O 5G chega ao Brasil nesta quarta-feira. Brasília é a primeira cidade do país a contar com a tecnologia. Com 100 antenas em funcionamento, até 40% da população do Distrito Federal terá acesso, explica Alberto Griselli, presidente da TIM no Brasil. Segundo ele, outras 64 antenas iniciam a operação em 60 dias e levarão a cobertura para 65% da população do DF.
Mas que inovações o 5G permite? A principal característica são as altíssimas velocidades, mais de 1 gigabit por segundo, pelo menos 10 vezes mais rápido do que o visto no 4G. Isso possibilita uma série de aplicações, tanto focadas no consumidor final, com chamadas de vídeos mais claras, melhor resposta para jogos, produtos para casa conectada, quanto no setor produtivo, como linhas ainda mais automatizadas e agricultura de precisão. Sem falar em avanços na saúde, com cirurgias a distância, ou no transporte conectado, incluindo carros autônomos.
Peça importante é que o 5G diminui a chamada latência, que é o tempo necessário para receber uma resposta às informações entregues, ou seja, o atraso na transmissão. Nas chamadas de vídeo usando o 4G, muitas vezes a voz fica robotizada ou a imagem do vídeo trava. Com o 5G, isso não deve mais acontecer. Uma latência menor é fundamental para que os dados cheguem instantaneamente e possibilitem aplicações em tempo real, sem delay.
— O 5G permite muitas inovações, coisas que talvez neste momento nem se saiba porque ainda não têm aplicações desenvolvidas. Pelo que vemos em outros lugares que já utilizam, a velocidade de transmissão é muito maior, a estabilidade é maior e a latência é menor — explica Cristina Nunes, professora da Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
A nova geração de dados deve ter um impacto direto no nosso dia a dia. E isso vai além dos filmes, dos vídeos e das chamadas telefônicas. Os benefícios passam por casas inteligentes, transportes mais conectados e avanços na saúde: na China e na Espanha, já foram realizadas cirurgias remotas usando a nova geração de redes ultrarrápidas.
Mais do que a velocidade e as transmissões rápidas em alta definição, o grande diferencial da tecnologia está na chamada escala. Milhões, até bilhões de aplicativos, de controles de máquina e processos poderão ser rodados ao mesmo tempo, no mesmo espaço – um aumento muito significativo na capacidade de se ter dispositivos conectados à internet com a mesma qualidade.
— A quinta geração da telefonia celular vem ao encontro da necessidade de muito mais dispositivos conectados, oriundos da chamada “Internet das Coisas”. A expectativa é de que possa haver 1 milhão de dispositivos conectados por quilômetro quadrado — projeta Vandersilvio da Silva, professor dos cursos das áreas de Computação e Engenharia da Universidade Feevale.
Para Silva, essa revolução ficará justamente marcada pela esperada conexão de dispositivos de Internet das Coisas. A promessa é que, por meio dessa rede, também conhecida como IoT (sigla em inglês para “Internet of Things”), veículos, prédios e os mais variados produtos com tecnologia embarcada, como geladeiras e televisores, poderão coletar e transmitir dados. Será uma extensão da internet atual, possibilitando que muito mais coisas do dia a dia se conectem à rede.
– O 5G deverá interligar todos os objetos, combinando novas tecnologias. Provavelmente veremos a automatização de operações complexas com drones, a otimização da eficiência energética dos edifícios, infraestruturas inteligentes com objetos do dia a dia conectados e muito mais. Mas ainda levará vários anos até sentirmos todo o seu efeito – prevê Cristina.
Ainda que inicialmente a passos curtos, o 5G nasce conectando bilhões de dispositivos, incluindo carros autônomos, TVs inteligentes e outros objetos propagadores de sinal (29 bilhões, conforme estimativas de empresas como a Ericsson e a Verizon, em 2022). A partir dessa implementação, aparelhos conectados à internet poderão integrar suas atividades em um ambiente “quase vivo” de relações máquina-máquina e máquina-ser humano.
– Essa captação massiva de dados só será possível com uma rede adequada. A quinta geração se propõe a ser essa rede – completa Silva.
Conforme Marcos Ferrari, presidente-executivo da Conexis Brasil Digital, que representa as operadoras de telefonia, o 5G não traz apenas mudança de aparelhos, é uma mudança na conexão móvel.
—É uma plataforma que terá aplicativos que estão chegando. O 4G foi uma plataforma que viabilizou Uber, Airbnb, aplicativos financeiros. A experiência do 5G vai depender das aplicações, que terão muita ênfase no B2B (entre empresas), como internet das coisas, manufatura 4.0, mas também telemedicina e educação conectada. É um perfil diferente. Alguma operadora pode optar, por exemplo, por dar prioridade a um polo industrial.
Antenas no DF
A instalação dos filtros foi concluída em Brasília na última sexta-feira, dia 1º. A cidade saiu na frente porque havia por lá menos antenas a serem adaptadas em comparação com as demais capitais, explicou o conselheiro da Anatel. Ao longo do fim de semana, foram feitos testes com a ativação parcial e controlada do 5G, e, mesmo assim, foram registradas interferências entre o sinal de internet e o de TV - o que exigiu novos ajustes
Na segunda etapa de implementação da tecnologia no Brasil, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e João Pessoa receberão o sinal, mas ainda não há uma data definida. O prazo para todas as capitais brasileiras receberem o 5G é 29 de setembro de 2022.
Cronograma
Em junho, o Conselho da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprovou o pedido de prazo adicional de 60 dias para as operadoras ativarem a internet móvel de quinta geração (5G) nas capitais estaduais.
Pela regra original, o 5G deveria estar disponível nas capitais até 31 de julho. Agora, as operadoras estarão liberadas para concluir a implementação das redes até 29 de agosto, com a ativação do sinal para uso geral da população em até 30 dias a partir daí. A possibilidade de extensão do prazo já era prevista no edital dos lotes de frequências para o 5G, realizado em novembro do ano passado pela Anatel.
A proposta de utilização de uso desse prazo adicional partiu do Grupo de Acompanhamento das Obrigações da Faixa de 3,5 Ghz (Gaispi). A faixa de 3,5 Ghz está passando por uma limpeza a fim de evitar interferências no tráfego do sinal de 5G com os sinais de TV para antenas parabólicas, que até então usavam o mesmo espaço. O problema é que as teles relataram demora no recebimento de aparelhos para limpeza da faixa.
O que é o 5G
É a nova tecnologia de internet, capaz de mudar as comunicações como um todo, pela intensidade das conexões e pela sua alta capacidade de difusão. Estima-se que as redes 5G precisarão de 15 vezes mais espaço do que as tecnologias 2G, 3G e 4G combinadas.