O Brasil deu o primeiro passo para a implementação da internet 5G com o leilão das faixas de frequência realizado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Definidas as operadoras que vão realizar o serviço, o passo seguinte é o investimento e a instalação de infraestrutura necessária, como ampliação do número de antenas, para que a tecnologia esteja disponível.
A tendência é de que o 5G chegue aos poucos. Segundo cronograma previsto pela Anatel, a internet móvel de quinta geração chegará, primeiro, nas 26 capitais do país e no Distrito Federal. O prazo é até julho de 2022. Nas cidades com mais de 30 mil habitantes, a data salta para julho de 2029.
Para o 5G funcionar, é necessário pelo menos cinco vezes mais antenas do que o 4G, já que as ondas são mais curtas. Isso pode significar que, mesmo nas capitais, o sinal não esteja disponível de imediato em todas os bairros da cidade.
Além disso, as operadoras terão de fazer a transferência do sinal de televisão via antenas parabólicas, sistema ainda muito presente no interior do país, que hoje ocupa parte da frequência que será utilizada pelo 5G, o que pode demandar ainda mais tempo para a implementação.
— É algo de médio prazo. Mesmo para as operadoras que já têm as antenas, existe a questão de limpar o espectro e isso vai ser feito gradualmente. Já é uma limitação. Junta-se a isso o fato de que o alcance das antenas de 5G tem cobertura menor — avalia Eduardo Tude, sócio da consultoria Teleco.
O ritmo da implementação vai depender da realidade em cada localidade ou município.
— O edital trouxe um dispositivo que permite antecipar a migração do 5G, caso não tenha interferência com as antenas parabólicas. Em algumas localidades, onde não houver interferência, poderá ligar o 5G de imediato, o que pode antecipar o cronograma —afirma Marcos Ferrari, presidente executivo da Conexis, entidade que congrega as operadoras.
Porto Alegre é referência
Em pesquisa divulgada recentemente, a Conexis mostrou que apenas sete das capitais brasileiras estariam preparadas para receber a tecnologia do 5G. Porto Alegre é uma delas. O levantamento leva em consideração a lei municipal de antenas de cada capital e o grau de aderência aos dispositivos da legislação federal sobre o tema — a Lei Geral de Antenas (LGA), de 2015.
Em outubro, a capital gaúcha se tornou a primeira cidade do país a oferecer a Licença na Hora para instalação ou renovação de Estações Rádio Base (ERBs), com emissão instantânea de licenças para a instalação de antenas. O sistema foi desenvolvido pela Secretaria do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) em parceria com a Procempa.
A desburocratização do processo garante que a tramitação das licenças ocorra rapidamente — o que deve acelerar o desembarque do 5G. Agora, a solicitação é feita pelo portal de licenciamento. Um sistema automatizado analisa a documentação e expede a autorização na hora. Desde 2019, quando Porto Alegre se adequou à Lei das Antenas, foram emitidas 272 licenças, segundo a prefeitura.
No interior do Estado, a realidade pode ser um pouco diferente. O presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Eduardo Bonotto, cita que existem gargalos para uma implementação tão rápida e que há vários “vazios” dentro do Estado, com pequenos municípios tendo acesso ainda muito limitado à internet. A entidade prepara um levantamento para mapear a situação de cada cidade.
— Vamos fazer um diagnóstico apropriado em relação à adequação dos municípios à Lei das Antenas para então trabalhar onde estão os possíveis gargalos. E acompanhar se as contrapartidas estarão sendo cumpridas — disse Bonotto.
Novos nomes no mercado
A comercialização das frequências no leilão foi dividida em lotes nacionais e regionais. Isso abriu espaço para novas empresas entrarem no mercado de telefonia móvel. Claro, Vivo e TIM arremataram os blocos mais nobres e poderão ofertar 5G em todo o país, mas outras seis empresas estreantes também arremataram lotes e devem ampliar a concorrência no setor.
Os usuários vão poder continuar escolhendo qual operadora utilizar, assim como já ocorre hoje.
A Região Sul foi uma das mais disputadas no certame. Na faixa considerada principal para a implementação do 5G, a de 3,5 GHz, o Consórcio 5G Sul arrematou o lote de cobertura para a região que abrange os três Estados – Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
O Consórcio 5G Sul é formado pela Unifique, operadora de Santa Catarina, e a União Copel, do Paraná. Com isso, as empresas poderão atuar em todo o território dos três Estados.
Como contrapartida pela concessão, o grupo deverá obrigatoriamente levar o 5G a cidades com menos de 30 mil habitantes — comercialmente menos lucrativas e que, por isso, poderiam ficar descobertas caso não houvesse a exigência. Segundo a Unifique, a cobertura somente por este recorte abrangeria 423 municípios gaúchos, ou cerca de 85% das cidades do Estado.
Na avaliação do consultor Eduardo Tude, o grupo poderá tanto oferecer internet para o cliente final como também abrigar o serviço de outras operadoras móveis virtuais, as chamadas MVNOs. Esse modelo de negócio permite que empresas façam acordos com grandes operadoras para oferecerem sua própria operadora de celular. É o caso da rede varejista Magazine Luiza, por exemplo, que lançou serviço de telefonia com a marca Maga+.
— Ela não tem a sua rede. Ela compra no atacado o serviço e vende para os seus clientes. Tem os chips dela, toda a distribuição, mas a parte da rede, ela usa de uma operadora —explica Tude.
Desde 2017, a catarinense Unifique vem atuando para o consumidor final. E desde que abriu capital na bolsa de valores, neste ano, vem aumentando a presença no Rio Grande do Sul. A empresa adquiriu a TKnet, com sede em Taquari, que atende a 15 mil clientes e cinco cidades vizinhas. Em comunicado, a Unifique afirmou que os investimentos previstos possibilitarão o atendimento às antenas de 5G. Antes, a empresa já havia comprado a Naja Telecom, player com atuação na serra gaúcha.