Projeções econômicas são tão - provavelmente, mais - sujeitas a erro do que as previsões meteorológicas. Em primeiro lugar, lidam com mais variáveis, em segundo, têm menos tempo de acúmulo de informações.
Feita essa ressalva, a coluna se impressionou com a estimativa da Goldman Sachs, um poderoso banco americano de investimentos, de que o preço do barril de petróleo vai voltar a US$ 100 em 2024.
Obviamente, a base da projeção é o anúncio da Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados, uma espécie de Opep turbinada) de anunciar corte inesperado na produção de petróleo. No meio da tarde no Brasil, já noite na Europa, os contratos para entrega em junho sobem 6,3%, para US$ 84,90.
A decisão, anunciada antes pela Arábia Saudita, mas depois referendada pelo cartel, é de reduzir em 1,6 milhão de barris ao dia a produção de petróleo nos 24 integrantes (13 da Opep "original", mais 11 aderentes, como Venezuela e Rússia). Já houve cortes maiores - o mais recente, em outubro passado, quando o anúncio foi de redução de 2 milhões de barris ao dia - sem que as cotações de mercado voltasse ao patamar dos três dígitos.
O que dá peso a essa nova ofensiva do cartel do petróleo é exatamente a dimensão geopolítica da manobra, como destacou o colega Rodrigo Lopes. Nos meios diplomáticos internacionais, a guerra comercial entre Estados Unidos e China e a invasão militar da Ucrânia pela Rússia criam uma confluência em que e economia vira arma de guerra.
Foi assim com as sanções econômicas do "ocidente" à Rússia, agora é assim com a represália do "oriente" às potências estabelecidas. Tudo entre aspas porque já não se trata de pontos cardeais mas de alianças estratégicas. A coluna ouviu, como explicação potencial para o anúncio-surpresa - normalmente, os movimentos da Opep+ são sinalizados com dias de antecedência -, que "estão desconfortáveis com os EUA".
Conforme Daan Struyven, economista do Goldman Sachs, a Opep+ tem hoje poder de precificação maior do que no passado recente. Apesar de admitir surpresa, ponderou em seu relatório que o movimento faz parte da estratégia do cartel de agir preventivamente, sem correr risco de perda significativa de participação de mercado. E destaca, ainda, que a grande diferença em relação ao corte de outubro passado é de que, agora, há perspectiva de aumento na demanda global de petróleo, com a forte recuperação da China, outra interessada em minar os EUA.