A chuva que se espraiou pelo Rio Grande do Sul nas últimas semanas amenizou os efeitos da estiagem que castiga o Estado desde o fim do ano passado. Balanço da Sala de Situação da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) aponta que 11 dos 16 rios com dados de medição atualizados apresentaram elevação nesta terça-feira (5), na comparação com o início da semana passada. Na avaliação do órgão, as precipitações recentes representam alívio em um cenário sem chuva consistente, mas ainda não marcam o início do fim da estiagem na questão hídrica.
Todos os rios dentro do levantamento da Sema estão fora de situação crítica. O panorama é melhor nas bacias da metade norte do Estado. Já no Sul, o cenário é menos favorável, com as bacias em estágio de atenção.
A hidróloga da Sala de Situação Marcela Nectoux afirma que a chuva das últimas duas semanas foi boa, pois, além de volume, veio mais espalhada:
— Essa chuva que está sendo registrada está de fato aumentando o nível dos rios. Está havendo uma resposta hidrológica, que no verão a gente não viu com essa intensidade. A gente tem precipitações melhor organizadas, mais distribuídas. Com isso, a gente consegue ter a resposta no nível dos rios. Isso é positivo — explica a hidróloga.
Marcela destaca que, apesar do alívio trazido por essas precipitações, a previsão para os próximos meses não permite traçar um cenário mais otimista em relação ao fim da estiagem. Como o Estado passou por três anos com chuva abaixo da média, seria necessário haver a manutenção do cenário observado nas últimas semanas para os próximos meses:
— No curto prazo, a gente está tendo essa resposta no nível dos rios, e isso é importante, mas a situação preocupa no longo e médio prazo. A gente observa previsões para os próximos três meses de chuva abaixo da média. Não se vê no horizonte quadro de chuva dentro da média ou acima da média, como precisaríamos para reversão do déficit.
No campo
Alencar Rugeri, diretor-técnico da Emater, afirma que a chuva das últimas semanas representa o fim dos impactos da estiagem nas culturas do agronegócio no Estado em um cenário geral. Isso significa que a falta de água não é um problema para as culturas, neste momento, na maioria das propriedades. No entanto, Rugeri destaca que isso não caracteriza o fim da estiagem na questão hídrica, que precisa de mais precipitações para recuperação.
O diretor-técnico afirma que os danos causados pela estiagem na agricultura gaúcha seguem nos mesmos moldes da última estimativa da Emater, que citou a quebra de 41,9% na safra de grãos do verão 2021-2022 em relação à projeção inicial.
— Temos uma quantia de milho, de soja que foi plantada fora da janela adequada, mas ainda é uma incógnita o que pode acontecer. Essa não está sofrendo com a questão hídrica, mas não foi considerada naquele momento (da estimativa) — pondera.
O mais recente Boletim do Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul (Copaaergs), que projeta os meses de abril, maio e junho, avalia que a estiagem começa a ser minimizada neste outono. A agrometeorologista e coordenadora do Copaaergs, Loana Cardoso, afirma que os prognósticos indicam chuvas próximas do normal, o que representa momento para o armazenamento de água no solo e início da recuperação dos mananciais.