A economia do Rio Grande do Sul segue com ritmo de recuperação maior no setor terciário. Serviços e comércio fecharam o primeiro quadrimestre do ano no azul no Estado. A indústria continua no negativo, mas em patamar melhor do que o registrado no acumulado do primeiro trimestre.
Os dados estão presentes nas pesquisas mensais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgadas nas últimas semanas. Manutenção de demanda maior por serviços após a fase mais crítica da pandemia e produção industrial oscilando diante de uma base de comparação muito forte ajudam a explicar esse movimento, segundo especialistas.
O setor de serviços segue com o melhor desempenho entre os três principais pilares da economia no país. De janeiro a abril, o setor cresceu 16,3% no Estado mesmo com queda no quarto mês do ano. Dentro do setor, o grupo de serviços prestados às famílias permanece com o melhor desempenho, crescendo 42,3% no período. Esse ramo engloba alguns segmentos, como os de hotelaria e de bares e restaurantes, que ganharam mais espaço com o avanço das liberações de circulação.
O economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank, destaca que essa dinâmica segue na esteira do comportamento de consumo em meio ao controle do quadro sanitário. Com ressalva em relação aos dados do IBGE, que, segundo o economista, mostram amplitude não observada na prática, Frank reforça a influência de uma demanda reprimida nesse avanço:
— Esse movimento de retomada, de uma demanda reprimida, com as pessoas querendo ficar mais próximas umas das outras, naturalmente acaba puxando essa parcela, esse segmento de serviços.
Com atualização sazonal nos dados de março, que elevou de 1,6% para 9,7% o volume de vendas no varejo, o comércio cresceu 0,6% em abril. No ano, o setor acumula avanço de 10,4%. Destacando mais uma vez certa discrepância no tamanho do salto nos dados do primeiro quadrimestre, Frank cita o peso de alguns incentivos ao consumo dentro desse resultado nos setores de serviços e comércio.
— A gente também teve o impacto positivo do Programa Renda e Oportunidade, do governo federal. Tem a liberação dos saques parciais do FGTS, a antecipação do 13º de aposentados e pensionistas, a facilitação do crédito para alguns grupos de pessoas. Tudo isso acabou colaborando — avalia.
Ele salienta que a inflação, que segue persistente, e os efeitos do juro elevado são alguns dos fatores que funcionam como uma âncora no consumo.
Oscilação
A indústria segue com resultado negativo no acumulado do ano, mas apresentou ligeira melhora em abril. Os segmentos coureiro-calçadista, de fabricação de móveis e da indústria de borracha e material plástico tiveram os piores resultados no período.
O economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), André Nunes de Nunes, afirma que o setor vive uma espécie de acomodação diante da comparação com retomada forte nos primeiros meses de 2021:
— Quando compara o acumulado do ano, evidentemente tem uma queda, porque o início do ano passado foi muito intenso. Agora, quando a gente acompanha os últimos meses, é possível ver que continuamos em uma tendência de retomada, mas muito mais lenta.
Esse ritmo, marcado por períodos de estabilidade e oscilação, citado pelo economista, também é observado em dados da Fiergs. O Índice de Desempenho Industrial avançou 1,5% em abril em relação ao mês anterior, atingindo o maior patamar desde outubro de 2014. Mesmo com o resultado positivo, o estudo mostrou cenários divergentes, com crescimento em indicadores ligados ao trabalho, mas queda em faturamento real, compras industriais e utilização da capacidade instalada no mês. Nunes afirma que esse extrato reforça que a indústria não vive uma tendência de queda, mas de desaceleração.
Segundo semestre com cenário desafiador
O resultado dos setores, com base nas pesquisas do IBGE, corrobora o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do país no primeiro trimestre. O PIB nacional cresceu 1% na arrancada do ano, puxado pelo setor de serviços, com alta no consumo das famílias. Assim como as estimativas para a economia do país em 2022, especialistas projetam arrefecimento nos principais setores. A falta de tração diante de inflação e juro em elevação ajudam a compor esse cenário desafiador.
O economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), André Nunes de Nunes, estima que os efeitos da sequência de altas da taxa Selic e das políticas econômicas dos Estados Unidos e de outros países desenvolvidos na economia acabam afetando a indústria. Esses impactos são observados em exportações e investimentos, segundo Nunes:
— Quando a gente olha em termos de produção industrial para este ano, a gente ainda está prevendo um crescimento de 1% no acumulado. É um avanço bem mais tímido do que o observado no ano passado, mas não dá para dizer que o ano será perdido.
No comércio e nos serviços, o economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, afirma que, além da inflação e dos juros elevados, o cenário eleitoral no país e as dificuldades da economia global pesam em um cenário menos otimista. O fim de programas de incentivo por parte do governo também tem participação nessa desaceleração prevista para a segunda metade do ano na avaliação de Frank.
— Essas medidas tendem a se esvair e a gente não vai mais colher os benefícios dessa injeção de recursos, de liquidez ao longo do segundo semestre — pontua.