Antigos desafios ao desenvolvimento do país ganharam impulso e passaram da condição de problemas crônicos para o status de emergência. O avanço da miséria e a destruição do meio ambiente deixaram o país mais faminto, menos verde e mais sujeito a impactos de mudanças climáticas estimuladas pela ação humana. Soluções para a crise alimentar e de desmatamento seguem pendentes para o próximo ano.
Uma das imagens que poderiam resumir 2021 seria a de florestas sendo derrubadas e incendiadas. Um levantamento divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em novembro revelou que a taxa de desmatamento na Amazônia cresceu 22% entre os meses de agosto de 2020 e de 2021 em comparação com o período anterior.
Os 13,2 mil quilômetros quadrados de mata cortados em 12 meses representam a maior área perdida em 15 anos. Para se ter dimensão do que isso representa: a área devastada somente neste período corresponde, aproximadamente, a 27 vezes o tamanho de Porto Alegre.
Além do corte das árvores, as queimadas registradas na Amazônia e no Pantanal lançaram tanta fumaça no ar que a fuligem pôde ser percebida a milhares de quilômetros de distância em Estados como São Paulo e Rio Grande do Sul.
— As queimadas nos biomas brasileiros são fatos de grande preocupação e repercussão mundial no que tange à crise climática. Além de ampliarem as emissões de gases de efeito estufa, degradam nosso patrimônio natural e comprometem inclusive o futuro econômico dos brasileiros. Menos visíveis, mas não menos preocupantes, são os incentivos ao desmatamento, à grilagem e à mineração em terras indígenas — enfatiza o presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Heverton Lacerda.
Lacerda cita ainda a liberação de agrotóxicos e investimentos em grandes projetos de mineração como preocupações da entidade. Para 2022, outra missão será buscar a reestruturação dos conselhos de meio ambiente para ampliar a defesa da natureza em níveis municipais, estaduais e federal.
As queimadas nos biomas brasileiros são fatos de grande preocupação e repercussão mundial no que tange à crise climática.
HEVERTON LACERDA
Presidente da Agapan
Parte do desmatamento serviu para a produção de alimentos que não estão chegando à mesa de um número crescente de brasileiros. Estima-se que, na virada do ano anterior para 2021, perto de 20 milhões de pessoas estivessem passando fome no país, em um cenário de insegurança alimentar ampliado pela pandemia, mas que já vinha se agravando antes dela em razão das dificuldades econômicas e da falta de políticas públicas eficientes.
Em 2014, o Brasil havia deixado de figurar no Mapa da Fome elaborado pela Organização das Nações Unidas, mas, apenas quatro anos depois, já contava mais de 10 milhões de famintos. O novo vírus apenas intensificou a miséria e multiplicou cenas de pessoas revirando lixo ou pilhas de ossos de animais em busca de qualquer coisa para encher a barriga.
O calendário avançou, mas, em relação à garantia de comida na mesa da população, o país retrocedeu e exige soluções emergenciais.