Além da necessidade de investimentos em dragagem e sinalização, outro desafio para garantir êxito ao sistema hidroviário gaúcho é a reforma estrutural de barragens espalhadas pelo Rio Grande do Sul. Desde 2019, a recuperação de quatro represas equipadas com eclusas no Estado está na lista de projetos do Ministério da Infraestrutura, mas, até agora, nenhuma das obras teve início.
Construídas entre os anos de 1950 e 1970, as unidades são de responsabilidade federal e carecem de melhorias há anos. Um dos casos mais preocupantes é o da barragem de Amarópolis, em General Câmara, na Região Carbonífera. A barreira fica no Rio Jacuí, junto ao histórico distrito de Santo Amaro. No local, segundo o prefeito Helton Holz Barreto, 18 das 84 comportas estavam enguiçadas na última semana, permanecendo abertas.
— O nível do rio na barragem, que deveria ser de 5,4 metros, está em dois metros, porque as comportas não represam a água como deveriam. Em períodos de seca, a navegação fica prejudicada. A situação também afeta a pesca e a agricultura. É um problema antigo. A eclusa foi inaugurada em 1974 e nunca passou por reforma. Está se deteriorando — lamenta Barreto.
Diretor-presidente da Sociedade dos Mineradores de Areia do Rio Jacuí (Smarja), Sandro de Almeida diz que, atualmente, as embarcações só conseguem passar por essa eclusa quando chove bastante, o que eleva o nível d’água. A dificuldade tem demandado cada vez mais o uso de caminhões para transportar cargas que poderiam chegar à Região Metropolitana por hidrovia.
— Amarópolis já foi uma das eclusas de maior movimento do Brasil. Hoje, infelizmente, está bem longe disso — resume Almeida.
Em maio de 2019, uma comitiva gaúcha esteve em Brasília para tratar do assunto com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas.
— Levamos o tema até o ministro e ele se mostrou sensível, inclusive enviou um emissário a Santo Amaro, mas as coisas estão andando devagar — avalia o senador Lasier Martins, que participou da audiência.
Por ordem do ministério, no final de 2019, a Administração Hidroviária do Sul (AHSUL), ligada ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), publicou edital para a elaboração de projetos de recuperação e modernização de Amarópolis e de outras três unidades do tipo, todas sob sua jurisdição: Fandango, em Cachoeira do Sul, Anel de Dom Marco, em Rio Pardo, ambas no Jacuí, e Bom Retiro do Sul, no Rio Taquari.
Desde então, as comunidades aguardam a conclusão dos projetos e o início dos trabalhos. As quatro barragens eclusas são operadas por uma empresa terceirizada, que também cuida da manutenção, mas isso não inclui reformas de grande monta.
— Não sabemos quando essas obras vão começar. O que está andando, hoje, é a dragagem do Taquari, que foi liberada pelo ministro e é muito importante para a região, e o conserto dos portões da eclusa — relata o prefeito de Bom Retiro do Sul, Edmilson Busatto.
Em Rio Pardo, o Anel de Dom Marco tem condições melhores do que Amarópolis, mas os problemas vizinhos se refletem ali, replicando prejuízos.
— Para nós, é fundamental que essa situação seja resolvida o mais rápido possível — ressalta o prefeito de Rio Pardo, Edivilson Brum.
GZH entrou em contato com o Ministério da Infraestrutura e com o Dnit para saber mais detalhes sobre os projetos de recuperação e modernização das barragens, mas, até a publicação desta reportagem, não obteve retorno.
O que são barragens
- São barreiras artificiais construídas para reter grandes volumes de água em rios e mananciais, com diferentes fins, como abastecimento, produção de energia e navegação
O que são eclusas
- São obras de engenharia, em geral feitas junto a barragens, que permitem que embarcações possam navegar em cursos d’água com desníveis
Por que são importantes
- As barragens eclusas permitem a navegação em locais onde isso não seria possível e, nesses casos, são essenciais para viabilizar sistemas hidroviários
Barragens eclusas no RS
- Hoje, no Rio Grande do Sul, existem cinco estruturas do tipo. Quatro são de responsabilidade do Dnit e ficam nos rios Jacuí e Taquari. Todas precisam de reformas estruturais e da modernização de equipamentos (a maioria data da década de 1970)
- A quinta unidade é administrada pela Agência de Desenvolvimento da Lagoa Mirim (ALM), da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), e fica no Canal de São Gonçalo
- Segundo o diretor da ALM, Gilberto Collares, a estrutura opera normalmente, mas há o temor de falta de recursos. Além disso, a agência busca apoio do governo federal para projetos de manutenção preventiva