Reflexo da disparada na busca por painéis fotovoltaicos observada nos últimos anos, a capacidade de geração de energia solar segue em expansão no Rio Grande do Sul. Levando em conta dados até novembro, a potência instalada do setor cresceu 29,38% neste ano no Estado na comparação com o final de 2022. Especialistas e integrantes do ramo afirmam que parte do aumento da estrutura ainda é uma resposta ao grande número de novas adesões durante o período com incentivo do governo federal. Por outro lado, dados mostram queda em novos pedidos de conexão. Fontes afirmam que esse movimento é natural em um ambiente de acomodação após picos observados em um passado recente.
Até novembro deste ano, a capacidade instalada de energia solar no Estado somava 2.560,45 megawatts (MW). No fim do ano passado, estava em 1.978,99 MW, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). A potência instalada é a capacidade que o sistema tem de gerar energia e entregar aos usuários ligados à rede. O Estado segue na terceira colocação no país nesse quesito, atrás de São Paulo e Minas Gerais. Já o número de unidades consumidoras recebendo créditos avançou 28,68% no período.
A coordenadora estadual da Absolar no Estado e sócia da Solled Energia, Mara Schwengber, afirma que o setor vive uma espécie de acomodação neste ano. Parte da demanda observada em 2023 ainda é reflexo do grande volume de pedidos realizados antes do fim do subsídio que garantia vantagens para usuários que entrassem no sistema até janeiro.
— A gente teve um impacto, principalmente no início do ano, daquilo que a gente chama de antecipação de demanda, que não são de novos projetos — explica.
Mara afirma que o setor seguirá crescendo, mas em ritmo menor ante o observado nos últimos anos, caminhando para uma fase de maturidade. Olhando a expansão ano a ano é possível observar esse movimento (veja no gráfico abaixo).
Edilson Deitos, coordenador do Grupo Temático Energia e Telecomunicações do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), afirma que o setor não passa por uma crise, mas sim por uma normalização. Ele também cita ambiente de estabilidade após aceleração acima da média no ano passado:
— O salto do ano passado foi fora da curva. Nós atingimos índices de instalação em função de um subsídio que os demais consumidores estão pagando. Teve essa corrida. Muitos projetos que estavam aprovados no ano passado aconteceram nesse ano.
A isenção de taxas pelo custo de distribuição até 2045 para consumidores interessados em realizar a própria geração de energia acabou no início de janeiro deste ano.
Novos pedidos em queda
Um dos sinais dessa acomodação citada por especialistas e integrantes do setor é o ritmo de solicitações de novos projetos de geração distribuída (GD). Na área de concessão da RGE, houve uma queda de 61% no número de solicitações no acumulado de janeiro a novembro ante o mesmo período do ano passado.
Na área da CEEE Equatorial, a empresa recebeu 14.994 pedidos de análise de conexão de sistemas fotovoltaicos de geração distribuída no acumulado de janeiro a novembro de 2023. Esse montante é 20,48% menor do que o observado no mesmo período de 2022.
— Vamos pensar assim, todo mundo que talvez estivesse pensando em fazer investimento no primeiro semestre deste ano e teve a oportunidade de antecipar, fez isso até 7 de janeiro. Teve um aumento significativo dessa antecipação de demanda. Por isso, teve essa redução nos novos pedidos de conexão — explica a coordenadora da Absolar.
Segundo a entidade, algumas distribuidoras de energia elétrica seguem descumprindo o regramento legal para os pedidos de conexão de sistemas fotovoltaicos na geração distribuída, o que trava o processo. As companhias estariam usando o argumento de inversão de fluxo na rede sem apresentar detalhes.
Sobre esse tema, a RGE informou que “cumpre rigorosamente o que é determinado pela legislação setorial”. Já a CEEE Equatorial apontou que realizou 21 mil análises de pareceres de acesso, que resultaram na conexão de 17,8 mil novos clientes nos últimos 12 meses. A empresa também afirmou que segue “rigorosamente o que determina a legislação pertinente” no âmbito das conexões que requerem estudos de fluxo de potência.
Mercado ainda aquecido
Integrantes do setor afirmam que, mesmo com arrefecimento no número de novos pedidos e o setor caminhando para uma normalização de demanda, o ramo de energia solar segue com potencial para negócios e empregos. Isso porque é necessário garantir serviço de manutenção e atualização nessa rede de clientes que cresceu exponencialmente nos últimos anos.
— Se a cada ano estava adicionando dezenas de milhares de unidades consumidoras gerando energia, isso precisa de manutenção. Se não for feita a limpeza correta do equipamento, ele vai perder performance, produção. É preciso fazer revisões também — explica a sócia da Solled Energia e coordenadora da Absolar.
Edilson Deitos também cita esse movimento, destacando a expansão de postos de abastecimentos de veículos elétricos, que devem impulsionar os serviços ligados ao mercado de energia solar.
O empresário Vinicios Morés Savaris, 33 anos, franqueado da rede de barbearias La Mafia, é um dos clientes que resolveu expandir o investimento em energia solar. A unidade da barbearia, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, conta com painéis desde 2020. Na semana passada, foi concluída a instalação de mais placas para aumentar a capacidade de geração no negócio. Savaris afirma que o sistema está suportando bem a demanda da empresa e se diz satisfeito com o investimento. Inclusive, estuda novo aporte em um futuro próximo:
— Minha ideia é futuramente, talvez no ano de 2024, fazer um novo investimento de uma nova usina para complementar e pagar 100% da minha energia.
Savaris afirma que a aquisição de uma usina com porte maior também mira o planejamento de abertura e nova empresa, que seria abastecida por essa ampliação de painéis.
Outros dados do ramo
- A energia solar é responsável por 22,6% da potência instalada do Estado, atrás apenas da fonte hidrelétrica, segundo levantamento da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Estado, com base em dados da Aneel .
- Já pelo lado da energia produzida, a fotovoltaica fica em quarto lugar, com 12,6% do total gerado no RS.
- Desde 2012, a geração própria de energia solar provocou a atração de mais de R$ 13,1 bilhões para o Estado, segundo informações da Absolar.
- A associação afirma que o setor contou com a geração de 75,6 mil empregos no mesmo período.