O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), voltou a atacar a política monetária conduzida pelo Banco Central (BC) e a independência da autoridade monetária, em discurso realizado nesta segunda-feira (6), no Rio de Janeiro.
Segundo Lula, não "tem explicação" para a taxa básica de juros (a Selic, hoje em 13,75% ao ano) estar em "13,5%".
— O problema não é de banco independente. O problema é que este país tem uma cultura de juro alto — afirmou o chefe do Executivo, em discurso na cerimônia de posse do novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante.
Lula citou especificamente a "carta" do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, numa referência ao comunicado da decisão da semana passada sobre a manutenção da Selic em 13,75% ao ano, para sustentar que não haveria motivos para os juros básicos estarem nos níveis atuais.
— É só ver a carta do Copom para ver que é uma vergonha esse aumento de juros — afirmou.
O presidente ironizou os efeitos negativos de suas críticas à política monetária e à independência do BC sobre as cotações dos ativos do mercado de capitais.
— Se eu, que fui eleito, não posso falar, quem pode? O catador de materiais recicláveis? — questionou.
Lula criticou ainda a substituição da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que balizava os financiamentos do BNDES desde 1994, e era fixada pelo governo federal, quase sempre abaixo do nível dos juros básicos. Desde 2018, foi substituída pela TLP, que segue as taxas de mercado.
— Por que acabaram com a TJLP? — indagou, ao defender uma atuação mais forte do BNDES no financiamento de longo prazo e às empresas de menor porte.
Durante o discurso, o presidente incitou o empresariado a criticar o elevado nível dos juros, dirigindo-se ao presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, presente na plateia da cerimônia de posse de Mercadante. E sugeriu que, com o BC independente, há menos críticas atualmente.
— A classe empresarial precisa aprender a reclamar dos juros altos. Quando o BC era dependente de mim, todo mundo reclamava de juros altos — destacou.
O chefe do Executivo criticou também a austeridade fiscal e o fato de o salário mínimo estar sem reajuste real "há sete anos". Para o presidente, seria um "dever" o governo dar reajustes anuais no mínimo, e não apenas pela inflação.
— Se temos uma dívida fiscal de 30 ou 40 anos, temos uma dívida social de 100 anos, 200 anos. Uma dívida social impagável — ressaltou.