A disparada no preço do petróleo no mercado internacional coloca o ramo de combustíveis e os setores produtivos do Rio Grande do Sul em estado de cautela e observação. Desde que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) anunciou a redução de um milhão de barris diários na produção, no domingo (2), o preço do produto apresentou alta na casa de mais de 6% nesta segunda-feira (3). O corte entrará em vigor em maio e prosseguirá até o fim do ano.
Combustíveis e escoamento da produção mais caros, redução de margens de lucro e pressão maior na inflação estão entre os principais impactos que podem surgir na esteira de petróleo mais caro, segundo especialistas e entidades setoriais. No entanto, reforçam que projeção mais cristalina depende de posicionamento da Petrobras na linha dos preços e comportamento do mercado interno.
O presidente do Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do Rio Grande do Sul (Sulpetro), João Carlos Dal’Aqua, afirma que o setor está em estado de alerta diante da disparada do preço do petróleo. O dirigente afirma que essa escalada pode colocar mais um peso sobre o valor dos combustíveis, que já deve passar por novos aumentos em um ambiente de reorganização da cobrança de impostos, como o ICMS:
— Nós temos uma situação de reorganização tributária, onde já foi sinalizada uma elevação do preço tanto do diesel quanto da gasolina. Como o mercado estava sinalizando antes disso uma redução do preço do petróleo, tínhamos a expectativa de que essa elevação tributária ao consumidor fosse amenizada. Mas essa reversão, com a posição da Opep+, nos traz apreensão porque pode elevar o preço na sequência.
Dal’Aqua afirma que, na parte dos revendedores, um dos principais impactos é na linha de diminuição de margem em um ambiente onde não é possível repassar todo o aumento no preço do produto. Com isso, o caixa das empresas sofre um dos primeiros reveses. No âmbito do consumidor, o executivo destaca que o produto mais caro compromete ainda mais o orçamento em um cenário de maior pressão na inflação.
O economista-chefe da consultoria ES Petro, Edson Silva, afirma que a estimativa mais certeira sobre os efeitos da alta do petróleo no país e no Estado depende do posicionamento da Petrobras em relação ao preço internacional e comportamento do mercado interno. No entanto, o consultor estima alta no preço da gasolina diante desse contexto internacional e do efeito do ICMS sobre os produtos. Mesmo assim, Silva projeta elevação menor nos valores diante de alguns fatores, como comportamento do dólar:
— Com a tendência de o preço do dólar ficar na faixa atual, combinado com uma nova atitude da política de preços da Petrobras, acho que o impacto será pouco sentido nos preços internos da gasolina.
Setor produtivo
O vice-presidente e coordenador da área de infraestrutura da Federação das Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), Antônio Carlos Bacchieri, afirma que o salto no preço do petróleo preocupa o setor produtivo, porque pode encarecer os custos do transporte de mercadorias.
— Se aumentar o valor do diesel e da gasolina, impacta em todos os negócios. Quem perde mais é produtor, porque o valor da mercadoria, da commodity, acaba baixando quando se tem custos altos para transporte.
Edilson Deitos, coordenador do Grupo Temático Energia e Telecomunicações do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), não estima impacto tão severo na indústria neste primeiro momento. Reforçando que o tema ainda está muito incipiente, Deitos afirma que as companhias estão trabalhando em um contexto com demanda prejudicada. Portanto, o efeito maior seria nas margens de lucratividade:
— O mercado de consumo está travado. Então, é difícil repassar aumentos neste momento.
O dirigente salienta que, mesmo em alta, o preço do barril de petróleo hoje está abaixo dos patamares observados no ano passado na esteira dos efeitos da guerra na Ucrânia.