Em um primeiro momento, a implementação do 5G no Brasil vai iniciar pelas capitais. Um cronograma foi definido pelo edital publicado pela Anatel, com a promessa de que a tecnologia deva funcionar nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal até julho de 2022. Para todas as demais cidades com mais de 30 mil habitantes, o prazo é julho de 2029.
Por isso, de início, a tendência é de que o acesso ao 5G seja mais restrito, primeiro em função da área de cobertura menor, abrangendo poucas cidades, e, segundo, pela compatibilidade de poucos celulares, o que vai demandar que o usuário adquira um novo aparelho. Segundo Cristina, uma das preocupações é se essa oferta de internet não será desigual:
– A periferia será que vai ser atingida? Para funcionar, precisa de cinco vezes mais antenas do que o 4G. A maioria dos celulares não têm 5G ainda, é preciso comprar equipamento mais caro e isso vai exigir investimento do consumidor – pontua Cristina Nunes, professora da Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Nesse sentido, os especialistas acreditam que a própria competição possa acelerar o processo de implantação. Para Eduardo Tude, sócio da consultoria Teleco, a disputa em leilão abre espaço para novos players explorarem a telefonia no Brasil.
– O leilão foi muito bem trabalhado no sentido de ter uma quantidade muito grande de frequências. Para oferecer esse serviço, cada operadora vai precisar de uma banda muito maior do que ela tem hoje. Nesse sentido, existem frequências para todo mundo comprar. Tanto as três maiores (Vivo, Claro e TIM – uma vez que a Oi está vendendo a sua unidade móvel e não deve participar), quanto a possiblidade de aparecerem novos players – observa Tude.
A questão é se esse espaço vai ser viável para os estreantes, já que a entrada no serviço móvel exige alto grau de investimento. Alguns já declararam interesse, como é o caso da Highline, que pretende comprar frequências para oferecer no atacado para outros players, mesmo caso da Brisanet, que atua na região Nordeste.
Dentre as grandes, a TIM foi a primeira operadora a fechar aprovação formal para participar do leilão e tentar arrematar uma das faixas de frequência. Em nota enviada à reportagem, a operadora avaliou que “o desenho do edital incentiva investimentos de longo prazo na nova tecnologia”, e que nas próximas semanas deverá completar os passos para a apresentação das propostas.
Conforme o edital, as propostas das operadoras devem ser apresentadas no dia 27 de outubro.
– Claro que a competição ajuda acelerar o processo. O edital trouxe um dispositivo que permite antecipar a migração do 5G, caso não tenha interferência com as antenas parabólicas. Em algumas localidades, onde não houver interferência, poderá ligar o 5G de imediato, o que pode antecipar o cronograma – diz Marcos Ferrari, presidente executivo da Conéxis, entidade que congrega as operadoras e que considerou o edital satisfatório .
Segurança
Outro debate que se abre é em relação à segurança. Segundo Cristina Nunes, professora da Escola Politécnica da PUCRS, como a internet será muito rápida, serão precisos mais recursos para blindar a proteção das redes. Mesmo tendo uma monitoração, talvez não dê tempo de o sistema bloquear ou agir em caso de ataques. Por isso, ela acredita que será necessário, inclusive, ter uma formação melhor de especialistas em segurança para a nova realidade tecnológica.
– No momento em que um criminoso entra na rede, em poucos segundos ele vai baixar todas as informações que quiser – alerta.
Avanços esperados para o 5G
- Maior velocidade: taxas de transmissão pelo menos 10 vezes mais rápidas.
- Baixa latência: menor tempo de atraso fará com que os dados cheguem quase instantaneamente ao envio, eliminando o delay das chamadas de vídeo, por exemplo.
- Maior densidade de conexões: vai suportar mais dispositivos conectados em uma determinada área ao mesmo tempo.
Aplicações possíveis
Ampliar a internet das coisas (IoT), ou seja, produtos com tecnologia embarcada em setores como transportes, telemedicina, educação a distância, cidades inteligentes, casas conectadas, automação industrial, agricultura de precisão, entre outros. Será possível, por exemplo, controlar todos os equipamentos eletrônicos de uma casa, controlar remotamente uma máquina que opera na lavoura ou, ainda, monitorar plantas produtivas sem intervenção humana direta por drones e realidade aumentada. O desempenho dos carros autônomos também deve avançar.
Quais faixas serão leiloadas e o que vai funcionar em cada uma delas
- 700 MHz: o principal uso é para o 4G. A faixa é uma sobra da licitação de telefonia móvel que aconteceu em 2014. Como a frequência é mais baixa, as antenas possuem um raio de cobertura maior. É adequada para estradas, áreas rurais, etc
- 2,3 GHz: faixa onde o bloco de frequência é menor, por isso a velocidade é mais baixa e é menos utilizada mundialmente. Não deve ser tão atrativa no leilão, mas é considerada um complemento para a faixa principal do 5G
- 3,5 GHz: faixa onde deve estar o maior interesse das operadoras. Tem uma banda maior e é a porta de entrada para o 5G. Também é a faixa hoje ocupada pelas parabólicas. As vencedoras terão de fazer a transferência do sinal de televisão para a banda ku
- 26 GHz: tem altíssima capacidade, mas a cobertura é ainda menor. Assim como a faixa 2,3 GHz, é considerada complementar. Também pode ter uso para a banda larga fixa.