Abalada por dificuldades de infraestrutura nos últimos anos, a energia eólica tem sopro de otimismo no Rio Grande do Sul. Após idas e vindas, o Estado registra avanço em obras cruciais para destravar projetos de geração de eletricidade a partir do vento. Essas melhorias integram pacote com investimento previsto de R$ 5,3 bilhões em novas linhas de transmissão e subestações.
O governo estadual e empresas envolvidas afirmam que os trabalhos seguem durante a pandemia, apesar das restrições impostas pelo coronavírus. As obras pertencem a cinco lotes de empreendimentos, leiloados em dezembro de 2018, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O possível aumento na capacidade de conexão do sistema traz alívio a empresários do Estado. Na visão deles, o pacote de novas linhas subestações pode representar o pontapé inicial para o desenvolvimento de todo o setor eólico nos próximos anos.
Ou seja, com a elevação no potencial de geração de energia, o Rio Grande do Sul teria mais condições de atrair, por exemplo, empresas que montam equipamentos usados em parques eólicos, incluindo aerogeradores. Mas, para isso, ainda há desafios no radar.
— É importante que haja uma política pública de estímulo à fabricação de aerogeradores no Estado — diz Ricardo Pigatto, presidente do conselho de administração da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel).
Para estimular o desenvolvimento do setor, o governo estadual aposta em uma combinação de fatores. Um deles é o lançamento, junto ao BRDE, de linha de crédito voltada a projetos de energia eólica, aponta o secretário do Meio Ambiente e Infraestrutura, Artur Lemos Júnior.
O secretário acrescenta que mudanças no código ambiental do Estado, sancionadas em janeiro, buscam facilitar a instalação de empreendimentos. Lemos ainda menciona que a reforma tributária proposta pelo Piratini pretende incentivar negócios ao simplificar a cobrança de impostos.
— Se conseguir movimento de expansão e investimentos em energia eólica, o Estado terá capacidade de se apresentar a fabricantes, para que as empresas tenham pontos de montagem em locais estratégicos do Rio Grande do Sul — analisa o secretário.
Nos últimos meses, o consumo de energia, gerada por diversas fontes, sofreu redução com a crise do coronavírus. Apesar de a pandemia ainda espalhar incertezas, a tendência é de reação na demanda em 2021, o que também pode beneficiar o segmento eólico, frisa Guilherme Sari, presidente do Sindicato das Indústrias de Energias Renováveis do Rio Grande do Sul (Sindienergia-RS).
— O ano de 2020 é bastante complicado, mas 2021 tende a ser um período de retomada. Esperamos um aumento natural no consumo de energia — afirma o dirigente.
Em razão das novas linhas de transmissão e subestações, Sari projeta maior interesse de empreendedores pelo setor eólico no Estado. Segundo ele, já existem movimentos nessa direção.
O mais recente, diz o dirigente, é a compra de parques eólicos que pertenciam à Eletrobras em Santa Vitória do Palmar e Chuí, no sul do Estado. A Omega Geração é a responsável pela aquisição. Anunciado no fim de julho, o acordo foi fechado por R$ 1,5 bilhão, incluindo a absorção de dívidas da estatal.
— Isso mostra o olhar de investidores para cá. Há um interesse de empresas em ampliar o portfólio no Sul. Todos estão na expectativa de que as obras de transmissão sejam finalizadas — pontua Sari.