As chamadas de vídeo e as lives ganharam um espaço significativo em meio à pandemia de covid-19. Não raros, junto delas, os problemas de conexão, as imagens distorcidas, o atraso nas respostas. A melhora dessas transmissões via internet é só uma das resoluções que a chegada do 5G ao Brasil promete. A data de desembarque total da tecnologia ainda é um mistério, mas já tem ponto de partida. O edital do 5G foi lançado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e o leilão está marcado para o dia 4 de novembro.
A expectativa é de que o leilão movimente R$ 49,7 bilhões, incluindo R$ 10,6 bilhões pela outorga e outros R$ 39,1 bilhões em investimentos obrigatórios, como infraestrutura necessária e ampliação do número de antenas para suportar a nova tecnologia.
O certame vai ofertar quatro faixas de frequência: 700 megahertz (MHz), 2,3 gigahertz (GHz), 3,5 GHz e 26 GHz. As faixas são como “vias” por onde os dados trafegam. As principais para a implementação do 5G são as de 3,5 GHz e de 26 GHz. No leilão, o que as operadoras compram é o direito para explorar economicamente cada faixa, oferecendo os serviços de conexão em troca de contrapartidas.
– É o maior e mais completo edital de serviços móveis do Brasil, por ter várias faixas e muitas obrigações – avalia Marcos Ferrari, presidente executivo da Conéxis, entidade que congrega as operadoras e que considerou o edital satisfatório.
Há uma série de contrapartidas dependendo da faixa adquirida. Entre elas, o edital determina levar internet 4G para rodovias, atender localidades pouco ou não servidas com tecnologia 4G ou superior, instalar rede de fibra óptica fluvial na região amazônica, construir uma rede privativa de comunicação para a administração federal e levar internet móvel às escolas públicas de educação básica.
Também será necessário arcar com os custos para a transferência do sinal de televisão via antenas parabólicas, sistema ainda muito presente no interior do país, que hoje ocupa parte da frequência que será utilizada pelo 5G.
A conectividade nas escolas ficará à cargo das operadoras que adquirirem a faixa de 26 GHz. Já a rede pública privativa será responsabilidade das empresas que vencerem os lotes nacionais da faixa de 3,5 GHz. As vencedoras deverão criar uma entidade administradora, que funcionará como uma empresa. O objetivo é criar um canal seguro para a comunicação estratégica do governo.
Inovações
São poucos os países no mundo que já embarcaram na tecnologia de quinta geração. Alemanha, China, Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul são alguns dos que já experimentam as possibilidades do mais recente padrão tecnológico.
Mas que inovações o 5G permite? A principal característica são as altíssimas velocidades, mais de 1 gigabit por segundo, pelo menos 10 vezes mais rápido do que o visto no 4G. Isso possibilita uma série de aplicações, tanto focadas no consumidor final, com chamadas de vídeos mais claras, melhor resposta para jogos, produtos para casa conectada, quanto no setor produtivo, como linhas ainda mais automatizadas e agricultura de precisão. Sem falar em avanços na saúde, com cirurgias a distância, ou no transporte conectado, incluindo carros autônomos.
Peça importante é que o 5G diminui a chamada latência, que é o tempo necessário para receber uma resposta às informações entregues, ou seja, o atraso na transmissão. Nas chamadas de vídeo usando o 4G, muitas vezes a voz fica robotizada ou a imagem do vídeo trava. Com o 5G, isso não deve mais acontecer. Uma latência menor é fundamental para que os dados cheguem instantaneamente e possibilitem aplicações em tempo real, sem delay.
— O 5G permite muitas inovações, coisas que talvez neste momento nem se saiba porque ainda não têm aplicações desenvolvidas. Pelo que vemos em outros lugares que já utilizam, a velocidade de transmissão é muito maior, a estabilidade é maior e a latência é menor — explica Cristina Nunes, professora da Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Muitos avanços ainda vão surgir quando a tecnologia começar a ser aplicada.
– As aplicações são infinitas, isso olhando hoje. Quando foi lançado o 4G, não se imaginava que ia ter Ifood, Uber... Sobre as redes 4G surgiram uma infinidade de novos negócios que não eram imaginados na época. O 5G é a mesma coisa, só que multiplicado por muitos números na frente – acrescenta o presidente da Conéxis.
Avanços esperados para o 5G
- Maior velocidade: taxas de transmissão pelo menos 10 vezes mais rápidas.
- Baixa latência: menor tempo de atraso fará com que os dados cheguem quase instantaneamente ao envio, eliminando o delay das chamadas de vídeo, por exemplo.
- Maior densidade de conexões: vai suportar mais dispositivos conectados em uma determinada área ao mesmo tempo.
Aplicações possíveis
Ampliar a internet das coisas (IoT), ou seja, produtos com tecnologia embarcada em setores como transportes, telemedicina, educação a distância, cidades inteligentes, casas conectadas, automação industrial, agricultura de precisão, entre outros. Será possível, por exemplo, controlar todos os equipamentos eletrônicos de uma casa, controlar remotamente uma máquina que opera na lavoura ou, ainda, monitorar plantas produtivas sem intervenção humana direta por drones e realidade aumentada. O desempenho dos carros autônomos também deve avançar.
Quais faixas serão leiloadas e o que vai funcionar em cada uma delas
- 700 MHz: o principal uso é para o 4G. A faixa é uma sobra da licitação de telefonia móvel que aconteceu em 2014. Como a frequência é mais baixa, as antenas possuem um raio de cobertura maior. É adequada para estradas, áreas rurais, etc
- 2,3 GHz: faixa onde o bloco de frequência é menor, por isso a velocidade é mais baixa e é menos utilizada mundialmente. Não deve ser tão atrativa no leilão, mas é considerada um complemento para a faixa principal do 5G
- 3,5 GHz: faixa onde deve estar o maior interesse das operadoras. Tem uma banda maior e é a porta de entrada para o 5G. Também é a faixa hoje ocupada pelas parabólicas. As vencedoras terão de fazer a transferência do sinal de televisão para a banda ku
- 26 GHz: tem altíssima capacidade, mas a cobertura é ainda menor. Assim como a faixa 2,3 GHz, é considerada complementar. Também pode ter uso para a banda larga fixa.