A crise do coronavírus encolheu o tamanho da população com trabalho formal ou informal no Rio Grande do Sul. No segundo trimestre, o número de pessoas ocupadas caiu para 5,14 milhões no Estado. É o menor nível da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados a partir de 2012.
Na prática, isso quer dizer que o grupo de trabalhadores empregados perdeu 439 mil integrantes em relação ao primeiro trimestre (5,58 milhões). O número supera com folga a população de um município como Canoas, na Região Metropolitana (348,2 mil habitantes). As informações, divulgadas nesta sexta-feira (28), fazem parte da pesquisa Pnad Contínua Trimestral.
– Os números mostram que há menos gente com renda do trabalho na população gaúcha. Parte das pessoas passou a depender de recursos como os do auxílio emergencial – salienta Walter Rodrigues, coordenador da pesquisa do IBGE no Estado.
O comércio, um dos motores da economia, foi o setor que mais perdeu ocupados. Na passagem do primeiro para o segundo trimestre, o contingente de trabalhadores nesse ramo baixou de 992 mil para 874 mil. A redução foi de 118 mil postos.
A destruição de vagas, entretanto, ainda não aparece com a mesma intensidade no cálculo de desemprego. Isso ocorre porque, segundo a metodologia usada pelo IBGE, uma pessoa está desempregada quando perde o trabalho e segue buscando novas oportunidades, com ou sem carteira assinada. Quem foi demitido durante a crise, mas não voltou a procurar vagas, não pressiona ainda os dados de desocupados.
Conforme o IBGE, a população desempregada foi estimada em 535 mil no segundo trimestre. Significa acréscimo de 31 mil pessoas frente ao início deste ano (504 mil).
Com o resultado, a taxa de desemprego subiu 1,1 ponto percentual, para 9,4%, entre abril e junho. É a maior da série histórica no Estado. Mesmo assim, representa a terceira menor do país.
Entre janeiro e março, o indicador de desocupação estava em 8,3% no Rio Grande do Sul. No segundo trimestre de 2019, em 8,2%.
Cenário "extremamente desafiador"
A pesquisa também aponta que o grupo fora da força de trabalho avançou com a pandemia. Essa parcela engloba pessoas que não estão ocupadas nem desocupadas. Ou seja, tende a absorver quem perdeu o emprego, mas não voltou a buscar oportunidades.
No segundo trimestre, o contingente fora da força de trabalho chegou a 4 milhões. Teve elevação de 520 mil integrantes ante o período de janeiro a março (3,49 milhões).
– Já esperávamos resultado negativo para o segundo trimestre. É o período de maiores efeitos da pandemia sobre a atividade e econômica e o emprego. A taxa de desocupação poderia ter vindo até mais alta. Só não veio porque muitas pessoas saíram da força de trabalho, seja por medo da contaminação ou por acharem que não vão encontrar emprego neste momento – avalia Patrícia Palermo, economista-chefe da Fecomércio-RS.
A especialista acrescenta que a taxa de desemprego deve seguir em elevação nos meses seguintes, já que ferramentas usadas pelo governo federal para mitigar os efeitos da crise são momentâneas. Na visão da economista, o cenário é "extremamente desafiador":
– Quando as pessoas passam tempo fora do mercado de trabalho, é muito comum que percam competências. Então, elas têm de continuar se qualificando, estudando. Tem muita gente boa que ficou desempregada, com capacidade de se reinserir. Empresas com possibilidade de contratação têm a chance ímpar de contratar bons profissionais.