Presença constante na mesa das famílias brasileiras, o ovo está mais caro neste ano. De janeiro a abril deste ano, o preço da dúzia do ovo branco aumentou 9,75% no varejo da Região Metropolitana, segundo o Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (Iepe), da UFRGS, fazendo com que os consumidores desembolsem mais por uma das principais alternativas de proteína tradicionalmente com valor mais em conta em comparação às carnes.
Os dados apontam que o valor médio da dúzia do ovo branco subiu de R$ 6,87, em janeiro, para R$ 7,54 em abril em feiras e supermercados da Grande Porto Alegre, crescimento de 9,75%.
Nas granjas do Rio Grande do Sul, o valor médio do ovo branco subiu 36,41% no Rio Grande do Sul, segundo dados da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav). Em janeiro, o preço da caixa com 30 dúzias de ovo branco na granja era de R$ 100,45. Em abril, esse valor subiu para R$ 137,03, segundo a Asgav. Na comparação de abril deste ano com o mesmo mês em 2020, a variação positiva foi de 3%.
O preço informado pela associação é o praticado na granja, na produção, e não o verificado na distribuição ou no varejo pelo consumidor final. Mesmo assim, essa alta pressiona os valores e as margens de lucro de distribuidores e supermercados.
O presidente da Asgav, José Eduardo dos Santos, diz que essa alta ocorre em razão do aumento de custos de produção, especialmente a ração:
— Acusamos, agora em março, no preço do milho, por exemplo, aumento de quase 100%. Sendo que o milho é 70% da ração das aves. No farelo de soja, que compõe cerca de 25% da ração, acusamos aumento também, na ordem de 70%, 75%.
Em relação ao cenário nos próximos meses, Santos afirma que eventual estabilização ou queda no preço vai depender dos itens que formam a base da ração.
Presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo explica que o repasse do reajuste no preço do ovo é menor no varejo em razão de fatores como redução na margem de lucro e uso de embalagens maiores e mais econômicas. Segundo o dirigente, o aumento no consumo do produto também permite preços diferenciados:
— Na bandeja, que o supermercado utiliza para promoção, praticamente se abriu mão de margem de lucro e é um produto que fica meio que no custo para atrair cliente.
Impacto no atacado
Na Ceasa, que conta com cerca de 10 empresas distribuidoras de ovos, a variação do preço da dúzia do produto também teve elevação nos últimos meses. Na última quinta-feira (13), o preço da dúzia do ovo vermelho no local era comercializada a R$ 5, 30,6% mais caro do que o verificado em 19 de janeiro (R$ 3,83). No atacado da Ceasa, são comercializadas, geralmente, caixas com 30 dúzias de ovos.
Um dos comerciantes da Ceasa, Celso Edgar Villa, 70 anos, proprietário da Villa Comércio de Ovos, afirma que o aumento dos preços acaba impactando na margem de lucro na hora de ofertar o produto no atacado. A validade curta do produto e o cenário de instabilidade econômica também acabam pesando na hora da venda, segundo Villa, que atua há 33 anos no local:
— Sou comerciante, compro e vendo, e é muito difícil repassar esse reajuste (das granjas) hoje. A nossa venda cai, nosso lucro diminui.
O empresário destaca que a queda no número de vendas para restaurantes, um setor bastante afetado pelas restrições de atividades em razão da pandemia pandemia, é outro fator com impacto direto nas vendas.
Consumidor sem opção
O ovo não é a única proteína que vem registrando elevação nos preços últimos meses. O valor da carne bovina também chama a atenção de consumidores na hora das compras. O levantamento do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da UFRGS mostra que os 10 cortes analisados apresentaram alta no Estado em abril na comparação com janeiro.
Na média de todos os cortes, o aumento foi de 10,66% no período. Costela, com 20,51% de acréscimo, lidera a pesquisa entre os cortes, seguida por vazio e maminha. A pesquisa usa o valor médio encontrado em açougues, casas de carnes e supermercados do Estado.
Professor de economia da UFRGS, Flávio Fligenspan avalia que, em um cenário de desemprego e renda baixa, o aumento no preço do ovo acaba encurralando os consumidores que já vinham substituindo outras proteínas, como a carne de gado e de frango, no cardápio:
— As pessoas vão mudando as opções, vão indo para o frango, para o ovo e, quando chega no ovo, não tem mais para onde ir no ponto de vista de proteína animal. Ele fica cercado. Sem saída.