Após a pandemia provocar destruição de empregos, o Rio Grande do Sul voltou a apresentar sinal de alívio no mercado de trabalho. Em agosto, o Estado abriu 7.228 vagas formais, indicam dados divulgados nesta quarta-feira (30) pelo Ministério da Economia. Trata-se do segundo mês consecutivo de desempenho no azul.
O resultado decorreu da diferença entre 72.244 contratações e 65.016 demissões. Conforme o ministério, o saldo é o melhor para agosto desde 2010. Na visão de analistas, sinaliza que os cortes em massa foram registrados no começo da crise, perdendo fôlego em seguida. Medidas de proteção de empregos ainda estão em vigor no país.
Mesmo com o desempenho positivo, os gaúchos ainda estão longe de espantar todos os efeitos indigestos do coronavírus. Prova disso é que, no acumulado do ano, o Rio Grande do Sul amarga fechamento de 88.582 postos de trabalho, quantia superior à população de um município como Lajeado, no Vale do Taquari (85 mil habitantes). Os dados integram o Novo Caged, o cadastro de empregos formais organizado pelo Ministério da Economia.
A pesquisa contempla apenas vínculos com carteira assinada. Ou seja, ocupações informais, como os populares bicos, não entram nos cálculos.
O movimento gaúcho pega carona no desempenho nacional. Em agosto, o Brasil abriu 249.388 vagas — também é o melhor saldo para o período desde 2010. No acumulado de 2020, o resultado ficou no vermelho, com perda de 849.387 postos.
— A boa novidade é que as demissões caíram, ficaram em patamar bem menor. As contratações estão subindo, mas ainda não atingiram o nível do passado. É um movimento esperado — observa o economista-chefe da Vokin Investimentos, Igor Morais.
Uma das questões que chamam atenção é que a divulgação do Caged coincidiu com a apresentação de outra pesquisa sobre mercado de trabalho. Nesta quarta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a taxa de desemprego subiu para 13,8%, no trimestre até julho, no país. É o maior índice desde o início do estudo, em 2012.
Além do período analisado, há diferenças na metodologia dos levantamentos. O cálculo do IBGE leva em consideração tanto trabalhadores formais quanto informais. De acordo com o instituto, uma pessoa é considerada desocupada quando perde o emprego e segue em busca de novas oportunidades. Com mais brasileiros à procura de trabalho, o indicador tende a seguir em elevação nos próximos meses.
— Os dados do Caged são bem-vindos. Mostram uma retomada do emprego formal. Mas também é preciso olhar para a pesquisa do IBGE, porque contempla uma parcela que cresceu muito nos últimos anos, a dos trabalhadores informais — pondera o economista Fábio Pesavento, professor da ESPM em Porto Alegre.
Setores
Os dados do Ministério da Economia detalham o desempenho por setores. No Rio Grande do Sul, a principal contribuição positiva em agosto veio da indústria, que abriu 3.586 vagas com carteira assinada. O comércio apareceu na sequência, com 2.203.
Dos cinco setores pesquisados, o único que ficou no vermelho foi o de serviços, considerado motor da economia. Houve fechamento de 58 empregos nesse ramo. No ano, a atividade acumula perda de 38.755 vagas no Rio Grande do Sul.
No recorte brasileiro, todos os setores tiveram desempenho positivo em agosto. A indústria registrou o maior saldo, de 92.893 novos empregos. Em seguida, apareceu a construção (50.489).
— A indústria demitiu muito com a crise e agora está retomando as contratações. A construção está voltando com força — destaca Morais.
Na apresentação do Caged, o ministro da Economia, Paulo Guedes, comemorou os resultados. Na visão dele, os dados mostram que o país está retomando os negócios em "V" — reação rápida após queda intensa. Guedes não teceu detalhes sobre a pesquisa do IBGE.
Tendências para os próximos meses
O cenário para os próximos meses no mercado de trabalho embute tanto indícios de melhora quanto pontos de preocupação. A reabertura da economia, por um lado, pode estimular novas contratações. Mas, mesmo com o provável estímulo, a taxa de desemprego deve seguir em elevação no país. É que, segundo analistas, mais pessoas tendem a sair de casa para buscar trabalho, pressionando o índice.
— Com a alta na geração de vagas formais, mais pessoas vão procurar emprego. Se elas não acharem, a taxa de desemprego vai subir. Hoje, só não é maior porque tem gente que ainda não está buscando vaga — explica o economista-chefe da Vokin Investimentos, Igor Morais.
Conforme os dados divulgados nesta quarta-feira pelo IBGE, o Brasil fechou o trimestre até julho com 13,1 milhões de desempregados. Já a população ocupada caiu para 82 milhões, menor nível desde o início da pesquisa, em 2012.
Além disso, a parcela fora da força de trabalho alcançou 79 milhões, o maior patamar da série. É esse o grupo que pode englobar pessoas que perderam o emprego recentemente, mas que ainda não buscaram novas oportunidades.
— Os dados de mercado formal, do Caged, caminham para recuperação. Por outro lado, a pesquisa do IBGE mostra aumento no desemprego. Então, é adequado não bater o martelo, ainda não falar que a economia está se recuperando de uma maneira mais rápida do que a imaginada. Esta não é uma crise tradicional — pontua o economista Fábio Pesavento, professor da ESPM em Porto Alegre.