Resultado da escassez de chuvas, o baixo nível de reservatórios de hidrelétricas acende alerta para o verão. Contudo, especialistas descartam, por ora, o risco de desabastecimento de energia no Rio Grande do Sul. O que já é certo é que a situação pesará no bolso do consumidor.
Na terça-feira (1º), entrou em vigor no país a bandeira vermelha patamar 2. Na prática, a medida busca inibir o desperdício de energia, já que encarece a conta de luz. Há cobrança de taxa extra de R$ 6,24 a cada cem quilowatts-hora consumidos.
Diretor de Energia da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura, Eberson Silveira lembra que, em períodos de poucas chuvas, usinas térmicas são mais acionadas para compensar as dificuldades.
Por isso, não enxerga, no momento, possibilidade de apagão. A contrapartida para o consumidor é o preço mais elevado da tarifa, porque as térmicas embutem maiores custos de operação.
— Não vejo risco de desabastecimento. Mas foi acesa uma luz para mostrar que o nível dos reservatórios está baixo — aponta Silveira.
O sistema elétrico nacional é interligado. Ou seja, a energia gerada em um subsistema pode ser transferida para outro. O principal deles é o Sudeste/Centro-Oeste, que responde por cerca de 70% da capacidade de armazenamento de água para geração de eletricidade no país.
Nesse subsistema, o nível dos reservatórios caiu para 17,41%, conforme dados disponíveis na tarde desta quarta-feira (2) no site do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
No Sul, o percentual baixou para 17,9%, em razão das dificuldades hídricas. O subsistema que contempla os gaúchos responde por 6,9% da capacidade de armazenamento no país.
A queda sentida nos reservatórios ocorre no momento em que a economia tenta recuperação. Com a crise gerada pela pandemia de coronavírus, empresas tiveram de paralisar operações. Isso resultou em menor demanda por energia, que agora atravessa ensaio de retomada.
Em outubro, o consumo cresceu 1,4% no país, segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Mas, no Rio Grande do Sul, houve redução de 10%, indica o mesmo levantamento.
— É prematuro falar em risco de desabastecimento. Estaríamos entrando agora em um período de chuvas na Região Sudeste, que teve um atraso. Porém, o consumo de energia elétrica ainda não chegou aos níveis normais. Não é algo catastrófico, mas acendeu uma luz de alerta — analisa Edilson Deitos, coordenador do Grupo Temático de Energia e Telecomunicações da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs).
Deitos acrescenta que o Rio Grande do Sul tem de buscar o "equilíbrio" em sua matriz energética. Ou seja, aproveitar seu potencial em áreas diversas, incluindo a eólica e a solar. A diversificação serviria para auxiliar o Estado em períodos de dificuldades com a escassez de chuvas, por exemplo.
No caso da energia eólica, reportagem de GZH mostrou em setembro que, após idas e vindas, o Rio Grande do Sul registra avanço em obras cruciais para destravar projetos de geração a partir do vento. Essas melhorias integram pacote com investimento previsto de R$ 5,3 bilhões em linhas de transmissão e subestações.
São necessárias para aumentar a capacidade de conexão da rede gaúcha. Há expectativa de que uma parcela das obras seja entregue ao longo de 2021.
Na terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro respondeu a um usuário do Facebook que a bandeira vermelha foi adotada para evitar o desabastecimento de energia no país. "A conta de luz vai aumentar. Obrigado PR (presidente da República)", ironizou o internauta.
Em seguida, Bolsonaro escreveu: "As represas estão (com) níveis baixíssimos. Se nada fizermos poderemos ter apagões. O período de chuvas, que deveriam começar em outubro, ainda não veio. Iniciamos também campanha contra o desperdício".
Sob cautela
O subsistema Sudeste/Centro-Oeste tem a maior capacidade de armazenamento de água para geração de energia no país. O baixo nível atual nas duas regiões preocupa porque o sistema elétrico nacional é interligado. Ou seja, parte da energia gerada no Sudeste/Centro-Oeste é escoada para outras áreas.
1) Capacidade máxima de armazenamento no país
Em MW/mês
- Sudeste/Centro-Oeste: 203,6 mil (70,1%)
- Sul: 19,9 mil (6,9%)
- Nordeste: 51,6 mil (17,8%)
- Norte: (5,2%)
- Total: 290,2 mil
2) Como estão os níveis de armazenamento de energia nos reservatórios de cada subsistema
- Sudeste/Centro-Oeste: 17,41%
- Sul: 17,9%
- Nordeste: 52,39%
- Norte: 28,72%
O subsistema Sul
- O nível atual de água armazenada para geração de energia nos reservatórios da Região Sul está em 17,9% do total, conforme informações disponíveis no site da ONS na tarde desta quarta-feira
- O subsistema é composto por cinco bacias principais: Capivari, Iguaçu, Jacuí, Paranapanema e Uruguai
A situação de cada bacia e seus reservatórios
1) Capivari: responde por 1,89% da capacidade total de armazenamento de energia do subsistema Sul
Reservatório que compõe a bacia e seu nível atual
- G. P. Souza: 12,08%
2) Iguaçu: responde por 51,21% da capacidade total de armazenamento de energia do subsistema Sul
Reservatórios que compõem a bacia e seus níveis atuais
- Salto Santiago: 26,08%
- Santa Clara-PR: 13,36%
- Segredo: 4,85%
- G. B. Munhoz: 2,86%
3) Jacuí: responde por 15,70% da capacidade total de armazenamento de energia do subsistema Sul
Reservatórios que compõem a bacia e seus níveis atuais
- Ernestina: 70,19%
- Passo Real: 44,75%
4) Paranapanema: responde por 1,31% da capacidade total de armazenamento de energia do subsistema Sul
Reservatório que compõe a bacia e seu nível atual
- Mauá: 14,72%
5) Uruguai: responde por 29,89% da capacidade total de armazenamento de energia do subsistema Sul
Reservatórios que compõem a bacia e seus níveis atuais
- Passo Fundo: 39,90%
- Machadinho: 16,17%
- Campos Novos: 9%
- Barra Grande: 3,9%
Fonte: ONS