O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (25) que não tem capacidade de dizer quando a Selic vai cair, já que tem apenas um dos nove votos do Comitê de Política Monetária (Copom).
— Tomaremos uma decisão técnica, olhando todos os fatores, e as coisas estão caminhando no sentido certo — destacou em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
Questionado pelos parlamentares sobre se a aprovação da nova regra fiscal seria suficiente para garantir a queda dos juros, Campos Neto respondeu que a questão fiscal tem peso sim na avaliação do BC.
— A parte fiscal faz com que as expectativas de inflação caiam, isso aconteceu quando foi aprovado o teto de gastos — lembrou.
O presidente do Banco Central reforçou também que o Copom não usa apenas o boletim Focus como parâmetro para as expectativas de inflação, apontando que a instituição também tem projeções próprias.
— Sempre tentamos filtrar questões específicas de mercado em projeções de inflação — reafirmou.
Ainda, Campos Neto repetiu que nenhum presidente do BC gosta de elevar juro.
— Eu brinco com meu antecessor, Ilan Goldfajn, que ele nunca precisou subir a Selic — ressaltou.
Mais uma vez, Campos Neto avaliou que parte dos economistas acha que expectativas longas estão maiores porque há risco de o governo mudar a meta.
— Nossa obrigação é com a meta de inflação. A meta é importante — enfatizou.
Na audiência, o presidente do BC citou estudos sobre o efeito da inflação na pobreza. Para ele, "não tem consumo estável e planejamento de empresa eficiente com inflação alta".
— O combate a inflação é uma missão muito social — acrescentou.
Curva do juro
O presidente do Banco Central voltou a sinalizar que o Copom ainda espera uma estabilização na curva de juros mais longa para iniciar o processo de redução da Selic.
— Agora já tivemos a apresentação do arcabouço fiscal, temos uma curva que precifica alguma queda de juros no segundo semestre, mas precisamos de uma estabilização na parte mais longa — afirmou na audiência.
Transparência
No início de sua apresentação, Campos Neto, falou em transparência no processo de tomada de decisões sobre os juros. O presidente do BC explicou ainda como funciona o sistema de metas de inflação e citou os países que adotam esse regime.
— Em todos esses países havia uma inflação alta e volátil, que caiu após a adoção do sistema de metas. O benefício é ancorar as expectativas, com flexibilidade para absorver choques e previsibilidade para os agentes se programarem — argumentou.
O presidente do BC ressaltou também que o sistema de metas garantiu que a inflação de diversos países se mantivesse controlada durante as últimas décadas.
— Após a pandemia e a guerra na Ucrânia, muitos países saíram do "corredor" de inflação (baixa) que estávamos habituados — complementou.