Depois de uma sequência de ascensão desde o começo da pandemia até 2022, seguida de retração nas vendas no ano passado, o setor da construção civil em Porto Alegre aposta nos efeitos do ciclo da redução dos juros para novos avanços.
Outro aspecto também contribui para formação de um panorama de otimismo. A retomada e as novas condições do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) ajudam a recuperar o mercado de baixa renda.
A quantidade de unidades vendidas na capital gaúcha passou de 3.705, em 2020, para 5.436, em 2022. No ano passado, recuou para 4.877. Em valores, houve crescimento de 103,6% no período de 2020 a 2022, quando saiu de R$ 2,8 bilhões para R$ 5,7 bilhões. Porém, em 2023, houve recuo para R$ 4,8 bilhões - queda de 15,8%. Os dados são do Sinduscon- RS, principal entidade do setor no Estado.
Em movimento similar, o estoque de imóveis em Porto Alegre também avançou durante os anos de 2020 a 2022 e caiu no ano passado.
Entre os fatores que moldaram o cenário em 2023 estão a menor disponibilidade de recursos da poupança para o financiamento habitacional e crédito mais caro e restritivo, lista o presidente do Sinduscon-RS, Claudio Teitelbaum. A taxa Selic, índice balizador das operações de crédito, chegou a 13,75% até agosto passado, quando foi iniciado recuo gradativo. Atualmente está em 10,75% ao ano. Esse movimento, segundo Teitelbaum, deve melhorar o acesso ao crédito para rendas médias, o que tende a trazer de volta ao mercado os investidores interessados em maiores ganhos de capital, antes com recursos retidos em renda fixa.
O dirigente ainda antecipa que a entidade finaliza uma pesquisa, que será publicada na primeira semana de abril, para averiguar as impressões do mercado. Segundo ele, a sondagem deverá confirmar a sensação de otimismo que paira sobre o setor.
Baixa renda no ritmo do Minha Casa Minha Vida
O redesenho de tetos para as faixas de renda dentro do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) e o chamado RET, que é a redução da tributação para clientes da faixa 1, tende a fazer com que a rentabilidade das incorporadoras melhore e ajuda a elevar o apetite por novos lançamentos. Essa avaliação é feita pelo diretor-comercial da MRV, Ítalo Pita.
Segundo ele, a empresa, que investiu R$ 350 milhões no RS em 2023, está preparada para 2024. E, pensando no público do programa habitacional federal, prepara- se para entregar o Porto Santiago. O empreendimento fica a poucos metros da Avenida Protásio Alves, na Capital, e é um dos lançamentos previstos. Ao lado do Porto Los Andes, o condomínio está em fase de conclusão: dois blocos já foram entregues e o último está em finalização.
— Já tivemos mais dois lançamentos este ano, o Porto das Araras, parte de um grande loteamento na Restinga, e o Porto Bremen, em Novo Hamburgo. Estamos prevendo ainda mais novidades, concentrando esforços nas cidades em que já estamos presentes.
Fluidez
Segundo ele, a redução dos juros influencia as opções fora do MCMV, que sofrem mais interferência da Selic. Menores taxas, acrescenta, geram crédito mais acessível no mercado, as pessoas têm predisposição para fazer os investimentos e, automaticamente, a empresa fica mais leve:
— O país como um todo gira de forma mais fluida. Com a MRV não é diferente, acho que a gente consegue ter negociações melhores de terreno, o landbank (aquisição de terras ou terrenos) começa a ser mais aquecido, a compra fica mais desafogada, fazendo com que também os preços na ponta tenham um affordability (uma acessibilidade) um pouco melhor.
Alto padrão aquecido
Na construtora e incorporadora Melnick, o volume de vendas, em 2023, cresceu significativamente e a tendência, aponta o vice-presidente de Operações da empresa, Marcelo Guedes, é de melhorias este ano.
Uma das apostas para isso é o Nilo Square. Localizado na Avenida Nilo Peçanha, na capital gaúcha, o empreendimento conta com um conceito inédito na cidade. São duas torres, que reúnem um complexo multiuso de hospedagem, moradia e workplace com operação customizada e um hotel butique tecnológico.
Ao identificar aumento da procura na baixa renda, Guedes avalia que o cenário continuará aquecido no mercado de alto padrão. As projeções partem de três anos consecutivos com o Produto Interno Bruto (PIB) em crescimento, taxas de desemprego próximas das baixas históricas, ganhos de rendimento médio real e juros em redução.
O DESEMPENHO
O ano de 2023 interrompeu o ciclo de alta em Porto Alegre
Estoque, em unidades
2020 - 6.384
2021 - 6.686
2022 - 6.868
2023 - 5.110
Estoque, em valor geral de vendas
2020 - 5,60 bilhões
2021 - 6,80 bilhões
2022 - 7,70 bilhões
2023 - 7,11 bilhões
Vendas, em unidades
2020 - 3.705
2021 - 4.383
2022 - 5.436
2023 - 4.877
Vendas, em valores
2020 - 2,80 bilhões
2021 - 3,90 bilhões
2022 - 5,10 bilhões
2023 - 4,80 bilhões
FONTE: Sinduscon-RS