A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) iniciou na quinta-feira (4) o leilão do 5G, que vai possibilitar a implementação de tecnologia para internet móvel de alta velocidade no país. Ao todo, das 15 operadoras que apresentaram propostas para os lotes de frequências disponíveis no certame, nove já garantiram a operação de quinta geração, incluindo as três que já atuam em todo o país: Claro, Vivo e TIM.
As negociações no primeiro dia já resultaram numa arrecadação de R$ 7 bilhões ao governo federal. A expectativa é que o processo seja encerrado nesta sexta-feira, com os arremates da frequência de 26GHz.
A definição das empresas que vão explorar a tecnologia é o pontapé para que o 5G desembarque no país e comece a ser instalad0, primeiramente, pelas capitais.
Quais são as inovações esperadas?
A expectativa é de que a internet móvel de quinta geração garanta avanços em diversas áreas. As altíssimas velocidades poderão permitir novas aplicações focadas tanto no consumidor final, com chamadas de vídeos sem travar, quanto no setor produtivo, como linhas ainda mais automatizadas. Principais inovações:
- Maior velocidade: taxas de transmissão pelo menos 10 vezes mais rápidas
- Baixa latência: menor tempo de atraso fará com que os dados cheguem quase instantaneamente ao envio; elimina o delay das chamadas de vídeo, por exemplo
- Maior densidade de conexões: vai suportar mais dispositivos conectados em uma determinada área ao mesmo tempo
Aplicações possíveis: ampliar a internet das coisas (IoT), ou seja, produtos com tecnologia embarcada, em setores como transportes, telemedicina, educação a distância, cidades inteligentes, casas conectadas, automação industrial, agricultura de precisão, entre outros. Será possível, por exemplo, controlar todos os equipamentos eletrônicos de uma casa, controlar remotamente uma máquina que opera na lavoura, ou, ainda, monitorar plantas produtivas sem intervenção humana direta, por drones e realidade aumentada. O desempenho dos carros autônomos também deve avançar.
Quando o 5G vai chegar?
A implementação do 5G no Brasil vai começar pelas capitais. Segundo cronograma da Anatel, a tecnologia deverá funcionar nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal até julho de 2022. Para todas as demais cidades com mais de 30 mil habitantes, o prazo é julho de 2029.
A cobertura depende de maior infraestrutura: para o 5G funcionar, é necessário cinco vezes mais antenas do que o 4G. Pesquisa da Conexis Brasil mostrou que Porto Alegre é uma das poucas capitais brasileiras preparadas para receber a tecnologia.
Será preciso trocar de celular?
A maioria dos celulares ainda não tem 5G. Para ter o serviço, será preciso investir em aparelhos mais modernos e compatíveis com a tecnologia. Atualmente, os aparelhos que já comportam o 5G são os mais caros do mercado.
Quais modelos já são compatíveis?
Fabricantes de diversas marcas estão lançando modelos que comportam a nova geração de internet móvel. Motorola, Samsung, Xiaomi, Apple e Asus são algumas delas. Os preços ainda são mais altos que a tecnologia 4G. Os aparelhos da Motorola são considerados os mais acessíveis do mercado, com valor que pode variar de R$ 2 mil a R$ 8 mil, dependendo do modelo. Alguns exemplos são o Moto G50 5G, o Moto G 5G Plus e o Motorola Edge+.
Da linha da Samsung, são ao menos 10 modelos com a tecnologia anunciada. Galaxy Z Fold 3 5G, Galaxy A52 5G, Galaxy S21 Ultra 5G, Galaxy Note 20 e Galaxy Z Fold 2 são alguns dos mais comentados. Os valores também variam de acordo com a versão e são encontrados de R$ 3 mil a até R$ 14 mil.
Já os modelos da Apple que suportam a tecnologia incluem as variadas versões do iPhone 12 e do iPhone 13. Quanto melhor a versão, mais caro. Os valores podem chegar a R$ 13 mil.
Ao menos três aparelhos da chinesa Xiaomi são compatíveis com a tecnologia 5G. São o Mi 10T, o Redmi Note 10 5G e o Poco M3 Pro 5G. Os preços têm valores sugeridos de R$ 5,5 mil a R$ 7 mil.
O que está sendo leiloado?
Serão leiloadas quatro faixas de frequência: 700 megahertz (MHz), 2,3 gigahertz (GHz), 3,5GHz e 26GHz. As principais para a chegada do 5G são as de 3,5GHz e de 26GHz. Veja o que vai funcionar em cada uma delas:
- 700MHz: o principal uso é para o 4G. É sobra da licitação de telefonia móvel que aconteceu em 2014. Como a frequência é mais baixa, as antenas possuem um raio de cobertura maior. É adequada para estradas, áreas rurais, etc.
- 2,3GHz: faixa onde o bloco de frequência é menor, por isso a velocidade é mais baixa e é menos utilizada mundialmente. Não deve ser tão atrativa no leilão, mas é considerada um complemento para a faixa principal do 5G .
- 3,5GHz: faixa onde deve estar o maior interesse das operadoras. Tem uma banda maior e é a porta de entrada para o 5G. Também é a faixa hoje ocupada pelas parabólicas. As vencedoras terão de fazer a transferência do sinal de televisão para a banda ku.
- 26GHz: tem altíssima capacidade, mas a cobertura é ainda menor. Assim como a faixa 2,3GHz, é considerada complementar. Também pode ter uso para a banda larga fixa.
Quem são os interessados?
Dos 15 grupos interessados, cinco são empresas que já oferecem serviço de telefonia e dados móveis no Brasil – Vivo, Claro e TIM e as regionais Algar e Sercomtel. Também apresentaram propostas 10 empresas ou consórcio estreantes. Para especialistas do setor, a competição e a entrada de novos players podem acelerar o processo de implantação da tecnologia.
Quanto o leilão deve movimentar?
Na semana passada, a Anatel atualizou os valores estimados com o leilão do 5G. Se todas as faixas forem arrematadas, a negociação deverá movimentar R$ 50 bilhões. Desse total, R$ 3 bilhões em pagamento de outorgas irão para os cofres públicos.
Antes, calculava-se até R$ 10 bilhões em outorgas, mas o valor não incluía a previsão de R$ 7 bilhões de compromissos com a ativação de internet de alta velocidade nas escolas, que é uma das contrapartidas para quem arrematar a faixa de 26GHz. Veja as demais contrapartidas por faixas:
- 700MHz: levar internet a rodovias federais e localidades sem 4G.
- 3,5GHz: construção da rede privativa de comunicação da administração pública federal, instalação de rede de fibra óptica fluvial na região amazônica, transferência do sinal de televisão via antenas parabólicas, fibra óptica em uma lista de cidades até 2025.
- 2,3GHz: cobrir com 95% da área urbana dos municípios sem 4G.
- 26GHz: conectividade de escolas públicas de educação básica.