Não está fácil. A salada vai perdendo a companhia do tomate. E o café, que já estava mais amargo, agora também vai ficando sem o leite. O levantamento mensal do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgado nesta quarta-feira (6), mostra que o tomate ficou 23,5% mais caro em março, se comparado com fevereiro. No ano, o item já soma inflação de 8,69% e, em 12 meses, o índice salta para 80,86%. No conjunto dos 13 produtos da cesta básica, o aumento entre fevereiro e março foi de 5,51%.
Os dados são referentes a Porto Alegre e contemplam 13 itens que compõem a cesta básica do Dieese. Conforme o relatório do departamento, a alta da fruta comumente usada em saladas está ligada "ao menor volume de tomates ofertados, com a aproximação do final da safra de verão, que provocou o aumento nos preços".
Depois do tomate, aparece o leite. Item essencial para muitas famílias brasileiras, o alimento saltou 9,84% entre fevereiro e março. Só em 2022, a inflação no leite foi de 11,58%. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o acúmulo é de 19,41%.
O levantamento do Dieese pontua que "o aumento nos custos da produção de leite, a diminuição nos estoques de derivados lácteos e a competição por matéria-prima entre as indústrias sustentaram a elevação nas cotações do leite UHT".
Companheiro do leite em muitas ocasiões, o café seguiu subindo em março, alta de 2,16%, que não está entre as maiores dos 13 itens que compõem a cesta. Mas, no acumulado de 12 meses, o grão ficou 64,69% mais caro, atrás somente do tomate neste mesmo período.
Comparação
Só em 2022, a cesta básica ficou 7,52% mais cara. E, no último ano, a alta é de 17,79%. Poucos itens ainda têm variação negativa na tabela. Desde janeiro, somente a manteiga recuou de preço, em 0,78%. Em relação a março do ano passado, três itens apresentam deflação: arroz (-18,7%), banana (-4,8%) e feijão (-2,09%).
Na cesta básica de Porto Alegre de março, nenhum alimento apresentou queda de valor na comparação com fevereiro. Além do tomate e do leite, outros seis alimentos tiveram inflação superior a 5%. No levantamento de fevereiro, somente dois produtos tinham tido alta acima desse percentual. A maior parte, nove itens, subiu menos de 2%.
Maior valor da série histórica
Toda essa elevação de março colocou a cesta básica de Porto Alegre acima dos R$ 700 pela primeira vez na série histórica do Dieese, que acompanha a variação desde o início do Plano Real, em 1994. O conjunto de 13 alimentou fechou o mês ao custo de R$ 734,28. Apesar disso, a economista-chefe do Dieese-RS, Daniela Sandi, alerta que o mais importante nessa conta é a relação com o salário mínimo.
— A cesta ficou pela primeira vez acima dos R$ 7000, mas não é o período com o maior comprometimento do salário com a cesta nos últimos meses. Isso foi em outubro de 2021, quando 67,92% do salário ia para a cesta básica — pontua a economista.
Em março, o comprometimento do salário mínimo com a cesta básica foi de 65,5%. Atualmente, o salário mínimo no país é de R$ 1.212. O levantamento do Dieese também sempre pontua qual seria o salário mínimo necessário para o sustento de uma família no país. Em março, o valor foi de R$ 6.394,76, ou 5,28 vezes o mínimo em vigor.