Cada vez mais presente em imóveis residenciais e empresariais, a energia gerada por meio do sol deu um salto no Estado no último ano. A potência instalada de energia solar atingiu 1.001,2 megawatts (MW) em 2021, crescimento de 74,15% ante o volume de 2020. O Estado segue na terceira colocação no país nesse indicador, atrás de Minas Gerais e São Paulo. Apenas esses três Estados têm potência instalada acima dos mil MW no Brasil. Os dados são da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar).
Até 2020, a potência instalada total em solo gaúcho estava em 574,9 MW. Em 2021, houve acréscimo de 426,3 MW no sistema. A coordenadora da Absolar no Estado e sócia da Solled Energia, Mara Schwengber, afirma que a expansão ocorreu em todas as áreas, tanto no âmbito residencial, quanto no empresarial. A executiva destaca que a economia com a migração para o sistema é um dos principais motivos que explicam o crescimento.
Como exemplo, Mara cita a dinâmica dos custos com energia elétrica no último ano. Com a crise hídrica pressionando a conta de luz diante de bandeiras tarifárias mais agressivas, a geração própria ganhou maior espaço, segundo a dirigente. A coordenadora destaca que o aumento do uso de energia diante de novas tecnologias também pesa:
— Tudo hoje é eletricidade. A maioria das pessoas tem ar-condicionado, novos equipamentos que geram consumo. Então, as contas de energia têm aumento de consumo pela facilidade de acesso aos aparelhos eletrônicos. Além disso, a própria conta tem aumentado.
A coordenadora da Absolar também cita o marco legal da geração própria de energia, lei sancionada no início deste ano, que pode explicar o aumento da busca por energia solar. A nova legislação prevê o fim gradual do subsídio para os consumidores. No modelo atual, micro e minigeradores não pagam tarifas por distribuição. A nova lei assegura aos consumidores que já têm o sistema instalado e aos que solicitarem a ferramenta em até 12 meses continuarem com esse subsídio até 31 de dezembro de 2045.
Diante do prazo para assegurar esse direito e a tendência de a energia elétrica continuar cara, a coordenadora estadual da Absolar estima novo crescimento exponencial no setor neste ano. A entidade projeta que a potência instalada deve avançar 105% em 2022, chegando aos 2 mil MW.
Universidade
Um dos empreendimentos de energia solar que começou a tomar forma neste ano no Estado está localizado Campus Litoral Norte da UFRGS. No local, está sendo instalada uma usina geradora com 996 módulos em uma área de 744 metros quadrados. Os equipamentos vão permitir que o campus tenha produção própria de eletricidade. A instalação começou há duas semanas e deve terminar em março.
A coordenadora e supervisora do projeto, Aline Cristiane Pan, professora do curso de Engenharia de Gestão de Energia da UFRGS, afirma que, além do retorno financeiro e da importância ambiental, a unidade geradora tem papel importante no ensino dos alunos:
— Ter essa usina, que vai ser um laboratório a céu aberto para os alunos, é algo que nos motiva muito. A nossa usina tem todo esse viés de pesquisa e desenvolvimento e de representatividade, porque a gente faz muitos eventos para a sociedade.
No sistema de geração distribuída fotovoltaica, a sobra da energia gerada pela unidade produtora do cliente é enviada para a concessionária da região, que transforma esse excedente em créditos de energia solar. Esses créditos poderão ser utilizados pelo consumidor para abater o valor da conta de luz quando for necessário em um período determinado de tempo. A validade é de 60 meses.
Atualmente, o consumidor consegue consumir estes créditos apenas dentro da área da concessionária onde a energia é gerada. Por exemplo, se o cliente mora em Porto Alegre, em uma residência com sistema de energia solar, e tem uma segunda casa no litoral, onde a mesma empresa administra o serviço, ele pode escolher onde usar esse benefício. Se as casas ficam em áreas com concessionárias diferentes, isso não é possível. A nova lei abre espaço para a compensação entre a concessionária e as permissionárias, como é o caso das cooperativas, em alguns casos.
Aumento de empregos
Atualmente, o país tem 13 mil MW de potência operacional em energia solar. Desse volume, 8,4 mil MW são de potência instalada de geração própria. O Rio Grande do Sul tem participação de 12% nesse montante. O Estado está colado no segundo colocado, São Paulo, e distante do quarto, Mato Grosso.
Desde 2012, o setor já provocou investimento de R$ 5,1 bilhões. Toda essa expansão e investimento gera impacto no mercado de trabalho. Segundo a Absolar, o setor é responsável pela criação de cerca de 30 mil empregos no RS desde 2012.
Mulheres
A professora Aline Cristiane Pan, da UFRGS, afirma que o número de vagas no setor cresce exponencialmente. Ela destaca que vê esse movimento na prática junto dos alunos de Engenharia, pois muitos atuam na área:
— É onde mais está demandando estágio, onde mais estão se colocando no mercado. Vejo isso diretamente.
Coordenadora da Rede Brasileira de Mulheres na Energia Solar, Pan salienta que o público feminino no setor vem crescendo. A rede começou em 2019 com 48 integrantes. Hoje, são cerca de 300.
Coordenadora da Absolar no Estado, Mara Schwengber afirma que há vagas abertas em muitas empresas no Rio Grande do Sul, desde em áreas administrativas até em postos mais técnicos, de engenharia e instalação.
— Para ter uma ideia, só na Solled Energia, fechamos 2021 com 170 empregos diretos e continuamos com cerca de 30 vagas abertas — exemplifica a coordenadora.
Schwengber acrescenta que a tendência para 2022 é de aumento na oferta de vagas no setor.