O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), elevou o juro básico pela terceira vez consecutiva. Nesta quarta-feira (16), o colegiado anunciou a nova elevação da Selic em 0,75 ponto percentual, colocando a taxa básica em 4,25% ao ano.
O avanço já era esperado pelo mercado e por especialistas diante da continuidade de inflação alta no país e do comunicado do Copom na reunião anterior.
No comunicado, o Copom afirma que os indicadores recentes da economia brasileira continuam “mostrando evolução mais positiva do que o esperado”. No entanto, o grupo destaca que a “persistência da pressão inflacionária” é maior que o esperado, principalmente entre os bens industriais. O colegiado prevê novo aumento na taxa no próximo encontro:
“Para a próxima reunião, o Comitê antevê a continuação do processo de normalização monetária com outro ajuste da mesma magnitude. Contudo, uma deterioração das expectativas de inflação para o horizonte relevante pode exigir uma redução mais tempestiva dos estímulos monetários. O Comitê ressalta que essa avaliação também dependerá da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e de como esses fatores afetam as projeções de inflação”, informa trecho da nota.
O diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, afirma que a alta na Selic é uma medida amarga, ainda mais em um cenário de desemprego alto e de crescimento baixo da economia. No entanto, o executivo destaca que a intervenção do Copom é necessária para manter o equilíbrio na economia:
— Para o governo é ruim ter de subir juros, mas é pior deixar a inflação do jeito que está. Se o Banco Central fica omisso ou não responde de imediato essas altas, o risco de nós perdermos o controle da inflação é muito grande.
Em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência para o BC, fechou 8,06% no acumulado de 12 meses, acima do teto da meta para 2021: 5,25%.
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para tentar conter a inflação. Portanto, quando os preços começam a subir no país, a taxa é usada para tentar frear a demanda e desacelerar a inflação.
O professor de economia da UFRGS Flávio Fligenspan afirma que o Copom usa o mesmo remédio para duas doenças diferentes. No entendimento de Fligenspan, a alta da inflação no país ocorre diante de situação existente no lado da oferta e não simplesmente de demanda.
— A nossa inflação está alta por aspectos que vêm do outro lado, que não é o da demanda, mas sim o da oferta. Temos, por exemplo, preços de commodities, preços internacionais em alta. Isso está puxando preços de alimentos, do aço, que interfere nos automóveis, na construção civil, do cobre, que também afeta os eletrodomésticos — explica Fligenspan.
O professor da UFRGS avalia que o procedimento padrão do Banco Central consegue segurar os preços, mas de uma maneira errada, pois desestimula a atividade econômica em meio à tentativa de retomada.
O gestor e economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, avalia que a elevação da Selic é necessária diante do papel do Banco Central no controle da inflação. O economista afirma que a taxa de juro mais elevada não deve ter impacto substancial no cenário de investimentos no país.
— Acho que, em geral, a carteira de investimentos média continua praticamente a mesma. Claro que, com o aumento da taxa de juro, um pouco mais de investimento em renda fixa pode ser indicado — pontua Silveira.