Correção: a renda média do trabalhador no trimestre encerrado em agosto foi de R$ 2.489, e não R$ 2.771 como publicado entre as 9h44min e as 12h40min desta quarta-feira (27). O texto já foi corrigido.
A taxa de desocupação no Brasil ficou em 13,2% no trimestre encerrado em agosto, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados na manhã desta quarta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em igual período de 2020, a taxa de desemprego medida pela Pnad Contínua estava em 14,4%. No trimestre móvel terminado em julho, a taxa de desocupação estava em 13,7%.
A renda média real do trabalhador foi de R$ 2.489 no trimestre encerrado em agosto. O resultado representa queda de 10,2% em relação a igual período do ano anterior.
A massa de renda real habitual paga aos ocupados somou R$ 219,2 bilhões no trimestre até agosto, recuo de 0,7% ante igual período do ano anterior.
O país tinha 13,656 milhões de desempregados no trimestre encerrado em agosto, segundo os dados da Pnad Contínua.
O total de desocupados caiu 7,7% em relação ao trimestre móvel terminado em maio, com 1,139 milhão de pessoas a menos em busca de uma vaga. Em relação ao trimestre móvel encerrado em agosto de 2020, o número de desempregados caiu 1%, com 137 mil pessoas a menos na fila do desemprego.
Segundo Adriana Beringuy, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, a queda "significativa" no contingente de desempregados, especialmente na comparação com o trimestre móvel imediatamente anterior, se explica pelo avanço na ocupação, com geração de vagas formais e informais.
— A ocupação, tanto na comparação com o trimestre (móvel anterior) quanto no ano, foi o que permitiu a queda da taxa de desocupação. Houve uma expansão na ocupação que conseguiu fazer com que a taxa de desocupação cedesse — afirmou Adriana.
População fora da força de trabalho
A população fora da força de trabalho somou 73,371 milhões de pessoas no trimestre encerrado em agosto, 2,433 milhões a menos que no trimestre móvel imediatamente anterior.
Em relação ao mesmo período de 2020, a população fora da força diminuiu em 5,770 milhões de pessoas, queda de 7,3%.
Detalhamento da ocupação
Ainda de acordo com o IBGE, o país tinha 90,188 milhões de trabalhadores ocupados, entre formais e informais, no trimestre encerrado em agosto.
A população ocupada aumentou em 4% em um trimestre, o que indica a abertura de 3,480 milhões de postos de trabalho, entre formais e informais, na comparação com o trimestre móvel encerrado em maio. Em relação a um ano antes, o total de ocupados cresceu 10,4%, indicando a criação de 8,522 milhões de postos de trabalho, entre formais e informais.
Com isso, o nível da ocupação (porcentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar) foi de 46,8% no trimestre encerrado em agosto de 2020 para 50,9% no trimestre até agosto de 2021.
Segundo Adriana, houve aumento "bastante significativo" da ocupação, com geração de vagas formais e informais, num cenário de acentuação de um movimento que já vinha sendo observado nos trimestres móveis anteriores ao período encerrado em agosto, marcado para retomada gradual da normalidade nas atividades econômicas, em meio ao avanço da vacinação contra covid-19.
Apesar do aumento "bastante significativo" na ocupação em termos quantitativos, especialmente na comparação com o trimestre móvel até agosto de 2020, a pesquisadora do IBGE fez duas ressalvas. A primeira é que, do ponto de vista estatístico, a forte alta de 10,4% na população ocupada, ante um ano antes, se dá sobre uma base de comparação deprimida. No trimestre até agosto de 2020, a população ocupada atingiu os níveis mais baixos da série histórica da Pnad, iniciada em 2012, um ponto "bastante deprimido".
A segunda ressalva feita por Adriana tem a ver com a qualidade da retomada da ocupação. Segundo a pesquisadora, "indicadores associados" à ocupação ainda apresentam um quadro "desfavorável". O destaque negativo são os indicadores de formalização do trabalho e do rendimento médio do trabalhador.
— Há um predomínio ou uma importância muito acentuada do trabalho informal nesse processo de recuperação. Inclusive, é um dos motivos para a queda do rendimento — afirmou Adriana, referindo-se ao tombo de 10,2% no rendimento médio real do trabalhador.
Informais
O avanço da ocupação, com geração de vagas tanto formais quanto informais, foi um destaque do mercado de trabalho no trimestre móvel encerrado em agosto, mas os dados da Pnad Contínua mostram que a recuperação foi puxada pela informalidade.
Das 3,480 milhões de vagas criadas em um trimestre, 2,387 milhões foram em ocupações tidas como informais. Já dos 8,522 milhões de postos gerados na comparação como trimestre móvel terminado em agosto de 2020, 6,056 milhões são em ocupações informais, segundo o IBGE.
— É nítido que o que realmente contribuiu para a expansão da ocupação são os trabalhadores informais — afirmou Adriana.
Com o crescimento do trabalho informal, o país alcançou uma taxa de informalidade de 41,1% no mercado de trabalho no trimestre móvel até agosto, com 37,099 milhões de trabalhadores atuando informalmente. Ainda assim, esse contingente está abaixo dos níveis pré-pandemia. O auge desse contingente foi registrado em fins de 2019, quando o total de informais estava em torno de 38,8 milhões.
No grupo de ocupações tipicamente associadas à informalidade, 10,791 milhões de trabalhadores atuavam no setor privado sem carteira assinada, 987 mil a mais que no trimestre móvel imediatamente anterior, uma alta de 10,1%. Em relação ao trimestre até agosto de 2020, foram criadas 2,036 milhões de vagas sem carteira no setor privado, um salto de 23,3%.
Já o trabalho por conta própria, majoritariamente informal, ganhou 1,036 milhão de pessoas em um trimestre. Em relação ao patamar de um ano antes, há 3,888 milhões de trabalhadores por conta própria a mais, totalizando 25,409 milhões de pessoas, o recorde absoluto da série histórica da Pnad Contínua, mesmo considerando todos os trimestres móveis mês a mês.
No trimestre terminado em agosto de 2021, faltou trabalho para 31,135 milhões de pessoas no país, segundo os dados da Pnad Contínua.
Diante desse contingente, a taxa composta de subutilização da força de trabalho passou de 29,3% no trimestre até maio para 27,4% no trimestre até agosto.
O indicador inclui a taxa de desocupação, a taxa de subocupação por insuficiência de horas e a taxa da força de trabalho potencial, pessoas que não estão em busca de emprego, mas que estariam disponíveis para trabalhar. No trimestre até agosto de 2020, a taxa de subutilização da força de trabalho estava em 30,6%.
A população subutilizada em termos compostos caiu 5,5% ante o trimestre até maio, com 1,811 milhão de pessoas a menos. Em relação ao trimestre móvel até agosto de 2020, houve um recuo de 6,6%, menos 2,184 milhões de pessoas.
Dentro do contingente para o qual faltava trabalho, havia 5,343 milhões de pessoas em situação de desalento no trimestre encerrado em agosto. O resultado significa 368 mil desalentados a menos em relação ao trimestre encerrado em maio, um recuo de 6,4%. Em um ano, 508 mil pessoas a menos estavam em situação de desalento, queda de 8,7%.
A população desalentada é definida como aquela que estava fora da força de trabalho por uma das seguintes razões: não conseguia trabalho, ou não tinha experiência, ou era muito jovem ou idosa, ou não encontrou trabalho na localidade — e que, se tivesse conseguido trabalho, estaria disponível para assumir a vaga. Os desalentados fazem parte da força de trabalho potencial.
O total de trabalhadores com carteira assinada ficou em 31,039 milhões de pessoas no trimestre móvel encerrado em agosto.
A variação da população ocupada nessas condições aponta para a criação de 1,241 milhão de vagas no setor privado com carteira em um trimestre, avanço de 4,2% ante o trimestre móvel encerrado em maio. Na comparação com um ano antes, são 1,972 milhão de trabalhadores com carteira assinada a mais, alta de 6,8%.
Os dados são diferentes, tanto em termos de metodologia quanto de período de referência, das informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), registro administrativo de responsabilidade do Ministério da Economia, divulgadas na terça-feira (26).
Conforme o saldo de demissões e admissões do Caged, foram criadas 368.091 vagas de emprego formal em setembro, no mês seguinte ao trimestre móvel referente à Pnad Contínua divulgada nesta quarta-feira.
No acumulado até setembro de 2021, o saldo do Caged aponta para a criação de 2,513 milhões de vagas.
Nos nove primeiros meses do ano passado, sob os efeitos iniciais da pandemia de covid-19, foram extintos 558.597 empregos formais.
Setores
O comércio foi destaque na geração de vagas de trabalho, entre formais e informais, no trimestre móvel encerrado em agosto, segundo os dados da pesquisa. No intervalo de um ano, na comparação do trimestre móvel encerrado em agosto com igual período de 2020, foram 1,680 milhão de vagas a mais. Na comparação com o trimestre móvel anterior, foram 1,217 milhão de postos de trabalho a mais.
Ainda em relação ao patamar de um ano antes, no trimestre móvel terminado em agosto de 2020, houve ganhos de postos nas atividades de construção civil (1,349 milhão), informação, comunicação e atividades financeiras (881 mil a mais), alojamento e alimentação (886 mil) e outros serviços (306 mil). A agricultura ganhou 759 mil trabalhadores, enquanto a indústria em geral adicionou 991 mil postos. Transporte, armazenagem e correio geraram 522 mil vagas.
Na comparação com o trimestre móvel imediatamente anterior, o contingente de trabalhadores na construção civil cresceu em 620 mil. Também houve contratações na indústria (578 mil), alojamento e alimentação (424 mil), agricultura, pecuária, produção florestal pesca e aquicultura (217 mil).
A atividade informação, comunicação e atividades financeiras fechou 40 mil vagas. Também na contramão, a administração pública fechou 367 mil postos em um trimestre. Na comparação com um ano antes, porém, a atividade aponta geração de 115 mil vagas.
Considerando a posição na ocupação, o contingente de trabalhadores domésticos, grupo que foi destaque na perda de vagas em meio à pandemia, subiu 21,2% em um ano, com 965 mil trabalhadores a mais na comparação com o trimestre móvel terminado em agosto de 2020. Na comparação com o trimestre móvel terminado em maio deste ano, são 497 mil trabalhadores domésticos a mais, alta de 9,9%.
No total, 5,524 milhões de pessoas estão ocupadas no trabalho doméstico, formal ou informal, no país. A grande maioria (4,150 milhões) não tem carteira assinada, seja porque trabalha na informalidade, seja porque recebe por diárias, sem configurar vínculo.