WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Os EUA anunciaram nesta terça-feira (16) que terão um candidato próprio à presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), atropelando os planos do Brasil de lançar um nome ao comando da instituição com apoio de Donald Trump.
O governo de Jair Bolsonaro acreditava que Trump apoiaria Rodrigo Xavier, ex-presidente do UBS e do Bank of America no Brasil, lançado publicamente pelo ministro Paulo Guedes (Economia) para o cargo que hoje é do colombiano Luis Alberto Moreno.
Segundo a reportagem apurou, Guedes havia avisado o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, sobre a candidatura de Xavier há semanas. Nesta segunda-feira (15), porém, o ministro voltou a falar com Mnuchin sobre a disputa e foi comunicado sobre a candidatura americana.
O governo brasileiro ainda não anunciou se vai desistir de lançar Xavier em benefício do indicado pelos EUA, mas, segundo pessoas que têm participado das negociações, isso é o mais provável que aconteça.
O indicado de Trump será Mauricio Claver-Carone, diretor do Conselho de Segurança Nacional para Assuntos do Hemisfério Ocidental, e um dos elaboradores das políticas mais linha-dura contra o governo de Nicolás Maduro, na Venezuela.
Em comunicado nesta terça, Mnuchin disse que a indicação de Carone "demonstra forte compromisso do presidente Trump com a liderança dos EUA em importantes instituições regionais e com o avanço da prosperidade e segurança no Hemisfério Ocidental."
A indicação de Carone quebra uma tradição de 60 anos em que os EUA não indicavam um candidato ao comando do BID -por já serem os maiores acionistas do banco.
Trump, portanto, resolveu romper os protocolos justamente por cima das intenções do aliado Bolsonaro, frustrando o plano do brasileiro.
Quem acompanhou as tratativas afirma que também contou o fato de o presidente americano não querer o ônus de defender um candidato considerado fraco e pouco conhecido em Washington, como é o caso de Xavier.
Sem um escopo amplo de atuação em organismos multilaterais, a avaliação é que o brasileiro ficaria muito associado ao próprio Bolsonaro, que tem tido sua imagem bastante prejudicada internacionalmente. Dessa forma, haveria um custo político para os EUA apoiarem um nome sem apelo na região.
A eleição do BID será feita este ano pela assembleia de governadores da instituição. Os EUA têm 30% dos votos, enquanto o Brasil tem 11%, o segundo maior participante. Para vencer, é preciso alcançar a maioria dos votos e ter 15 dos 26 apoios regionais.
O mandato do presidente do BID é de cinco anos e, portanto, a linha-dura de Carone permaneceria à frente da instituição mesmo que Trump não seja reeleito em novembro.
Caso seguisse a habitual rotação com presidentes de países que ainda não presidiram o BID, candidatos do Brasil ou da Argentina seriam os com mais chance de receber apoio significativo na disputa deste ano.
Com o esquerdista Alberto Fernández presidindo a Argentina, o Brasil avaliou que poderia ter mais um ativo na busca pelo apoio de Trump, mas o presidente americano, mais uma vez, indicou que seus interesses estão acima de qualquer tipo de aliança com outros países.