Pouco mais de um mês após entrar em vigor, o programa do governo estadual que banca subsídio em juros de crédito para pequenas empresas beneficiou 16,9 mil empreendimentos até a última semana. Esse valor representa 84% das 20 mil operações de crédito previstas pelo governo no lançamento da ferramenta.
Os financiamentos ligados a essas empresas movimentaram o montante de R$ 440,2 milhões nas instituições bancárias, valor que também se aproxima da estimativa do governo. Desse montante que dá fôlego aos empreendimentos, 40% já foi liberado para 8,2 mil tomadores de crédito. O restante está em contratação ou contratados. O benefício é voltado para microempreendedores individuais (MEIs), microempresas (MEs) e empresas de pequeno porte (EPPs).
Lançado no fim de janeiro e com operação começando no início de fevereiro, o Programa Juro Zero RS conta com R$ 100 milhões para bancar os juros de ações financeiras para empresas. A ação faz parte do projeto Avançar, que prevê investimento em áreas estratégicas do Estado. Os beneficiados podem usar o dinheiro para capital de giro ou em investimento.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Edson Brum, avalia que os números mostram a boa adesão ao programa, que está prestes a atingir a meta de valor movimentado. O comandante da pasta destaca que a injeção desse recurso no Estado é importante porque estimula diversos setores da economia.
— Isso ajuda a manter e gerar empregos nessas empresas. Porque circula o dinheiro nas cidades — pontua.
O diretor-superintendente do Sebrae-RS, André Vanoni de Godoy, afirma que a entidade ainda não obteve dados sobre a destinação dos recursos por parte das empresas. No entanto, o dirigente estima que a maior parte tenha sido utilizada para promover o investimento nos negócios, como renovação de maquinários e compra de matéria-prima. Ao justificar essa avaliação, ele cita levantamento recente do Sebrae que aponta nível baixo de inadimplência dos pequenos negócios em período recente.
— A última pesquisa do Sebrae, que vai sair nos próximos dias, mostra que o índice de inadimplência dos pequenos negócios em relação às dívidas contraídas nesse período é de 17%. O que é um número pequeno, considerando as dificuldades pelas quais passaram as pequenas empresas — explica Godoy.
O diretor também destaca que esses recursos são importantes para capital de giro, mantendo as empresas saudáveis após um período de economia enfraquecida:
— Tem um ditado que diz o seguinte: a empresa quebra pelo caixa. A empresa pode ter equipamentos, prédios, estoque, matéria-prima, mas, se ela não tiver dinheiro no caixa para fazer girar a operação, ela quebra.
Godoy destaca que esse e outros programas voltados para os pequenos negócios, como o Pronampe, iniciativa do governo federal na linha de crédito, são ferramentas fundamentais para diminuir o prejuízo e o fechamento de empresas.
A MEI Joseandra Riske faz parte dos milhares de empresários que solicitaram o benefício de juro zero. Atuando na prestação de serviços para a construção civil em Santa Rosa, no Noroeste, Joseandra afirma que o crédito com o juro subsidiado ajudou a aliviar o caixa do negócio e a aquisição de itens.
— Usei para capital de giro e para a compra de materiais. Salvou uns dois meses da empresa — destacou a empreendedora.
Em Caxias do Sul, o grupo EJRos Brasil aproveitou o recurso para expansão do negócio e manutenção de empregos. A EPP atua na área de prestação de serviços, com consultoria, call center, laboratório de ensaio e de metrologia, e, na parte de produtos, com a confecção de acessórios para mobiliários. A empresa conta com cerca de 30 funcionários e está mudando de sede. O diretor-executivo da companhia, Everton De Ros, afirma que esse programa é importante porque geralmente empresas de porte menor não têm acesso a grandes linhas de crédito e precisam de recursos para manter a operação.
— Esse dinheiro veio em boa hora porque vai garantir a nossa sustentabilidade. Precisamos desse recurso para garantir os investimentos que a gente está fazendo, para manter os empregos da equipe e para continuar com a nossa busca por crescimento — destaca De Ros.
Nova rodada em discussão
A expectativa do governo estadual é de chegar em um montante entre R$ 510 milhões e R$ 520 milhões em valores financiados via programa nessa primeira rodada, que está quase fechada. O governo projetava cerca de R$ 600 milhões, mas esse total foi revisado em razão da alta da Selic.
Neste momento, o secretário Edson Brum informa que existe espaço para novas solicitações apenas no âmbito de MEIs. Questões na análise de crédito dos bancos e baixa procura dentro desse grupo devem frear repasse maior para os MEIs, como foi previsto inicialmente. No âmbito dos MEs e das EPPs, caso todos os contratos em análise sejam aprovados, o valor para subsidiar as transações será liquidado, segundo Brum.
O secretário afirma que está pleiteando junto ao governo uma nova rodada do programa. Nesse sentido, em parceria com o Departamento de Economia e Estatística (DEE), está sendo realizado um estudo sobre a importância e a viabilidade dessa segunda fase.
— Se nós colocarmos, por exemplo, R$ 10 milhões, R$ 20 milhões, poderíamos fomentar R$ 100 milhões, R$ 120 milhões, R$ 130 milhões a mais em empréstimos. Isso vai fazer o dinheiro circular — afirma.
Brum também destaca que já foi aberta uma proposta para que o Programa Juro Zero RS se transforme em um projeto de Estado, ou seja, definitivo. O secretário destaca que, caso isso seja efetivado, os recursos repassados para subsidiar as taxas seriam menores.
O diretor-superintendente do Sebrae-RS afirma que a transformação do juro zero em um programa permanente é válida em um contexto em que a ferramenta seja reformulada. Godoy avalia que é necessário garantir um mecanismo sustentável e compatível com a realidade dos pequenos negócios:
— O governo pode usar o recurso que arrecada da sociedade para ajudar as empresas, desde que as empresas devolvam esse dinheiro para os cofres públicos de maneira que esse valor possa girar. Compor o capital de giro do governo, do Estado, para que ele continue criando políticas públicas que beneficiem um grande número de pessoas na sociedade em geral.