A alta nos preços de itens da alimentação, um dos grupos que vinha apresentando inflação mais elevada nos últimos meses e pesando no bolso dos brasileiros, começa a arrefecer. O segmento foi um dos que contribuiu para a deflação do IPCA em agosto no país e na Grande Porto Alegre, onde a variação em alimentação e bebidas passou de 2,2% em julho para -0,61% em agosto.
Dentre os itens, o leite longa vida mostrou uma das principais reduções no mês. Em julho, a variação era de 29,28%, baixando para –9% em agosto, conforme a pesquisa do IBGE. O litro da bebida chegou a custar mais de R$ 8 nas prateleiras da Capital.
A tendência, segundo o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), é de que o preço continue caindo.
Um dos motivos está relacionado à época do ano. No inverno, as pastagens ficam mais escassas, fazendo com que o gado precise de ração suplementar para ofertar leite. Com os custos de produção elevados, o produto final e os derivados também acabaram ficando mais caros. Mas com a aproximação da primavera, a tendência é de que a melhora nas pastagens dê condições para novas quedas no preço dos laticínios.
A redução não deve se restringir ao leite, chegando também a alimentos que dependem de um contexto internacional, segundo Braz. É o caso dos derivados de trigo, que tendem a baratear diante da maior oferta do cereal do mundo.
Além disso, a expectativa de baixo crescimento para as economias de China e Europa sustentam revisões para baixo no preço de commodities como milho e soja, que têm efeito indireto nos preços das carnes, por exemplo.
— É um cenário que tende a beneficiar o consumidor porque, finalmente, onde a inflação era mais perversa, agora, está cedendo — avalia Braz.
Os alimentos caíram junto com os demais itens. Acredito que vamos ter uma convergência da inflação para a meta, inclusive no que diz respeito aos alimentos.
ANTÔNIO DA LUZ
Economista-chefe da Farsul
Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), pontua que a desaceleração nos alimentos já havia sido demonstrada pela queda no preço da cesta básica. Em agosto, o conjunto de alimentos essenciais ficou mais barato na maioria das capitais, inclusive Porto Alegre — apesar de ainda ser a segunda mais cara do país, custando R$ 748,06.
Para o economista, mais do que o componente sazonal, as deflações nos alimentos estão relacionadas a um conjunto de queda da inflação como um todo.
— Os alimentos caíram junto com os demais itens. Acredito que vamos ter uma convergência da inflação para a meta, inclusive no que diz respeito aos alimentos. Mas novas quedas não estão no radar neste momento — pondera Luz.
Efeito nos mais pobres
Dentre os itens que compõe o grupo Alimentação e bebidas, o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), chama atenção para a desaceleração no segmento que diz respeito à alimentação no domicílio. A variação nos alimentos considerados para consumo em casa ficou próxima da estabilidade na comparação com julho (0,01%).
Se vemos os alimentos subindo menos, isso melhora a qualidade de vida das famílias menos favorecidas, que praticamente não foram atendidas pela redução de impostos como o ICMS.
ANDRÉ BRAZ
Economista FGV Ibre
Para o economista, a redução significa alívio principalmente para as famílias de baixa renda, já que os recuos em combustíveis e energia elétrica, ocasionados pela redução de impostos, não necessariamente chegam nesta parcela mais carente.
— A inflação de alimentos esbarrou em 15% em 12 meses, ou seja, cinco pontos percentuais acima da inflação média e extremamente elevada para o padrão atual. Se vemos os alimentos subindo menos, isso melhora a qualidade de vida das famílias menos favorecidas, que praticamente não foram atendidas pela redução de impostos como o ICMS — destaca Braz.