Em meio ao crescente descontentamento da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos com a aproximação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a Rússia e declarações polêmicas sobre a invasão orquestrada por Vladmir Putin à Ucrânia, lideranças industriais brasileiras tentavam, nesta quarta-feira (19), em Hannover, na Alemanha, atrair a atenção de investidores estrangeiros para três projetos de sustentabilidade em plena evolução no país. Juntas, as iniciativas demandam US$ 180 milhões em recursos destinados justamente para onde os olhos do mercado já estão voltados há algum tempo, ou seja, os aportes em ações ou empresas carimbadas com as três letrinhas do momento: ESG (governança corporativa, social e ambiental).
Ainda assim, a julgar pelo que se viu no espaço oficial de negócios na Hannover Messe, a intenção de colocar o país entre as referências globais do processo de transição energética pode não ser tão fácil quanto parece e a disponibilidade de recursos nacionais é, sim, um diferencial, mas que demanda, sobretudo, por planejamento.
É o que diz Bernd Rustemberg, CEO da RWC, uma consultoria alemã fundada em 1994, hoje, especializada em questões que envolvem recursos hídricos, meio ambiente, energias renováveis e mudanças climáticas. Ele foi um dos poucos participantes da exposição de ofertas brasileiras para a formação de joint ventures (parcerias privadas) capazes de acelerar as propostas, que começou com a expectativa de pelo menos 50 investidores na plateia e se encerrou em meia hora de apresentações para um público diminuto, bem diferente do disputado evento que o antecedeu.
— O que vi e ouvi aqui tem potencial, mas não há como negar que existe uma instabilidade política em curso no Brasil que atrapalha os planos. Salvo isso, há ainda restrições de legislação que não são adequadas em aspectos importantes para que esse tipo de indústria, mais ligada à disponibilidade hídrica, prospere, além de questões de infraestrutura, falando do Nordeste brasileiro, que exige um planejamento ampliado para retirar essas incertezas — avaliou Rustemberg
Questionado se, dadas as atuais conjunturas, o investimento no Brasil poderia ser considerado um capital de risco, ele não foge à pergunta:
— O potencial está com vocês, mas precisa ser trabalhado de forma que esses riscos possam ser reduzidos.
Com foco na implementação da Gestão Integrada de Recursos Hídricos (IWRM), especialmente em casos de escassez, e integração de tecnologias hídricas inovadoras no planejamento de gestão de água e adaptação às mudanças climáticas, Rustemberg já atuou no Oriente Médio e no Brasil. Agora, aponta que a produção de hidrogênio verde, foco prioritário da apresentação brasileira em Hannover e tema central da maior feira de tecnologia industrial do mundo em 2023, requer quantidades significativas de água doce, ou seja, um recurso limitado, mas que encontra alto potencial de produção de energia renovável.
Prioridades
Essa foi uma das prioridades da primeira participação brasileira em uma das rodadas de negócios oficiais da Hannover Messe. E o que há de mais avançado no tema é um Centro de Desenvolvimento de Exportação de Hidrogênio Verde no Porto de Suape, em Pernambuco, com investimento estimado em US$ 100 milhões.
A ideia, explicou o diretor de Tecnologia e Inovação do Senai, Jefferson Gomes, é sustentar as exportações das empresas brasileiras nesse segmento. Produzido a partir da eletricidade gerada por fontes limpas e renováveis, o hidrogênio verde é a bola da vez na agenda de transição energética para no processo de descarbonização no setor industrial até 2030.
Outras duas apostas levadas ao palco pelo gerente-executivo do Senai, Marcelo Prim, e pelo superintendente de Negócios Internacionais do Senai, Frederico Lamego, foram o Centro de Bioeconomia e Conservação da Amazônia (CBCA), com necessidade de US$ 20 milhões em aportes e o de Biorrefinarias regionais na Amazônia, que demanda US$ 60 milhões em recursos.
Saiba mais sobre os projetos
Centro de Desenvolvimento de Exportação de Hidrogênio Verde no Porto de Suape, em Pernambuco: visa apoiar a exportação de hidrogênio verde por empresas brasileiras através do estabelecimento de um centro de desenvolvimento no Porto de Suape;
Centro de Bioeconomia e Conservação da Amazônia (CBCA): tem como objetivo estabelecer um centro de pesquisa e desenvolvimento para focar especificamente em pesquisas sobre uso do solo e reabilitação de áreas degradadas e o desenvolvimento de cadeias bioeconômicas na Amazônia brasileira;
Biorrefinarias regionais na Amazônia Brasileira: buscam estabelecer uma rede de unidades na região da Amazônia brasileira para converter biomassa em produtos de valor agregado.