Depois de atingirem o fundo do poço em abril, por causa dos impactos da pandemia de coronavírus na atividade econômica, a indústria e o comércio do Rio Grande do Sul engataram o quarto mês consecutivo de crescimento.
Indicadores divulgados nesta quinta-feira (7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em agosto, a produção industrial gaúcha avançou 5,2% frente a julho, enquanto as vendas do comércio tiveram expansão de 3,3% na comparação com o mês anterior.
Entre as 15 localidades analisadas na Pesquisa Industrial Mensal — Produção Física (PIM-PF), o Rio Grande do Sul apresentou o terceiro maior crescimento em agosto, ficando atrás de Santa Catarina (6%) e Ceará (5,7%). No país, o indicador avançou 3,3% no período.
— Já estamos em uma retomada. A indústria conseguiu restabelecer grande parte da produção. Isso era esperado, porque a origem da crise não foi econômica, mas foi uma crise de saúde que levou a atividade a ser paralisada — contextualiza André Nunes de Nunes, economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs).
Entretanto, frente a agosto de 2019, as fábricas gaúchas têm queda de 1,6% na atividade. Além disso, o tombo na soma dos oito primeiros meses do ano é de 12,4%, e no acumulado dos últimos 12 meses chega a 9,1%.
Entre os 14 setores analisados no Estado, nove tiveram crescimento na comparação com agosto de 2019 — o IBGE não divulga o recorte setorial da variação frente ao mês anterior. O resultado foi puxado pelo segmento de fabricação de bebidas, com alta de 22,5%. Na sequência aparecem, produtos de metal exceto máquinas e equipamentos (17,1%) e produtos de fumo (17%).
Por outro lado, as maiores quedas foram registradas nos ramos de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-46,6%), fabricação de veículos, reboques e carrocerias (-10,4%) e produtos de minerais não-metálicos (-7,4%).
Além disso, o economista constata que alguns setores vêm enfrentando dificuldades de abastecimento de matérias-primas, o que impacta no ritmo de recuperação. Passada a paralisação das atividades nas fábricas, algumas cadeias produtivas ainda estão se reorganizando para conseguirem atender às demandas.
Comércio
Já a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) indicou que o volume de vendas do comércio varejista ampliado (incluindo os ramos de material de construção e veículos, motocicletas, partes e peças) gaúcho cresceu 3,3% — abaixo da média nacional, que apurou avanço de 4,6%.
— O desempenho acaba refletindo a flexibilização (para abertura do comércio), com ampliação dos horários de atendimento — pondera Patrícia Palermo, economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e Serviços do Estado (Fecomércio-RS).
Ainda assim, Patrícia enfatiza que o indicador do IBGE é calculado com base no desempenho de empresas com 20 ou mais pessoas ocupadas. Neste sentido, parte do crescimento nas vendas do varejo ampliado pode ser justificado pela absorção da demanda de micro e pequenas empresas que acabaram fechando as portas.
Na comparação frente a agosto de 2019, o desempenho do Rio Grande do Sul tem retração de 1,9%, enquanto no acumulado entre janeiro e agosto de 2020 há queda de 7,6%. Em 12 meses, o recuo chega a 4,7%.
No entanto, em agosto, as vendas do comércio varejista (excluindo material de construção e veículos) caíram 0,2% no Rio Grande do Sul, enquanto no Brasil cresceram 3,4%.
Dos 10 segmentos analisados no Estado, quatro tiveram crescimento frente a agosto de 2019 - no comércio o IBGE também não divulga o recorte setorial da variação frente ao mês anterior. Neste contexto, os melhores resultados aconteceram nos ramos de material de construção (17,8%), móveis e eletrodomésticos (14,7%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios e fumo (7,5%).
Na contramão, aparecem livros, jornais, revistas e papelaria (–31,7%), tecidos, vestuário e calçados (-27,9%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-23,2%). No comércio, o IBGE também não divulga o recorte setorial da variação frente ao mês anterior.
O que vem pela frente
O economista-chefe da Fiergs, André Nunes, acredita que a recuperação no nível de produção da indústria deverá se manter nos próximos meses. Com a retomada da produção, a tendência é que as fábricas ampliem os quadros de funcionários. As empresas devem, gradativamente, reabrir os postos de trabalho fechados no auge da crise do coronavírus.
Ainda assim, é possível que as fábricas gaúchas só atinjam em 2021 o mesmo patamar verificado antes da recessão. A dificuldade de alguns setores para obter matéria-prima e a queda nas exportações de setores considerados chave, como veículos, produtos químicos e tabacos, acendem a luz amarela entre os industriais. As incertezas políticas e a situação fiscal do Brasil também podem influenciar o ritmo da retomada das fábricas, afetando decisões de investimentos.
Já no comércio, a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, aponta que o pior da crise ficou para trás, mas ainda pairam dúvidas sobre quão vigorosa será a recuperação das vendas no varejo. Neste contexto, o elevado desemprego e a diminuição dos valores pagos no auxílio emergencial tendem a achatar a renda das pessoas, diminuindo a capacidade de consumo.