas o número absoluto segue abaixo do total de constituições, o que garante saldo positivo na geração de estabelecimentos.
Avanço das empresas de menor porte
Os dados da Junta Comercial mostram que o avanço dos novos negócios no Estado é bancado, principalmente, por empresas de porte menor, segundo a presidente do órgão, Lauren Momback. As MEIs respondem por 80,3% das aberturas no início de 2024. Já as Ltda ocupam parcela de 17,5% do total.
O processo de constituição de MEIs é centralizado pelo governo federal. Portanto, a JucisRS não tem muitos detalhes para analisar o movimento desses empreendedores. No entanto, Lauren afirma que esse grande volume pode ocorrer diante da facilidade no processo que envolve a criação de MEIs e necessidade de mínimo de formalização e renda.
Na parte das limitadas, a presidente do órgão afirma que, além do ambiente econômico e das facilidades para registrar uma empresa, a ampliação do público que se encaixa nesse modelo impulsionou a procura pelas Ltda:
— Hoje, temos a limitada unipessoal. Tinha a Eireli (empresa individual de responsabilidade limitada), que foi extinta, e foi criada a possibilidade de ter uma limitada com um único sócio. Isso facilitou muito esse aumento de abertura de Ltda.
Expectativa para 2024
No ano passado, a abertura de empresas fechou com certa estabilidade, com leve recuo de 0,15% ante 2022. Agora, com os números do início do ano mostrando avanço, especialistas mostram certo otimismo para a geração de novos negócios em 2024.
O professor Marcos Lélis, da Unisinos, projeta continuidade desse movimento positivo na abertura de empresas nos próximos meses. Além de economia menos pressionada por inflação e juro, o cenário deste ano conta com menos incerteza na comparação com a primeira metade de 2023:
— A gente tem uma melhora significativa e esse ambiente deve continuar aos poucos no primeiro semestre, principalmente quando a gente compara com a primeira metade de 2023. Porque naquela época ainda tinha uma certa incerteza, com mudança de governo, de política econômica.
A presidente da JucisRS, Lauren Momback, estima cenário positivo para a criação de novas empresas no Estado ao longo de 2024. Ela atribui esse otimismo a uma série de fatores, como avanço na desburocratização, com uso de inteligência artificial, licenciamentos mais ágeis e atração de empresas:
— A Secretaria de Desenvolvimento Econômico está com muitos projetos para trazer investimentos internacionais para o RS. Acho que, nesse ano de 2024, vamos ter números bem expressivos de toda ordem, de desenvolvimento, abertura de empresas, de carteiras de trabalho.
Os principais tipos de empresa no levantamento
MEI
Criado em 2008, o modelo de microempreendedor individual (MEI) permite a formalização de negócios de pequeno porte com simplificação nos trâmites e na tributação. O processo de abertura é centralizado e organizado pelo governo federal. O microempreendedor pode faturar, no máximo, R$ 81 mil por ano.
Ltda
As sociedades limitadas são companhias compostas por uma ou mais pessoas, físicas ou jurídicas. O capital é dividido em cotas e a administração pode ser exercida por sócio ou não-sócio, devidamente nomeados.