O recuo do desemprego no país ao menor nível para o período desde 2014 responde como uma tomada de fôlego para o mercado de trabalho brasileiro. Os dados do segundo trimestre ainda não chegam ao patamar dos melhores resultados obtidos nos primeiros anos da década passada (2012, 2013 e 2014), mas sinalizam boa perspectiva.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgada pelo Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (28) mostrou que a taxa de desocupação recuou para 8% no segundo trimestre de 2023, abaixo dos 8,8% do trimestre imediatamente anterior, e mais de um ponto percentual inferior ao mesmo período do ano passado, quando chegava a 9,3%.
A população desocupada, de 8,6 milhões, caiu nas duas comparações: -8,3% (menos 785 mil) frente ao trimestre anterior e -14,2% (menos 1,4 milhão) no confronto anual.
Pesquisador do IBGE e coordenador da Pnad Contínua no Estado, Walter Rodrigues cita como ponto de destaque o fato de que houve não só redução na taxa de pessoas desempregadas, mas também um aumento da população ocupada no trimestre (1,1 milhão de pessoas a mais, para 98,9 milhões no total). Ou seja, parte dos desocupados (que poderiam ter desistido de trabalhar) conseguiu colocação no mercado.
— É um resultado bem positivo porque no início do ano estávamos em patamar de recessão, com os juros altos. Mas olhando os setores da economia, de uma forma geral, todos, exceto a indústria, têm desempenho positivo até maio. E o emprego responde a isso — diz Rodrigues.
Rodrigo Kirsch, 32 anos, é um exemplo. O arquiteto faz parte do contingente que conseguiu recolocação no mercado formal de trabalho nos últimos meses. A contratação em uma empresa de construção de arquitetura modular com unidade em Porto Alegre veio após quase dois anos desempregado. Antes, trabalhava em outra empresa do ramo que teve as atividades encerradas durante a pandemia.
No hiato entre uma vaga e outra, fez trabalhos freelancers para se manter, e chegou a buscar nova formação para ampliar o leque de oportunidades. A contratação, agora, ressignificou a relação com a profissão inicialmente escolhida.
— Estava bem complicado buscar colocação. Tanto na área civil quanto na nova profissão que estava tentando. Via muitas oportunidades de “freela”, e muito pouco para CLT. E quando alguém conseguia trabalho, era muito por indicação. Reaprendi a gostar da profissão que acabei escolhendo, porque estava desacreditado. Me deu uma sobrevida — diz Kirsch sobre o novo emprego.
O pesquisador do IBGE lembra que o resultado entre trimestres reflete um comportamento sazonal. O período de abril a junho tradicionalmente costuma ser mais aquecido do que a largada do ano. Mas, quando se faz a comparação com o mesmo trimestre de 2022 (ano que já era considerado de recuperação da economia), a queda expressiva na população desocupada reforça o bom resultado.
— Nessa comparação anual, é um resultado que dá boa perspectiva. Cresceu o número de pessoas trabalhando e teve aumento do rendimento médio (+6,2%), que é o poder de compra das pessoas. Isso tudo é mais dinheiro circulando na economia. É o motor — analisa Rodrigues.