O risco de quebra da incorporadora chinesa Evergrande, a segunda maior empresa do ramo no país asiático, ainda é um incógnita em relação aos seus possíveis efeitos nos mercados globais, mas, no Brasil, na Europa e em Nova York, já foram sentidos resultados negativos. O temor é de que a possível bancarrota da empresa ocasione calotes bilionários e arraste para a crise outras empresas, setores, bancos e investidores não só na China, mas no mundo.
Os mercados acionários do velho continente registraram pregão negativo nesta segunda-feira (20), quadro influenciado pela cautela com o caso da Evergrande, gigante do setor imobiliário da China que pode declarar default. Nesse contexto, ações ligadas a commodities estiveram sob pressão, em jornada ruim também para o setor bancário.
O índice pan-europeu Stoxx 600 fechou em baixa de 1,67%, em 454,12 pontos. As bolsas na China e no Japão não operaram, com feriados locais. Porém, nos mercados globais em geral, pesou a cautela com a Evergrande. Analistas têm ponderado se o eventual colapso da incorporadora poderia gerar impactos mais amplos.
Ações ligadas a commodities estiveram sob pressão. Entre as mineradoras em Londres, Antofagasta caiu 3,23%, BHP recuou 1,54% e Anglo American, 4,79%. A petroleira Eni cedeu 0,93% em Milão e a Iberdrola, 0,98%, em Madri.
Já em Nova York, a segunda-feira foi de forte queda nos principais índices acionários, reflexo do receio sobre o que poderá ocorrer com a Evergrande e seu elevado endividamento.
A Evergrande foi fundada em 1996 e galgou sucesso no mercado imobiliário chinês. A empresa construiu cerca de 1,3 mil complexos imobiliários em 280 cidades e tem planos para outros 3 mil. Atualmente, soma mais de US$ 300 bilhões em débitos abertos. E os juros estão rolando acima da capacidade de pagamento da empresa. Até quinta-feira (23), a Evergrande precisa pagar US$ 83,5 milhões só de juro de uma dívida, informa a colunista de GZH Marta Sfredo.
Faltam informações mais claras e transparentes sobre a real situação financeira da empresa. Também não está claro se o governo chinês poderá intervir para evitar a bancarrota, o que é considerado uma possibilidade. A Evergrande, além da sua atividade principal no ramo imobiliário, atua na alimentação, água engarrafada, em veículos elétricos e parques temáticos.
O grupo possui um serviço de TV por streaming com cerca de 40 milhões de clientes e um clube de futebol profissional, o Guangzhou Evergrande, já conhecido no Ocidente por contratações de jogadores por altas cifras. O técnico Luiz Felipe Scolari comandou o time chinês por quase três anos, entre 2015 e 2017, e o volante brasileiro Paulinho também atuou por lá.
Riscos para o Brasil
Um possível calote da incorporadora Evergrande, em análises preliminares de economistas, pode impactar no setor brasileiro de commodities. Isso porque as incorporadoras e também a China são grandes consumidores de matérias-primas brasileiras de exportação, como minério de ferro e cobre. Eventual colapso pode afetar as exportações do Brasil.
No pregão desta segunda, o Ibovespa manteve perdas acima de 3% em boa parte da tarde e fechou o dia limitando a baixa, aos 108.843,74 pontos (-2,33%), entre mínima de 107.520,14, menor nível intradia desde 3 de março (107.465,78), e máxima, da abertura, aos 111.434,67 pontos, com giro financeiro a R$ 38,7 bilhões.
Assim, na B3, o setor de mineração e siderurgia esteve, de novo, entre os mais penalizados da sessão, com Vale ON em queda de 3,30% - que superavam 5%, mais cedo - e CSN ON, de 3,09%, também moderada em direção ao fechamento do dia. As perdas entre os grandes bancos chegaram a 3,75% (Bradesco PN) no encerramento, enquanto Petrobras ON e PN cederam, respectivamente, 1,06% e 1,12%, após perdas superiores a 3% observadas até o meio da tarde.
Quedas nas bolsas europeias
A cautela com a situação de quebra e largo endividamento da Evergrande apresentou efeitos nesta segunda-feira. Na Bolsa de Londres, o índice FTSE 100 fechou em baixa de 0,86%, em 6.903,91 pontos, com Lloyds em queda de 4,22% e Barclays, de 4,27%. Em Frankfurt, o índice DAX recuou 2,31%, para 15.132,06 pontos. Entre os papéis mais negociados, Deutsche Bank caiu 7,65% e Commerzbank, 7,92%.
O índice CAC 40, da Bolsa de Paris, caiu 1,74%, a 6.455,81 pontos. Société Générale recuou 5,70% e BNP Paribas, 4,46%. O índice FTSE MIB, da Bolsa de Milão, fechou em queda de 2,57%, em 25.048,26 pontos. Entre os papéis mais negociados, Intesa Sanpaolo recuou 3,03% e Telecom Italia, 1,33%.
Em Madri, o índice IBEX 35 caiu 1,20%, a 8.655,40 pontos, com Santander em baixa de 4,80%. Na Bolsa de Lisboa, o índice PSI 20 recuou 1,62%, para 5.213,55 pontos.
Forte queda nas bolsas de Nova York
As bolsas de Nova York fecharam em forte queda nesta segunda-feira, no pior desempenho diário desde meados de maio, apesar de uma redução das perdas nos minutos finais de negociação. O primeiro pregão da semana foi marcado pela aversão a risco no Exterior, potencializada pelo temor de que os problemas de liquidez da Evergrande contagiem os mercados financeiros de forma generalizada.
Com a migração de investidores das ações para ativos mais seguros, como os Treasuries, o índice acionário Dow Jones caiu 1,78%, a 33.970,47 pontos, o S&P 500 recuou 1,70%, a 4.357,73 pontos, e o Nasdaq cedeu 2,19%, a 14.713,90 pontos. No pior momento da sessão, os índices chegaram a registrar baixas superiores a 3%.