Após fechar 2022 com retração, a venda de veículos mostrou sinais de recuperação na largada deste ano no Rio Grande do Sul. Tanto o comércio de zero-quilômetro quanto o de seminovos e usados apresentaram avanço em janeiro de 2023 ante igual mês do ano passado. Os emplacamentos de automóveis e comerciais leves registraram salto de 13,9% nessa comparação de tempo. Já as vendas de seminovos e usados subiram 28,4% no Estado. Os dados são da Fenabrave/Sincodiv-RS, entidade que representa concessionárias e distribuidoras, e da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto).
Normalização da produção e, consequentemente, da entrega de alguns modelos de carros e comparação com base mais fraca ajudam a explicar o movimento, segundo integrantes do setor. Mesmo em alta, os números são menores do que os observados em anos anteriores. Para os próximos meses, especialistas estimam certa estabilidade.
Em janeiro, foram registrados 6.729 emplacamentos de automóveis e comerciais leves zero-quilômetro no Estado — 822 a mais do que em janeiro de 2022. O presidente da Fenabrave/Sincodiv-RS, Paulo Siqueira, afirma que o setor amargou números ruins no primeiro semestre do ano passado por causa da desorganização das cadeias produtivas diante da pandemia e dos efeitos da guerra na Ucrânia.
— O início do ano passado foi sofrível. Não só em janeiro, mas no primeiro semestre todo. Estamos fazendo uma comparação com base muito baixa — explica.
Nesse sentido, Siqueira destaca que janeiro de 2023 não representou um fenômeno de vendas, ficando inclusive abaixo de números observados no mesmo mês de anos anteriores. Mesmo assim, observa que o Estado segue avançando:
— Parece que o Rio Grande do Sul está, ainda que lentamente, retomando posição mais significativa no ranking de licenciamento nacional. Isso tem muito a ver, imagino, com nova sistemática tributária do setor em relação ao ICMS, que ocorreu a partir de decreto editado em novembro de 2021.
O professor Antônio Jorge Martins, coordenador de cursos na área automotiva da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma que, além da base de comparação mais fraca, a maior oferta de alguns modelos novos também ajuda a explicar cenário mais aquecido em janeiro:
— Algumas vendas de 2022 podem ter escorregador para 2023 até pela falta de alguns carros que foram produzidos agora.
Sobre o fato de janeiro de 2023 mostrar patamar de emplacamentos menor na comparação com outros anos antes de 2022, Martins diz que inflação e juro em alta podem influenciar o movimento.
Normalização de preços
O comércio de seminovos e usados apresentou avanço maior ante o segmento zero-quilômetro. Em janeiro, a venda de automóveis e comerciais leves que não são de primeiro dono ficou em 63.878 unidades no RS — alta de 28,4% em relação ao primeiro mês do ano passado. O presidente da Associação dos Revendedores de Veículos Automotores do Estado (Agenciauto/Fenauto-RS), Rodrigo Dotto, diz que a elevação ocorre diante de normalização dos preços.
O dirigente destaca que o segmento teve crescimento exponencial em 2020 e 2021 diante de problemas na produção de veículos novos. Em 2022, com oferta menor de produtos e retomada dos estoques de zero-quilômetro, os preços de seminovos e usados subiram, o que diminuiu as vendas. Agora, com mais modelos disponíveis, os valores começam a voltar para patamares normais, aponta:
— Caiu para a realidade e começou a ficar desparelho do zero de novo. O seminovo e o usado voltam a ser atraentes.
Martins diz que a perda do poder de compra também ajuda a explicar o aquecimento maior no setor de seminovos e usados. Ele reforça que existe essa substituição de compra por parte do consumidor nesse cenário.
Próximos meses
O presidente da Fenabrave/Sincodiv-RS, Paulo Siqueira, projeta que o comércio do zero-quilômetro deve apresentar avanço nos próximos meses na comparação com igual período de 2022, ainda sob efeito da base de comparação menor. Para o segundo semestre, ele estima espaço para certa estabilidade nas vendas. Menor oferta de veículos populares, que afasta parte dos consumidores, juro em patamar elevado e que prejudica os financiamentos são alguns dos fatores que podem segurar avanço maior do setor, avalia:
— Estamos apostando que o mercado pelo menos possa se manter estável para esse ano, embora tenha essas dificuldades, como produto de alto valor agregado que afasta o consumidor comum, altas taxas de juro e carência de crédito.
O dirigente salienta que é necessário observar como será o comportamento dos consumidores pessoa jurídica, principalmente as locadoras de veículos — se esses agentes vão ter condições e ambiente econômico favorável para absorver parte importante da produção de veículos, como ocorreu em 2022.
No âmbito dos seminovos e usados, o presidente da Agenciauto/Fenauto-RS, Rodrigo Dotto, estima avanço para o segmento. A perspectiva ocorre diante da normalização dos preços, diz. Ele cita o juro alto como problema, mas reforça que revendedores conseguem amenizar o efeito por meio de negociações e promoções com instituições financeiras.
— Nosso janeiro foi muito bom e a expectativa é de alta para o nosso setor nesse ano — pontua.
Para Antônio Jorge Martins, coordenador de cursos na área automotiva da FGV, estimativa mais certeira sobre a venda de veículos neste ano depende de sinalização do governo federal sobre ações que podem gerar impacto no setor.