Após queda em 2022, a venda de veículos ovos apresentou retomada de fôlego no Rio Grande do Sul no ano passado. O emplacamento de automóveis e comerciais leves zero cresceu 16,27% em 2023 ante o ano anterior no Estado. Os dados são da Fenabrave/Sincodiv-RS, entidade que representa concessionárias e distribuidoras. Programa de incentivo do governo federal, início da queda do juro e comparação com uma base mais fraca são alguns dos fatores que ajudam a explicar a variação positiva, segundo especialistas e integrantes do setor. Para 2024, projetam fechamento positivo com Selic menor e economia estável.
Em 2023, o Rio Grande do Sul registrou 108.393 emplacamentos de automóveis e comerciais leves. Foi a primeira vez que as vendas ultrapassaram as 100 mil unidades nos últimos três anos. Em 2022, esse indicador ficou em 93.228. A alta observada no Estado acompanha o movimento nacional, mas em ritmo mais acelerado. No país, os emplacamentos dessa categoria avançaram 11,33%.
O presidente da Fenabrave/Sincodiv-RS, Jefferson Furstenau, afirma que a alta do setor responde a uma série de movimentos, como programa de incentivo do governo federal e juro mais baixo. Como o setor concentra boa parte das vendas no crédito, a redução das taxas é importante para aumentar o número de clientes com potencial de compra:
— Teve aquela intervenção do governo, com redução de impostos temporária, que ativou o mercado. A taxa Selic baixando também permite um juro menor e aquece o mercado. O automóvel é muito dependente do financiamento.
As duas medidas citadas pelo presidente da Fenabrave/Sincodiv-RS ocorreram a partir da metade do ano. Em junho, o governo federal lançou programa previa desconto de R$ 2 mil até R$ 8 mil no preço final de carros de até R$ 120 mil. A primeira fase da ação disponibilizou R$ 500 milhões para vendas para pessoas físicas. Em seguida, o governo ampliou a ação para pessoa jurídica, mas os recursos esgotaram rapidamente. Já o primeiro movimento de corte na Selic foi registrado em agosto.
Além desses dois movimentos, Furstenau afirma que o Estado vinha de uma trajetória que não acompanhava o cenário nacional. Com isso, criou espaço para atender a uma demanda deprimida em ambiente tributário menos diferente.
O dirigente afirma que o setor ainda está muito longe dos números de vendas observados há uma década, mas salienta o movimento positivo do ano passado. No momento, a transição de tecnologia e o fim dos carros populares são alguns dos fatores que ainda ancoram as vendas, segundo o dirigente.
Crédito ensaiando melhora
O economista Raphael Galante, da Oikonomia Consultoria Automotiva, afirma que maior liberação de crédito, com inversão na Selic e melhoria na avaliação, é um dos principais fatores que explicam a alta nas vendas. De janeiro a novembro, R$ 191 bilhões em créditos foram liberados para aquisição de veículos no país, que já faz dessa cifra o recorte histórico no indicador. Com o dado de dezembro, que ainda não foi divulgado, esse valor deve subir para cerca de R$ 210 bilhões, segundo o consultor.
— Nunca se teve tanta liberação de crédito. O crédito foi o principal fator que alavancou o setor. E entra toda a questão do cenário, a redução da taxa de juro e a melhora do rating.
No entanto, Galante afirma que, mesmo com avanço na liberação, o crédito segue com freio de mão puxado por que os bancos “estão reticentes”, abrindo novas linhas aos poucos, esperando cenário mais estável da economia e da organização financeira dos consumidores.
No Rio Grande do Sul, o Chevrolet Onix foi o automóvel zero mais vendido em 2023 com 5.940 unidades emplacadas. Na parte dos comerciais leves, a Fiat Strada lidera o ranking, com 5.325 unidades.
Tendência de alta em 2024
Especialistas e integrantes do setor projetam avanço na venda de veículos novos em 2024. Isso ocorre diante do juro mais baixo com a manutenção dos cortes na Selic previstos para este ano.
O presidente da Fenabrave/Sincodiv-RS afirma que o setor, levando todos os segmentos em conta, deve crescer cerca de 10% neste ano no Estado. O avanço projetado é importante, porque ocorre sobre uma base mais forte, segundo o dirigente. Furstenau afirma que ambiente melhor para financiamentos é um dos fatores que bancam esse otimismo:
— Temos hoje um dólar praticamente estável, tem um leve início de redução no preço do automóvel e promoções. Existe um maior acesso a financiamentos, com uma flexibilização nas linhas de crédito por parte dos bancos. Tem também uma taxa de juros menor e hoje não temos mais problemas de produção.
O economista Raphael Galante, da Oikonomia Consultoria Automotiva, cita o apetite das empresas de locação de veículos nessa estimativa de alta nas vendas. Essas companhias costumam realizar comprar sazonais, que ajudam a impulsionar o setor de veículos zero:
— Provavelmente em 2024 as locadoras vão continuar em um ritmo muito forte porque essas empresas precisam renovar a frota.
Ramo de seminovos também apresentou alta
O setor de veículos seminovos e usados fechou 2023 com alta de cerca de 10% nas vendas de automóveis e comerciais leves no Rio Grande do Sul, segundo dados da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto).
No ano passado, foram comercializados 840.041 veículos seminovos e usados no Estado — 73.690 a mais do que o montante observado em 2022. O presidente da Associação dos Revendedores de Veículos Automotores do Rio Grande do Sul (Agenciauto/Fenauto-RS), Rodrigo Dotto, afirma que, mesmo abaixo do esperado, o ano do setor foi bom diante das adversidades enfrentadas. Taxa de juro e dificuldade de aprovação de compras foram os dois fatores que impediram avanço maior do ramo no ano passado, segundo o dirigente. Para 2024, também projeta resultado melhor com juro mais baixo e mudanças nas revendas:
— As lojas de seminovos estão cada vez se profissionalizando mais. Tem uma evolução no atendimento, na segurança, na qualidade dos produtos, na garantia, na agilidade.