O setor produtivo do Rio Grande do Sul observa com atenção os desdobramentos do caso Evergrande. O eventual calote da gigante chinesa do setor imobiliário e um agravamento da crise poderia afetar a economia do Estado, principalmente no âmbito das exportações, segundo especialistas. As fontes ouvidas por GZH afirmam que o efeito dependerá dos próximos passos em relação ao caso.
Após queda na esteira do temor mundial em relação ao fato na segunda-feira (20), o índice Bovespa, da B3, operou em alta nesta terça-feira (21). O Ibovespa fechou o pregão em alta de 1,29%, a 110.249,73 pontos. Enquanto isso, o dólar caiu 0,84%, após elevação no dia anterior.
professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do RS (UFRGS) Marcelo Portugal avalia que um estouro da bolha no caso Evergrande provocaria três efeitos na economia. O primeiro seria nas vendas de commodities, que seriam abaladas pela queda nas compras por parte da China, principalmente no caso dos metais. O segundo seria no consumo. Com mais pessoas desempregadas, a riqueza diminui, freando o consumo no país e, consequentemente, a exportação de produtos para a China, inclusive por parte do Brasil. O terceiro efeito ocorreria no sistema financeiro, diante dos débitos da empresa com bancos estrangeiros.
No caso do Rio Grande do Sul, Portugal avalia que o efeito maior seria no âmbito da perda de riqueza e arrefecimento do consumo no país asiático. Como o Estado não tem protagonismo na produção do minério de ferro, cadeias ligadas aos grãos e à proteína animal seriam as mais afetadas, segundo o economista.
— O chinês que perder o emprego vai comer menos carne de porco, menos carne de gado. Aí vai precisar de um rebanho menor, menos soja, menos milho, menos trigo. Como a China é um grande consumidor de alimentos, na medida em que as pessoas lá fiquem relativamente mais pobres, ou pelo menos uma parte da população, tem um efeito riqueza que diminui a demanda no mundo. E isso afeta todo mundo — explica Portugal.
O coordenador do Conselho de Comércio Exterior (Concex) da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Aderbal Fernandes Lima, também avalia que o principal efeito da crise da economia da China no Estado seria nas exportações. Principalmente na área de grãos. No entanto, o executivo avalia que a repercussão no Estado deve ser menor, pois o minério de ferro é o produto mais afetado pela instabilidade no mercado neste primeiro momento.
— Não acredito que o arrefecimento da demanda chinesa como um todo vá afetar muito o nosso mercado de proteína, porque eles vão continuar comendo. Eles têm dinheiro para isso. O grande estouro é no minério de ferro. Aqui para o Estado vai ter uma redução, mas não acredito que ela seja brutal como está sendo para o minério de ferro — projeta.
O dirigente estima que a diminuição de demanda por parte dos consumidores chineses ocorrerá independentemente da intervenção ou não do governo chinês no caso. O que deve mudar é o tamanho do impacto.
Lima estima que o segmento de pastas de madeira e papel também poderá sofrer com queda nas exportações no Estado. Outro ponto de atenção citado pelo dirigente da Fiergs é em relação às bolsas de valores. Lima afirma que os desdobramentos do caso na China têm efeito sobre os investimentos, causando oscilações nas bolsas, o que pode gerar impacto em algumas empresas gaúchas.
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antonio da Luz, afirma que os efeitos do caso Evergrande vão depender da postura do governo chinês em relação ao caso. Um socorro por parte do governo do país asiático gera um péssimo exemplo e uma quebra de confiança, mas diminui os impactos da crise nas economias globais, segundo o especialista. Já em um cenário pior, onde ocorre o estouro da bolha, todo o agronegócio sofreria, na avaliação do economista:
— A China é o nosso cliente em praticamente tudo o que a gente exporta. Então, toda a nossa produção está atenta ao que está acontecendo lá.
Luz afirma que, se o governo chinês não socorrer a Evergrande, existe o potencial de ocorrer consequências parecidas com as registradas em 2008 e 2009 na economia mundial. No entanto, ele não acredita em um cenário nesses moldes.
Período janeiro a junho de 2021 (primeiro semestre)
- Exportações totais do RS: US$ 9,5 bilhões
- Exportações totais do RS para a China: US$ 3,4 bilhões
- Participação das exportações para a China no total do RS: 35%
Principais produtos exportados pelo RS para a China no primeiro semestre
- Soja (em grãos): US$ 2,4 bilhões
- Carne de suíno in natura: US$ 303 milhões
- Celulose: US$ 127,5 milhões
- Fumo: US$ 103,8 milhões
Colaborou: Bruna Viesseri