Em um ano marcado por tentativas de recuperação após o período mais complicado da pandemia no país em 2020, os três principais setores da economia fecharam 2021 em alta no RS. O segmento de serviços liderou essa retomada, seguido por indústria e comércio.
Avanço da vacinação e do controle da crise sanitária, comparação sobre uma base fraca do ano anterior e busca por serviços diante de uma demanda reprimida ajudam a explicar esse movimento, segundo especialistas. Para os próximos meses, inflação persistente, juro alto, ano eleitoral e efeitos da estiagem aumentam a incerteza sobre o desempenho da economia.
Os dados fazem parte de pesquisas mensais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgadas na semana passada.
Motor da economia no país, o setor de serviços anotou em dezembro o segundo mês consecutivo de alta no Estado, avançando 1,6%. No ano, o setor registrou crescimento de 12,1% em relação ao período anterior, acima da média nacional. Com o desempenho, o segmento continua acima do patamar pré-pandemia, que tem como base fevereiro de 2020.
O economista Fábio Pesavento, professor da ESPM, avalia que o resultado positivo nos setores, principalmente em serviços, ocorre diante do avanço sobre uma base fraca de comparação de 2020, ano prejudicado pelos efeitos da pandemia. Esse e outros fatores explicam o crescimento mesmo com adversidades, como inflação alta, endividamento das famílias e dólar caro.
— Quando se tem uma base fraca e uma reabertura gradual da economia, como aconteceu no segundo semestre do ano passado, apesar desses elementos negativos, existe um impacto positivo — afirma Pesavento.
O principal fator que dá força e suporte para esse crescimento é justamente o contexto de controle da pandemia, com avanço da vacinação
GIOVANA MENEGOTTO
Economista da Fecomércio-RS
A economista da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS) Giovana Menegotto afirma que o desempenho de serviços está diretamente ligado à reabertura das atividades presenciais, viabilizada em razão do controle da pandemia.
— O principal fator que dá força e suporte para esse crescimento é justamente o contexto de controle da pandemia, com avanço da vacinação. Isso permitiu não só menos restrições e aumento de mobilidade, mas também confiança para as famílias voltarem a demandar os serviços que dependem de atendimento presencial — explica Giovana.
Os números dos segmentos de serviços corroboram a avaliação da economista da Fecomércio-RS. O grupo de serviços prestados às famílias, que também agrega atividades de hotelaria e de alimentação, carrega o maior avanço no volume, com 33,5% no ano. No país, esse indicador também avançou, mas segue abaixo do patamar pré-pandemia.
A economista salienta que o bom resultado de serviços não é homogêneo, pois alguns grupos ainda sofrem na busca por recuperação, enfrentando um processo mais lento.
A indústria fechou 2021 no Estado com avanço de 8,8% na produção, mesmo com retração de 2,1% em dezembro. Segmentos de máquinas e equipamentos e calçadistas estão entre os destaques. O economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), André Nunes de Nunes, afirma que, além da comparação com uma base deprimida de 2020, outros dois vetores explicam esse crescimento:
— Um deles são as vendas externas. Temos um crescimento significativo nas exportações, no ano. E a gente vê também uma demanda maior por bens, de insumos de matérias-primas, que faz com que aquelas nossas indústrias de metalurgia, de produtos químicos também tenham apresentado um aumento de produção, muito para atender fornecedores que ficam até fora do Estado ou em outros países.
O comércio varejista anotou o menor desempenho entre os três setores, com alta de 2,9% ante 2020. A economista Giovana Menegotto, da Fecomércio-RS, cita a inflação alta e persistente, o juro elevado e a busca por serviços em detrimento de bens como fatores que explicam esse avanço mais tímido. Dos três setores, apenas o comércio não recuperou o nível pré-pandemia no Estado.
Desaceleração em meio às incertezas
A economista Giovana Menegotto, da Fecomércio-RS, afirma que o cenário mais restritivo, com inflação e juro alto, junto do emprego que cresce com vagas com menor renda deve criar ambiente de perda de ritmo na economia em 2022:
— Então, 2022 fica um ano no qual a gente deve ver marcado nos setores esse aspecto da desaceleração. De perder força. A gente vai estar em um ambiente mais restritivo.
Giovana destaca que a estiagem que segue castigando o Estado também causa incerteza sobre o desempenho da economia em 2022.
Para 2022, esses fatores que já prejudicaram o país no ano passado vão permanecer em um cenário de instabilidade econômica agravada pela questão eleitoral
FÁBIO PESAVENTO
Economista, professor da ESPM
Na indústria, o economista-chefe da Fiergs afirma que a desaceleração na margem observada em dezembro “começa a dar um pouco do tom das dificuldades que a gente vai ter em 2022”, de taxa de juro mais alta, renda que não acompanha o crescimento da inflação e de taxa de desemprego que segue elevada. Comparação com uma base mais robusta também dificulta crescimento mais forte, de acordo com Nunes.
O economista Fábio Pesavento projeta um cenário de dificuldades para 2022, com velhos problemas, como inflação e desemprego, somados aos efeitos do ano eleitoral, principalmente no âmbito de questões fiscais.
— Para 2022, esses fatores que já prejudicaram o país no ano passado no sentido de ter um crescimento maior vão permanecer, claro, numa menor escala, mas vão estar aí em um cenário de instabilidade econômica agravada pela questão eleitoral — estima o professor da ESPM.
O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do RS (UFRGS) Marcelo Portugal afirma que o comércio tende a ser o setor mais prejudicado em 2022, diante desse cenário econômico desfavorável.
— O comércio precisa que a pessoa tenha dinheiro no bolso ou que ela consiga tomar emprestado. Nenhuma dessas duas coisas será fácil. O comércio acho que vai ter o pior desempenho, principalmente nos itens não essenciais — pontua Portugal.