Após retomar fôlego recentemente, a indústria gaúcha voltou a patinar. A produção do setor caiu 5,4% em setembro no Rio Grande do Sul. Com o recuo, o segmento inverteu o cenário de alta observado em agosto, quando interrompeu sequência de quedas ao anotar avanço também de 5,4% — número revisado nesta quarta. Os dados fazem parte da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) Regional, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na manhã desta quarta-feira (8).
Com a nova queda, a indústria segue com trajetória oscilante no mês a mês, com seis baixas e três altas em nove meses. No ano, o setor acumula queda de 5,1%. Em 12 meses até setembro, o patamar também é de baixa, encolhendo 4,3%.
O analista da pesquisa do IBGE, Bernardo Almeida, afirma que o resultado negativo do Estado em setembro é explicado em parte pelos efeitos dos eventos climáticos que atingiram o Estado na época, com destaque para os temporais. A alta na precipitação afetou alguns segmentos, revertendo a alta observada no mês passado, segundo o pesquisador:
— Observamos a indústria gaúcha com uma queda que passa muito pela atuação, pelo baixo desempenho do setor de alimentos, de produtos de fumo e derivados do petróleo. O que caracteriza esse movimento negativo no mês é o volume excessivo de chuva, que atrapalhou bastante a produção industrial, principalmente no segmento de alimentos.
O economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Giovani Baggio, também reforça o peso das cheias na produção de setembro. Baggio afirma que a soma desse fator com outros, como juro elevado e menos dias de produção, ajuda a explicar a queda:
— A gente tem uma série de elementos que já vinham dificultando a produção da indústria e continuaram presentes em setembro, mas também teve a questão das enchentes e de menos dias úteis no mês, que jogaram um balde de água fria naquele pequeno resultado positivo de agosto.
Olhando o acumulado do ano, fabricação de produtos de metal, metalurgia e o segmento ligado a derivados do petróleo e de biocombustíveis concentram as maiores quedas dentro da indústria no Estado. Baggio afirma que esses movimentos seguem ocorrendo em razão do juro alto, crédito limitado e incerteza em relação a questões fiscais. No ramo de petróleo, tem a parada na Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, no início do ano.
Próximos meses
Divulgado na terça-feira (7), o Índice de Desempenho Industrial (IDI-RS), pesquisado pela Fiergs, caiu 2,6% em setembro, reforçando o cenário complicado do setor. O indicador é obtido por meio de diversas variáveis como faturamento, compras, massa salarial e utilização da capacidade instalada.
O economista-chefe da Fiergs afirma que os últimos dados do setor e movimentos da política fiscal não criam ambiente de otimismo para os próximos meses. Novo aumento dos estoques de produtos finais nas indústrias, cenário externo tímido e flertes do governo federal com eventual não cumprimento da meta fiscal, que afeta a política monetária, aumentam a incerteza dos empresários, segundo o especialista:
— As condições de crédito não estão favoráveis, tem uma série de incertezas e externas. Então, o que o empresário vai fazer? Ele não vai investir. Vai esperar até ter uma situação mais clara para fazer qualquer movimento. Isso continua atrasando o início de uma retomada.
País
Em setembro, a produção industrial brasileira apresentou certa estabilidade ao avançar 0,1%. Abrindo os dados por regiões pesquisadas, foram registradas altas em cinco dos 15 locais investigados pela pesquisa.
Os maiores avanços foram registrados no Pará (16,1%), Rio de Janeiro (3,1%), Ceará (2,2%) e Paraná (1,8%). Na outra ponta, São Paulo, apresentou recuo de 1,1%, enquanto Pernambuco anotou a maior queda individual, com taxa de -12,8%.