Um dos principais alimentos na mesa do brasileiro, a carne segue pressionando o orçamento das famílias. O preço médio da carne bovina cresceu 16% em um ano no Rio Grande do Sul, segundo dados do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), da UFRGS. Alguns cortes chegam a ter elevação na casa dos 23%.
O levantamento mostra a variação de valores entre abril deste ano e o mesmo mês de 2021. A pesquisa coleta preços de Porto Alegre, Região Metropolitana e dos principais centros consumidores do Estado. Aumento nos custos de produção é um dos principais motivos desse movimento, conforme especialistas.
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, afirma que o preço da carne segue elevado diante da pressão enfrentada pelos produtores nos custos. O economista explica que existe uma dificuldade ao tentar repassar esse aumento ao consumidor final, pois a alta nos gastos ocorre em patamar maior na produção:
– É uma prova de que nem todo o aumento de custo é possível de ser repassado. Uma boa parte desse problema é amortecido dentro da cadeia produtiva, que começa no produtor e termina no supermercado.
Luz destaca que os fertilizantes e gastos com energia estão entre os principais itens que aumentam os custos na produção.
– Os fertilizantes são os principais fatores hoje do aumento de custos. Depois, temos os combustíveis que são muito importantes para a composição do custo, porque tem a parte de transporte desses animais. A energia elétrica também impacta muito o custo industrial – pontua o economista-chefe da Farsul.
É um hábito do gaúcho, que não abre mão da costela. Falta costela no Rio Grande do Sul. Inclusive, vem de outros Estados. Isso acaba encarecendo o produto acima do índice médio de outros cortes
JÚLIO BARCELLOS
Coordenador do Nespro
A costela, peça importante no churrasco do gaúcho, carrega a maior variação dentro da pesquisa do Nespro. O corte apresentou preço médio de R$ 58 em abril deste ano no Estado. No mesmo mês do ano passado, a costela era encontrada a R$ 47. Ou seja, apresentou variação de 23,4% no período. Na sequência, aparecem a carne moída de primeira (aumento de 23,2%) e a maminha (elevação de 21,6%).
O coordenador do Nespro, professor Júlio Barcellos, afirma que esses cortes tiveram maiores saltos em razão da demanda.
– São características de consumo regional. É um hábito do gaúcho, que não abre mão da costela. Falta costela no Rio Grande do Sul. Inclusive, vem de outros Estados. Isso acaba encarecendo o produto acima do índice médio de outros cortes – explica Barcellos.
O coordenador do Nespro afirma que, apesar do aumento, a variação do preço da carne no período atual é menor do que a observada em anos anteriores (ver gráfico). Essa desaceleração deve ser fruto da redução do consumo da população. Isso ocorre em razão da perda de poder aquisitivo das famílias, que acabam tirando o item do cardápio, de acordo com Barcellos.
O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que o aumento no valor dos grãos também tem participação na manutenção do preço elevado do produto. Esse fator pode ser impulsionado pelos efeitos da guerra na Ucrânia na economia e pela estiagem.
– A gente viu uma escalada grande no preço dos grãos. Na soja, no milho, que são grãos usados como ração para trato desses animais – diz Braz.
A última edição do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de março, também mostra elevação no preço desse alimento. O indicador, que mede a inflação oficial do país, mostra que o grupo de carnes, incluindo cortes bovinos e de porco, subiu 10,40% nos últimos 12 meses na região metropolitana de Porto Alegre.
Próximos meses
Especialistas destacam que é difícil ocorrer queda no preço do produto. No entanto, uma desaceleração na escalada de valores pode ocorrer nos próximos meses. Braz projeta que a carne e o grupo de alimentos seguirão com preços elevados neste ano. A desaceleração nos valores da proteína será observada a partir do segundo semestre na esteira da perda de ritmo da inflação, segundo ele. No entanto, os efeitos das eleições e da guerra na Ucrânia jogam a expectativa de pé no freio mais forte nos preços somente para a partir do ano que vem, diz Braz:
– Vai depender do rumo dessas eleições. De como vai ser a política monetária no ano que vem, qual será o plano do futuro governo. Isso pode colaborar para redução da inflação em 2023. Sem contar esse cenário de guerra que até lá deve ter tomado um rumo diferente.
Destacando que a inflação alta ocorre em escala global, o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, estima que a carne seguirá com preço elevado no curto prazo.
– Infelizmente, a inflação vai sendo repassada e vai circulando. Acredito que as carnes vão continuar com valor alto, assim como os demais produtos medidos pelo IPCA.
O coordenador do Nespro avalia que o preço do produto manterá trajetória de desaceleração em razão da perda de poder aquisitivo da população. Nesse sentido, estima que o aumento pode fechar 2022 abaixo de 10%. No entanto, diz que existe a possibilidade de um crescimento maior nos próximos meses por causa da entressafra de oferta de animais para abate.
– Essa entressafra geralmente encarece um pouco a aquisição do boi pelo frigorífico. Então, possivelmente tenhamos no próximo quadrimestre uma margem maior de aumento – explica Barcellos.
Dicas para economizar
- Procure comprar nas promoções. Faça pesquisa de preços. Acompanhe os valores e evite comprar quando está muito caro
- Procure fazer pratos alternando frango, carne, peixe e porco. Ovo também é fonte de proteína e pode ser um ótimo acompanhante. Leguminosas como feijão, lentilha, grão de bico, soja e ervilha também são ótimas fontes de proteína.
- Atente para comprar e preparar somente a quantidade necessária para o consumo
- Pesquise alternativas de pratos mais em conta
Fonte: professora Wendy Haddad Carraro, do Curso de Ciências Contábeis da UFRGS e coordenadora de programa de extensão em educação financeira na universidade