Depois de começar o ano em queda, a cesta básica de Porto Alegre voltou a subir em fevereiro. A alta foi de 3,4%, conforme o levantamento mensal do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgado nesta quarta-feira (9). A pesquisa leva em conta o preço médio de 13 itens considerados essenciais para a subsistência de uma família brasileira. Entre os alimentos presentes na cesta básica, somente um recuou de preço em janeiro, a banana — com deflação de 1,21%.
Os outros 12 itens presentes na pesquisa tiveram altas variadas. Em oito deles, o acréscimo de preço foi inferior aos 3%. Nos outros quatro que tiveram elevação superior a isso, a batata foi destaque. O tubérculo ficou 29,23% mais caro entre janeiro e fevereiro. Ainda assim, a batata acumula queda de 6,67% no preço quando comparada com o mesmo período do ano passado. Economista-chefe do Dieese-RS, Daniela Sandi cita o que influenciou na alta do alimento:
— As chuvas reduziram a oferta da batata e elevaram os valores dela no varejo. Junto com a carne, a batata está entre os itens que mais impactaram nessa alta de 3,4%.
Em segundo lugar entre as maiores altas, está o companheiro fiel do arroz. O feijão subiu 6,66% em fevereiro, quando comparado com o primeiro mês do ano. Em 12 meses, o acréscimo de preço acumulado no alimento é de 3,62%.
O número mensal do feijão é semelhante ao tomate, terceiro com maior alta na cesta de fevereiro. A inflação na fruta comumente usada em saladas foi de 6,36%. Ainda assim, o tomate já desvalorizou 12% só em 2022. Na cesta de janeiro, o alimento havia recuado 17,26% em seu valor, quando comparado com dezembro passado. Em 12 meses, o tomate acumula alta de 16,91%.
— O feijão, um item essencial do prato brasileiro, vem perdendo espaço na lavoura para a soja, que é mais atrativa pelo ganho e exportação. Com a política de estoques reguladores e segurança alimentar vem sendo deixada de lado no país desde 2016, o acesso das famílias a esses itens essenciais vêm se dificultando — pontua Daniela.
Café segue em escalada de preço
Apesar de ficar só com o quarto lugar entre os itens que mais subiram de valor entre janeiro e fevereiro, o café está cada vez mais caro. Na comparação mensal, o grão subiu 4,86% em fevereiro. Porém, em 12 meses, o item essencial para formulação da bebida quente favorita dos brasileiros já acumula uma inflação de 64,7%. É o item com a maior alta acumulada em 12 meses entre os 13 que compõe a cesta básica do Dieese, levando em conta os dados de Porto Alegre.
O café é seguido de perto entre as maiores altas no acumulado de 12 meses pelo açúcar _ inflação de 49,17% em um ano. Os dois itens são importantes commodities do Brasil, tendo os níveis de importação elevados nos últimos meses, com a demanda do mercado internacional pressionando o aumento de preços no mercado interno, como aponta o relatório do Dieese. Daniela pontua uma das razões para a alta do café:
— A queda do volume produzido na safra atual está causando impactos no preço do café nos mercados futuros, com reflexos também no varejo.
No lado oposto das altas, quando se olha para a variação acumulada em 12 meses, o arroz é o alimento que mais perdeu valor, quando comparado com o mesmo período de 2021. É um deflação de 25,93%. Com isso, o principal alimento da mesa brasileira, junto com o feijão, vai retomando um patamar de preço mais perto do que os consumidores do mercado interno estão acostumados, depois do período de alta intensa registrado nos momentos mais agudos da pandemia de coronavírus.
Em setembro de 2020, a saca do arroz tipo de 50 quilos, conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP), ultrapassou a barreira dos R$ 100 pela primeira vez. Era o nível mais alto na série histórica do Cepea, iniciada em 2005. Para se ter ideia do salto no preço, na mesma época de 2019, o valor da saca era de R$ 44,76, um aumento superior aos 124%.
Entre as mais caras do país
O levantamento do Dieese é feito em 17 capitais brasileiras. Na pesquisa com os dados de fevereiro, a cesta de Porto Alegre ficou custando R$ 695,91. O valor é o quarto mais caro do país entre os locais pesquisados, atrás de Rio de Janeiro (R$ 697,37), Florianópolis (R$ 707,56) e São Paulo (R$ 715,65).
O valor da cesta na Capital corresponde 62,07% do salário mínimo brasileiro, em R$ 1.212, atualmente, ou 126 horas de trabalho. A pesquisa do Dieese também aponta qual seria o salário mínimo necessário para uma família brasileira. Em fevereiro, o valor ficou em R$ 6.012,18, quase cinco vezes o que está em vigor no país.