O número de pedidos de seguro-desemprego no Rio Grande do Sul fechou o primeiro semestre de 2022 em leve alta. As solicitações cresceram 4,88% no período. De janeiro a junho, foram 8,7 mil pedidos a mais na comparação com o mesmo período do ano passado – de 178.781 para 187.516. Os dados estão disponíveis em painel do Ministério do Trabalho e Previdência.
O seguro-desemprego é um benefício pago a trabalhadores formais demitidos sem justa causa. Para especialistas que acompanham o mercado de trabalho, o crescimento no número de pedidos no período é contido, mas resultado de diversos fatores que influenciam a economia.
Entre eles, a economista e professora Lodonha Maria Portela Coimbra Soares, que coordena o Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS), leva em consideração o chamado empreendedorismo por necessidade. Segundo ela, muitos profissionais estão deixando o mercado formal diante dos baixos salários. O resultado é um aumento de pessoas atuando como PJ (pessoa jurídica).
Renda
No primeiro trimestre de 2022, por exemplo, o rendimento médio real dos trabalhadores com carteira assinada no setor privado foi de R$ 2.443 no Estado, queda de 6,21% ante o rendimento do mesmo trimestre no ano anterior, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) trimestral.
— Vemos um achatamento da renda média dos assalariados formais. Muitos hoje encontram o mesmo trabalho com um salário melhor fora do mercado formal. Fazem MEIs, sacam o seguro-desemprego e montam um negócio próprio. A "pejotização" vem aumentando —explica Lodonha.
Do total de solicitações de seguro-desemprego no semestre, a maior parcela foi encaminhada por trabalhadores dos setores de serviços, com 34,67%, e do comércio, com 29,08%.
O economista-chefe da CDL POA, Oscar Frank, acrescenta outro motivo para a alta, diretamente relacionado ao funcionamento da economia como um todo. Para Frank, o comparativo entre os primeiros semestres captura os efeitos da estiagem enfrentada pelo Rio Grande do Sul no último verão. A seca impactou em forte queda do PIB gaúcho e na atividade econômica do Estado.
Apesar da alta no semestre ante 2021, os números são menores em relação a 2020, quando as solicitações pelo benefício somaram 255.097 de janeiro a junho. Para a professora da UCS, a diferença é explicada por políticas públicas aplicadas durante a pandemia. A partir da crise sanitária, programas governamentais temporários de proteção ao emprego seguraram parte das demissões. Agora finalizados, começam a mostrar outro efeito.
– Ao entrarmos em 2022, os prazos dessas políticas foram se encerrando. Isso explica a leve alta (nos pedidos) e um possível adiamento do que poderia ter ocorrido no auge da pandemia – diz Lodonha.
Segundo Frank, o crescimento menos acentuado nos pedidos de seguro-desemprego também mostra resiliência do mercado de trabalho formal, comprovada pelos dados do próprio Caged, que mostram saldo positivo na geração de empregos no Rio Grande do Sul.
— Em virtude de tudo o que aconteceu com a economia gaúcha diante da queda na safra de verão, mostra uma força e resiliência do mercado de trabalho. O mercado como um todo aumentou, então temos mais trabalhadores formais do que tínhamos em 2021 — observa Frank.
Outro ponto levantado pela professora da UCS é o fator geracional, que tem conferido maior rotatividade no mercado formal de trabalho. Segundo Lodonha, a nova geração de jovens adultos costuma experimentar mais, trocando mais de empregos.
— Há uma maior rotatividade por conta da população mais jovem. É uma geração de pessoas adultas que experimenta, que faz aquilo que gosta e que não se submete a qualquer trabalho — resume Lodonha.
Expectativas mistas para o 2º semestre
Em termos de perspectivas, o economista-chefe da CDL POA, Oscar Frank, atenta para uma desaceleração da economia ao longo do segundo semestre do ano, o que pode refletir no mercado de trabalho. Em contrapartida, medidas de expansão do consumo estimuladas pelo governo federal podem ser mais pronunciadas no quarto trimestre, quando também entra no Rio Grande do Sul um impacto positivo da safra de inverno, que tende a ser farta, embora não anule as perdas do ano.
A professora da UCS Lodonha Maria Portela Coimbra Soares lembra das particularidades de um ano atípico ainda de recuperação da pandemia, de retomada do emprego formal, mas com renda média menor, e de turbulências de um ano eleitoral:
— É um cenário que não está tão auspicioso do ponto de visto das variáveis macroeconômicas como taxa de juros, crescimento da economia, inflação e investidores com pé no freio. Isso tudo reflete no mercado de trabalho.