Com a queda nos níveis dos reservatórios das hidrelétricas brasileiras, o presidente da República Jair Bolsonaro pediu para que a população economize energia elétrica até que a situação se estabilize.
—Eu tenho certeza que você, que está em casa agora, pode apagar uma luz agora. Evitar o desperdício. Tome banho um pouco mais rápido, que ajuda também a deixar os reservatórios mais altos. As chuvas do final de outubro, começo de novembro, não vieram — disse Bolsonaro.
— Foi o período mais seco dos últimos 90 anos — disse Bento Albuquerque, ministro das Minas e Energia, que estava presente na live.
Segundo informou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável por monitorar o fornecimento de energia em todo o país, na terça-feira (1º), o nível dos reservatórios das principais hidrelétricas está entre os mais baixos da série histórica. Na segunda-feira (30), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) retomou o sistema de bandeiras tarifárias, com acionamento da bandeira vermelha patamar dois, o mais caro. O presidente Jair Bolsonaro chegou a citar risco de novos apagões nas redes sociais.
De acordo com o ONS, os reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste estão com 17,7% da capacidade, inferior aos 18,9% registrados em 2019. "Nos últimos anos, o país passou por uma escassez hídrica que não permitiu a total recuperação dos níveis dos reservatórios", disse o ONS.
Neste momento, o armazenamento só está superior aos 15,8% verificados em 2014. No mês seguinte, em 19 de janeiro de 2015, o Brasil sofreu um apagão em 11 Estados devido a picos de consumo associados ao forte calor. Na época, o governo insistiu que o sistema era robusto.
Medidas
Segundo o ONS, as afluências (quantidade de água que chega aos reservatórios das hidrelétricas) no Sudeste/Centro-Oeste registraram o terceiro pior resultado da série histórica entre maio e novembro deste ano - época em que se caracteriza o período seco. Mesmo para dezembro, quando tradicionalmente começa o período úmido, as chuvas estão muito abaixo da média. Para esta semana, até sexta-feira (4) o ONS prevê afluências médias de 37% da média histórica.
Para fazer frente a esse cenário, o ONS informou que, desde 17 de outubro, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), órgão presidido pelo Ministério de Minas e Energia (MME), já determinou o acionamento de termelétricas, a importação de energia da Argentina e Uruguai e a flexibilização de restrições das usinas de Itaipu, Ilha Solteira e da bacia do Rio São Francisco.
Logo ao assumir o comando do país, o presidente Jair Bolsonaro cancelou o horário de verão, medida que permaneceu neste ano. O Ministério das Minas e Energia, no seu site oficial, afirma que o impacto é "marginal" no consumo de energia elétrica do país.
Queimadas
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também estava na transmissão e relacionou a estiagem às queimadas, que bateram novos recordes em 2020.
—As queimadas que nós experimentamos este ano no Pantanal são reflexo dos últimos 70 anos mais secos. Em outras regiões, tivemos queimadas maiores, mas quanto mais seco, quente e ventos fortes, mais favorece as queimadas. É uma questão climática, meio óbvia até — declarou Salles.
De acordo com o Programa Queimadas, do Inpe, o Pantanal teve 2.856 focos de incêndio ao longo de outubro, o maior número já registrado para o mês. No total para este ano, o bioma também já teve recorde de queimadas, com 21.115 ocorrências, o maior número da série histórica. Até então, a máxima registrada era em 2005, quando houve 12.486 focos de fogo na região. Segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA), uma área de 4,2 milhões de hectares foi queimada no Pantanal - 28% do bioma consumido pelas chamas.
Ao mesmo tempo, foram 17.326 focos de incêndio na Amazônia, o que representa uma queda em relação ao mês anterior, que teve 32.017 ocorrências, mas também a quantidade suficiente para superar o total do ano passado. Apenas entre janeiro e outubro, foram 93.356 focos, ante 89.176, em 2019, e 68.345, em 2018.