Imagine um setor que tinha 375 empresas e, quatro anos depois, passa a contar com 1.009 companhias. Foi o que aconteceu com a indústria de games no Brasil entre 2018 e 2022, crescimento de 169% no número de desenvolvedoras, conforme indica o Relatório da Indústria Brasileira de Games 2022 – pesquisa inédita publicada pela Associação Brasileira dos Desenvolvedores de Jogos Digitais (Abragames) em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (ApexBrasil).
Se o cenário nacional chama atenção, o Rio Grande do Sul merece destaque: o Estado é o terceiro com o maior número de estúdios desenvolvedores de games e o segundo com o maior faturamento do setor no país. Hoje, o RS fica atrás de São Paulo e Rio de Janeiro na quantidade de empresas e apenas abaixo dos paulistas no faturamento.
— Fomos pioneiros no setor de games, desde a década de 1990. Tivemos empresas como a South-logic, as primeiras graduações, pós, mestrado e doutorado, além da primeira associação coletiva regional do setor. Fizemos parcerias com o Sebrae, com o governo do Estado, e esse senso coletivo acelerou o processo por aqui — explica Ivan Sendin, diretor-executivo da Associação de Desenvolvedores de Jogos Digitais do Rio Grande do Sul (ADjogosRS).
Faturamento em ascensão
São 58 empresas do setor no Estado, conforme a pesquisa. O faturamento no mercado gaúcho de games, apenas entre as 40 desenvolvedoras que fazem parte da ADjogosRS, foi de R$ 78,5 milhões em 2021, crescimento de 19,5% em relação a 2020 e de 145,3% nos últimos oito anos. Doze empresas têm receita acima de R$ 1 milhão. E, no ano passado, 1.231 estavam empregados no setor apenas no RS, alta de 37,2% na comparação com o ano anterior, e de 825,6% desde 2013.
— Estamos em um momento bem legal do mercado, porque agora está claro que trabalhar com jogos pode ser uma profissão. Por que digo isso? Quando comecei a estudar game design, não era uma coisa muito certa de que daria retorno. Sempre confiei muito nesse setor, mas era complicado garantir que conseguiria um futuro, principalmente dentro do país — explica Matheus Cunegato, 28 anos, lead game designer da Aquiris, principal empresa do setor no Estado.
Robustez
De fato, o fortalecimento do mercado nacional tem sido gradativo. Hoje, estima-se que mais de 12 mil pessoas estejam empregadas em empresas desenvolvedoras de games no país. O crescimento, desde 2014, é de 630%, quando apenas 1.704 pessoas trabalhavam para indústrias brasileiras do setor. E ainda há muito a crescer.
— Enquanto o Brasil não for um dos cinco maiores países desenvolvedores, a gente não vai sossegar. Vemos um potencial muito grande no país. Há uma formação de talentos, não só de desenvolvedores, mas de designers, e muitos deles são exportados, vão trabalhar fora. Temos de valorizá-los aqui, e hoje estamos conseguindo pagar melhores salários e manter esse pessoal nas empresas nacionais — destaca Rodrigo Terra, presidente da Abragames, que reconhece que a pandemia movimentou o setor em escala global.
Ele ressalta que o país é o maior produtor e consumidor de jogos da América Latina, sendo o 10º no mundo em relação a receitas provenientes da indústria de games. Está atrás de mercados como Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Japão, Coreia do Sul e China.
E se você pensa que esta não é uma indústria relevante, atente-se a essa informação apresentada pela pesquisa: "o mercado de jogos digitais ocupa, hoje, o segundo lugar entre os negócios de entretenimento no mundo, perdendo apenas para a TV, e ultrapassando o cinema".
Falta de mão de obra capacitada
Mesmo com a consolidação do mercado nacional, uma das maiores dificuldades é encontrar mão de obra qualificada. Uma coisa é certa: há vagas em aberto. O problema, conforme os empresários do setor, é achar pessoal que tenha conhecimento das especificidades de determinadas funções e experiência no setor.
— O mercado está aquecido para caramba. Tem vaga, mas não tem mão de obra capacitada. Por isso, estamos tentando capacitar mais gente junto às universidades, popularizar o mercado de games — diz Ivan Sendin, que, além de diretor da ADjogosRS, é sócio-fundador da Epopeia Games.
Ele relata que as principais formas de recrutar colaboradores são os posts no LinkedIn, as indicações de parceiros de outras empresas ou de universidades e os eventos de maratona de produção de jogos, em que estudantes com potencial são avaliados e, por vezes, contratados. Mesmo assim, ainda há defasagem de profissionais especializados no país.
Parcerias, lançamento e expansão
Principal desenvolvedora do RS, a Aquiris, localizada no prédio do Tecnopuc, em Porto Alegre, conta com quase 200 colaboradores fixos, dos quais dois terços atuam diretamente no desenvolvimento de jogos.
— Estamos em um momento legal de crescimento. Fechamos parceiras relevantes com a Epic Games (desenvolvedora de títulos como Fortnite e Gears of War), temos o lançamento no Horizon Chase 2 (jogo de corrida) que vai ser um grande passo para a empresa, por ser o primeiro jogo que a gente lança como franquia. Isso vai nos permitir entrar em diálogos com parceiros mais relevantes, sermos reconhecido internacionalmente, crescendo e tendo visibilidade — detalha Matheus Cunegato, lead game designer da Aquiris.
Fundada em 2007, a empresa porto-alegrense já desenvolveu jogos para o Cartoon Network, mas seus principais games são Horizon Chase World Tour, Horizon Chase Turbo, Looney Tunes: World of Mayhem e Wonderbox.