O Rio Grande do Sul mais contratou do que demitiu no primeiro semestre de 2023 no âmbito do mercado de trabalho formal. O Estado acumula abertura de 53.315 vagas com carteira assinada na primeira metade do ano. O resultado ocorre mesmo após o fechamento de 211 postos em junho — segundo mês com resultado negativo na geração de emprego no Estado. Os dados fazem parte do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho no início da tarde desta quinta-feira (27).
O saldo do Caged mostra o resultado entre contratações e demissões. No primeiro semestre, o Estado anotou 763.996 admissões e 710.681 desligamentos. O Caged reúne apenas dados do trabalho formal e as informações são atualizadas mensalmente. Isso pode provocar ajustes nos montantes divulgados em meses anteriores e, consequentemente, nos acumulados de cada período.
Em movimento nos mesmos moldes da média nacional, a abertura de vagas no acumulado do ano no Estado também ocorre em ritmo mais lento na comparação com o mesmo período de 2022, quando foram criados 75.365 postos.
Lisiane Fonseca da Silva, economista que atua na área do mercado de trabalho e é professora da Universidade Feevale, afirma que efeitos climáticos, como estiagem e volume de chuva elevado, além de juro alto, explicam a perda de ritmo em setores importantes, como agropecuária e indústria. O mercado de trabalho também passa por um período de acomodação. Esse processo ocorre após o pico nas contratações na saída do período mais crítico da pandemia, segundo a docente:
— Se fosse comparar com uma corrida, é como se o período pós-pandemia fosse a largada. E agora a gente está naquele período pós-arranque, de manter o ritmo para sustentar o que ganhamos. É um movimento mais normal.
No Estado, o setor de serviços concentra mais da metade dos postos gerados no ano, com a abertura de 30.655 vagas. Na sequência, aparecem indústria (20.557) e comércio (1.900). A agropecuária é o único dos grandes ramos pesquisados com resultado negativo, fechando 487 vagas no ano.
O economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank, também destaca a desaceleração na criação de vagas com carteira nesse primeiro semestre. O especialista ressalta o peso do juro alto nos investimentos das empresas e do menor apetite do mercado externo, que freia, principalmente, o ritmo da indústria. Sobre a dianteira de serviços no ano, Frank afirma que, além da continuidade da recuperação do setor, mesmo que em ritmo menor, o efeito menos incisivo do juro elevado no ramo também pesa nessa resiliência:
— A necessidade de financiamento via crédito para a indústria, que tem uma cadeia econômica longa, é maior na comparação com serviços. Isso também acaba pensando nessa dinâmica.
Brasil
O Brasil também fechou o primeiro semestre deste ano com saldo positivo na geração de emprego formal. No recorte de junho, ao contrário do Estado, a média nacional anotou saldo positivo. Com a criação de 157.198 vagas no mês passado, o país gerou 1,023 milhão de postos nos primeiros seis meses de 2023. Entre os setores, serviços, construção e indústria lideram com os maiores saldos no fechamento da primeira metade do ano.
O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, afirmou que o desempenho do mercado de trabalho do país poderia ser melhor em 2023 em um cenário com taxa de juro em patamar menos elevado, criticando a atuação do Banco Central (BC).
— Não fosse o desempenho inadequado do BC, seriam 180 mil empregos em maio. Não fosse essa inadequação esquizofrênica dos juros no Brasil, poderíamos falar na ordem de 200 mil empregos em junho — afirmou.
Próximos meses
Em junho, o resultado negativo do Estado foi puxado pela indústria, que registrou o fechamento de 3.305 postos, e pela agropecuária (-1.196). Serviços fizeram contraponto a esse movimento abrindo 5.632 vagas. Na comparação com os outros Estados, o Rio Grande do Sul ficou na segunda colocação entre os piores saldos em junho, atrás apenas da Paraíba (-223 postos).
A professora Lisiane, da Feevale, afirma que é cedo para avaliar se esse desempenho fraco de junho no Estado vai ditar o cenário dos próximos meses. Segundo ela, além do impulso de aspectos sazonais de fim de ano no mercado de trabalho, melhora em indicadores econômicos podem aquecer a busca por mão de obra:
— A expectativa é de que exista uma consistência maior na geração de vagas no segundo semestre. Não só vinculada a esse movimento tradicional da economia, mas também ao comportamento desses indicadores econômicos, como inflação, PIB (Produto Interno Bruto) e taxa de juro.
A economista Maria Carolina Gullo, professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), afirma que a taxa de juro básico em patamar elevado por um período longo penaliza a indústria e ajuda a explicar a perda de força nas contratações. Para os próximos meses, Maria Carolina estima cenário estável:
— Nos próximos três meses, acredito em uma certa estabilidade no mercado de trabalho. Depois, algum movimento de incorporação por conta das festas de fim de ano, que aquecem, principalmente, comércio e serviços.
O economista-chefe da CDL Porto Alegre também enxerga uma tendência de moderação e desaceleração do mercado de trabalho no segundo semestre, principalmente no âmbito dos acumulados do ano e em 12 meses.