
Uma combinação de fatores, que vão da demanda à variação cambial, tem feito com que o preço da soja, em plena safra brasileira, siga subindo na direção de recordes – no porto de Rio Grande, a saca de 60 quilos fechou a R$ 179 na sexta-feira (23).
Neste momento, um dos grandes impulsos tem vindo da Bolsa de Chicago, nos Estados Unidos. Na última semana, a cotação do bushel (medida que equivale a 27,2 quilos) rompeu a barreira dos US$ 15, alcançando o maior patamar desde junho de 2014. Nos contratos para maio, a semana fechou com alta de 6,20%, em US$ 15,3975.
O aumento acelerado reflete a mudança de foco. Com a colheita na América do Sul indo para o encerramento, o olhar se volta para o novo ciclo de produção da soja nos EUA, observa Luiz Fernando Gutierrez Roque, analista da Safras & Mercado:
– Daqui para frente, o grande fator é o clima americano. E, neste momento, existem ainda dúvidas sobre o tamanho da área (a ser cultivada).
O combustível da escalada veio das temperaturas baixas registradas, que podem atrapalhar a germinação.
O analista avalia que o ritmo da aceleração foi um tanto quanto exagerado, porque se está no início do ciclo, o que, em tese, dá tempo de contornar problemas.
– Mas o mercado está mais sensível em razão dos estoques apertados (de soja nos EUA) – pondera Roque.
A oferta mais ajustada em território americano se deve à redução da última safra, à melhora na relação com a China, com reflexo nas compras, e à demanda interna.
No Brasil, o peso da entrada da safra ainda não foi sentido. Chicago e câmbio acabam compensado a redução no prêmio (espécie de bônus pago). O resultado é um preço que segue em expansão, apesar do avanço das máquinas no campo.
Tempo de colheita
- A área colhida de soja no Estado chegou na última semana a 61%, segundo dados da Emater.
- Ainda de acordo com a instituição, no período de 19/4 a 23/4, o preço médio da saca de 60 quilos era de R$ 166,80. Em 23/4 de 2020, era de R$ 93,65.
- Levantamento da Associação das Empresas Cerealistas do Estado (Acergs) com associadas, nos dias 22 e 23, aponta que 45,9% da safra de soja foi comercializada. No milho, 56,6%.
- Presidente da entidade, Roges Pagnussat observa que, quando cenário é positivo, com preços em alta, o produtor tende a segurar um pouco mais a comercialização.
- Com a combinação de aumento em Chicago e variação cambial, poderá abrir mais espaço à venda.