O plano de obras do governo estadual com investimento de R$ 1,3 bilhão em infraestrutura viária é visto com bons olhos por fontes ligadas à engenharia civil e ao setor de transportes consultadas pela reportagem de GZH. Na análise deles, o pacote anunciado pelo Palácio Piratini não resolve o problema viário do Estado, mas representa um salto importante em melhorias. O plano do governo prevê recuperação de pista e acessos até dezembro de 2022 com recursos de privatizações.
O engenheiro civil e doutor em Transportes da UFRGS João Fortini Albano afirma que o pacote não resolve o problema de infraestrutura viária no Estado, que é complexo, mas vai “melhorar muito" o sistema. O professor destaca que o investimento previsto é substancial, com valores que não eram vistos há tempos no Estado, o que permite melhorias na segurança viária para os motoristas e no escoamento da economia gaúcha, segundo Albano:
— Acho que se tudo isso chegar ao fim como está sendo planejado, teremos um salto muito grande na infraestrutura rodoviária no Rio Grande do Sul e, por consequência, no desenvolvimento econômico e social do Estado.
Albano pondera que, como os valores fazem parte de uma previsão, sempre fica um asterisco em relação à finalização dos trabalhos, problema que já ocorreu em outras obras e intervenções no Estado.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs), Sérgio Mário Gabardo, diz que a iniciativa do governo é importante, mas avalia que o montante ainda é insuficiente em relação ao estado precário das rodovias. Citando alguns fatores, como a representatividade do Estado na produção de soja e de outros itens, Gabardo avalia que o Rio Grande do Sul deveria receber mais investimentos em infraestrutura viária. No entanto, o dirigente reconhece o esforço do Piratini, que acaba amenizando o problema nas estradas.
— O governo está tentando fazer o máximo que pode, mas o dinheiro é muito pouco. O governo está dando o passo conforme a perna alcança — salienta Gabardo.
Concessões
O plano do governo também prevê a concessão de 1.131 quilômetros de vias por 30 anos. O presidente do Setcergs afirma que a medida provoca melhorias nas vias e nos serviços prestados aos motoristas em um cenário com acordo claro e bem estruturado.
— Se tem uma rodovia que realmente funciona, pagar pedágio não é o problema — pontua o dirigente.
Albano destaca que a concessão, desde que bem planejada e sem tarifas exageradas, é uma solução diante de um Estado que não tem verba para garantir a conservação da rodovia e os serviços prestados no local.
Para o presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura, Paulo Menzel, não há clareza de que o plano de concessão pode se sustentar. Em entrevista à colunista Marta Sfredo, ele disse que o projeto de Leite o fez lembrar do plano Duplica RS, apresentado em 2008 pela então governadora Yeda Crusius.
— Os projetos são parecidos. Não discuto a necessidade nem a adequação: tem de fazer. A escolha dos projetos é correta, do ponto de vista logístico, é perfeito. O financiamento é uma grande dúvida — ponderou ele, dizendo também que ficará "muito surpreso" se o investimento público de R$ 1,3 bilhão se concretizar.
Também à colunista, o presidente do Sicepot-RS (sindicato das empresas de construção de estradas), Ricardo Lins Portella Nunes, classificou o programa como "equilibrado" ao incluir concessões ao setor privado e investimento públicos e ressaltou que é um "desafio" implantar o plano em 18 meses.
O presidente da Associação dos Usuários de Rodovias Concedidas do Rio Grande do Sul (Assurcon), David Vicenzo, avalia que o período de 30 dias de consulta pública sobre as concessões é curto:
— Teríamos que ter, no mínimo, seis meses de discussão. Estão enfiando goela abaixo da população. As estradas foram deixadas ao léu propositalmente para que dissessem "com pedágio é melhor".