O número de pessoas subutilizadas dentro do mercado de trabalho encolheu no Rio Grande do Sul. No segundo trimestre deste ano, esse contingente caiu 14,6% no Estado ante o mesmo período de 2021. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) Trimestral, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A retomada das atividades é um dos principais fatores que explicam esse movimento. Queda da subutilização aponta mais pessoas empregadas, com parte delas atuando por mais horas, o que pode gerar incremento na renda. No entanto, esse avanço ainda é insuficiente para o crescimento sustentado da economia, segundo especialistas.
De abril a junho, o total de pessoas nessa condição ficou em 959 mil no Estado. No mesmo intervalo de meses no ano passado, esse montante era de 1,123 milhão. A população subutilizada é composta por desocupados, subocupados por insuficiência de horas e pela força de trabalho potencial. Esse último grupo é formado por pessoas que não estão ocupadas nem desocupadas, mas que têm potencial para ingressar na força de trabalho. Os desalentados, aqueles que gostariam de trabalhar, mas desistiram de procurar ocupação, também estão nessa categoria.
Olhando cada um desses ramos é possível observar que a queda na subutilização foi puxada pelo grupo de desocupados, que recuou 27,4% na comparação entre os dois trimestres.
O Coordenador da Pnad Contínua no Estado, Walter Rodrigues, afirma que o recuo da subutilização no Estado responde aos movimentos observados no mercado como um todo. Avanço do emprego e queda da taxa de desemprego aceleram a utilização da mão de obra. Rodrigues destaca que esse efeito ocorre independentemente da qualidade dos empregos criados:
— Isso se deve à retomada de algumas atividades. Tanto no caso de trabalhadores inseridos no mercado formal quanto no informal. Os informais ainda têm uma participação bem grande dentro dos postos de trabalho, mas os dados mostram uma recuperação, com queda nos desocupados.
Rodrigues destaca que a retração nos subocupados por insuficiência de horas também ocorre na esteira desse processo, mesmo que em menor escala. Essa categoria é formada por pessoas que trabalham menos horas do que gostariam, fator que aumenta a dificuldade de obter renda que supra as necessidades de um lar. Coordenador da Pnad Contínua no Estado afirma que esse grupo também pode ser influenciado pelo mercado informal.
— O informal é sujeito a ter uma jornada menor, porque ele vai trabalhar sob uma demanda. Muitas vezes não é um empregado que foi contratado para trabalhar 40, 44 horas. Então, pode ter uma participação importante nos movimentos dentro dos subocupados por insuficiência de horas — explica o pesquisador.
Os dados Pnad Contínua trimestral mostram que, dentro da população ocupada, os trabalhadores com carteira assinada não mostraram grande alteração em relação ao mesmo período do ano passado. Já os informais apresentaram aumento expressivo de 29% em relação ao segundo trimestre de 2021.
O professor de economia do trabalho da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Cássio Calvete também reforça que a queda da subutilização é um reflexo do avanço da ocupação. No entanto, ele destaca que esse movimento tem pouco impacto sobre a atividade econômica no país neste momento. Ao justificar essa avaliação, o especialista afirma que a retomada do emprego ainda é precária, com postos de menor qualidade.
— É uma melhora no emprego, mas, quando a gente analisa profundamente, não é tão expressiva, porque não vem acompanhada de melhoria salarial, nos postos de trabalho — pontua Calvete.
Cenário nos próximos meses
O economista e professor da Universidade Feevale José Antônio Ribeiro de Moura afirma que o mercado de trabalho no país passa por uma transformação diante de choques causados pela pandemia de coronavírus e pela guerra na Ucrânia. O economista afirma que as incertezas geradas por esse cenário é um dos fatores que freiam queda maior da subutilização:
— A gente vê a taxa de desemprego caindo, mas a subutilização continua, vamos dizer assim, instável, não conseguindo cair na mesma proporção.
Para os próximos meses, Moura afirma que existe espaço para um ambiente melhor no emprego diante do arrefecimento da inflação e da definição das eleições presidenciais. No entanto, ele destaca que a perspectiva de manutenção de juro em patamar mais elevado em parte de 2023 é uma âncora nesse otimismo.
O professor Cássio Calvete, da UFRGS, avalia que é difícil vislumbrar um mercado de trabalho melhor diante da retomada lenta na economia e da manutenção da precarização do emprego, impulsionada por flexibilizações. Calvete destaca que a criação de vagas com maior qualidade fica difícil mesmo em ambiente com atividade econômica mais aquecida. Isso ocorre porque é necessário avançar em alguns pontos, como regulamentação das novas relações de trabalho, que foram impulsionadas pela tecnologia, segundo o professor:
— Se não houver uma mudança significativa, seja da Presidência, seja do Congresso, para melhorar os postos de trabalho, mesmo com a melhoria da economia, não vejo perspectiva de melhora no mercado.