O Ibovespa mostrou resiliência, moderando perdas apesar do cenário internacional turbulento, e fechou esta quarta-feira (15) com leve baixa de 0,25%, aos 102.675,45 pontos, mais próximo da máxima do dia, de 103.048,28 (+0,11%), do que do piso da sessão, de 100.692,04 pontos, mínima intradia desde 27 de julho. Ainda assim, foi o menor nível de fechamento para o Ibovespa desde 1º de agosto de 2022 (102 225,08), que emendou hoje a quinta perda diária. Na semana, a bolsa brasileira cai 0,91%; no mês cede 2,15% e, no ano, perde 6,43%.
Já o dólar encerrou a sessão de quarta-feira em alta de 0,70%, cotado a R$ 5,2943 - o maior valor de fechamento desde 5 de janeiro (R$ 5,3523). Nos momentos de maior estresse, no início dos negócios, a divisa ultrapassou o teto de R$ 5,32 e registrou máxima a R$ 5,3288 (+1,36%). Na semana, a moeda estadunidense acumula alta de 1,65% ante o real, que sofre menos que seus pares principais entre países emergentes.
Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones caiu 0,87%, aos 31.875,17 pontos, o S&P 500 cedeu 0,69%, aos 3.892,18 pontos e Nasdaq fechou em alta de 0,05%, aos 11.434,05 pontos.
As preocupações em torno de dificuldades no sistema bancário, que emergiram no fim da semana passada com a quebra do banco dos EUA Silicon Valley Bank (SVB), ganharam nesta quarta-feira um nome de peso, que já vinha no radar: o europeu Credit Suisse. O principal acionista do banco suíço, o Saudi National Bank, descartou mais assistência financeira à instituição — inclusive por questões regulatórias -, o que deflagrou nova onda global de aversão a risco. As ações da empresa despencaram 29,94% na Bolsa de Zurique — registrando a pior queda de sua história.
No fim do dia, o Banco Central suíço veio a público dizer que fornecerá liquidez ao Credit, caso seja necessário.
Subida do dólar
O leve escorregão do real se deu em meio a uma onda de aversão ao risco mundo afora que levou investidores a buscar refúgio na moeda norte-americana. Após a trégua de terça-feira, no rescaldo das medidas de autoridades dos Estados Unidos para amenizar os efeitos da quebra do SVB e do Signature Bank, notícias de problemas de liquidez do Credit Suisse reavivaram os temores de recessão global, na esteira de uma possível espiral de deterioração no sistema financeiro.
Ao mesmo tempo, especula-se que o Banco Central Europeu (BCE) não cumpra nesta quinta-feira (16) a sinalização de alta de juros em 50 pontos-base.
— O momento é de muita incerteza. Podem ser casos específicos, mas existe o risco de efeito em cadeia e sistêmico no setor financeiro que gere problemas maiores para a economia global. Os mercados começam a precificar um cenário recessivo, com commodities e juros para baixo — afirma o sócio e economista-chefe do Modal, Felipe Sichel.
O real, que costuma apanhar mais em episódios de aversão ao risco, desta vez teve perdas bem inferiores a de seus pares, como peso chileno, mexicano e rand sul-africano. Taxas de juros reais domésticas mais elevadas e a expectativa pela divulgação do novo arcabouço fiscal do governo federal podem ajudar a explicar o desempenho melhor da moeda brasileira nesta semana. Há também fatores técnicos, uma vez que o real teve um histórico pior que seus pares nos últimos anos.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse no início da tarde que o texto da regra fiscal já está no Palácio do Planalto. Por volta das 15h45min, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que já teve uma conversa rápida com Haddad sobre o tema, mas que ainda vai se reunir com o ministro, provavelmente nesta quinta-feira, para discutir a proposta.
— A possível redução do risco fiscal e a manutenção de juro real doméstico ainda elevado, mesmo com eventual corte da taxa Selic já neste primeiro semestre, podem jogar a favor da moeda brasileira. De outro lado, a desvalorização das commodities e o ambiente de aversão ao risco tendem a impulsionar o dólar frente a emergentes e, por tabela, no mercado local — completou Sichel.
Europa
As bolsas europeias fecharam em forte queda nesta quarta-feira, reagindo às turbulências causadas pelo Credit Suisse. Veja números.
- Em Londres, no Reino Unido, o índice FTSE 100 caiu 3,83%.
- O índice DAX, em Frankfurt, na Alemanha, fechou em baixa de 3,27%.
- O CAC 40, em Paris, na França, cedeu 3,58%
- O FTSE MIB, em Milão, na Itália, fechou em baixa de 4,61%.
- Já em Madri, na Espanha, o índice Ibex 35 baixou 4,01%.
- Na Bolsa de Lisboa, em Portugal, o PSI 20 caiu 2,77%.
- Em Frankfurt, o Deutsche Bank caiu quase 10%, enquanto o Barclays teve baixa de quase 9%, em Londres.