Com a possível autorização pelo Congresso para que o novo governo federal abra as torneiras e libere bilhões para o consumo em 2023, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve nesta quarta-feira (7), em decisão unânime, a Selic (taxa básica de juro) em 13,75% ao ano pela terceira reunião consecutiva, como era amplamente esperado.
Mesmo com a estabilidade, a taxa está no maior patamar em cerca de seis anos, depois do mais longo ciclo de alta de juro da história do Copom, iniciado em março de 2021.
A discussão sobre o retorno das altas da Selic foi retomada após serem conhecidos os planos de expansão de gastos pelo governo eleito, previstos na proposta de emenda à Constituição (PEC) de Transição, que prevê uma "licença" para a expansão de despesas pelo novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Os gastos liberados pela PEC devem atuar em sentido contrário ao esforço do Copom para esfriar a economia. No encontro de outubro, o comitê tinha avisado que não hesitaria em voltar a elevar a Selic se a desinflação não ocorresse como o planejado.
O aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A elevação da taxa de juro também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos. Por outro lado, aplicações em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures (títulos de empresas), passam a render mais.
Juro real
Mesmo com a estabilidade da taxa Selic pela terceira reunião consecutiva, o Brasil continua a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista com 40 economias. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 8,16% ao ano.
Em segundo lugar na lista que considera as economias mais relevantes, aparece o México (5,39%), seguido do Chile (4,66%). A média dos 40 países avaliados é de -2,16%.
Essa foi a última reunião do Copom no governo de Jair Bolsonaro. Quando o atual mandatário assumiu o Planalto, em janeiro de 2019, a Selic estava estacionada em 6,50% há seis reuniões consecutivas do colegiado. A partir de julho do mesmo ano, o BC passou a reduzir os juros, acelerando o processo após a chegada da pandemia de Covid-19 ao Brasil - a Selic atingiu o piso histórico de 2,0% ao ano entre agosto de 2020 e março de 2021.